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Mesmo mortas, mulheres são abusadas sexualmente em funerárias e IMLs

Nina denunciou o caso que ficou conhecido como Festa no IML.

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Imagem ilustrativa da notícia Mesmo mortas, mulheres são abusadas sexualmente em funerárias e IMLs camera Funcionárias de funerárias e IMLs denunciam casos aterrorizantes de necrofilia pelo Brasil. | Reprodução

Nina Maluf e o companheiro Vinícius Cunha, que trabalham em uma funerária no Rio Grande do Sul, deram publicidade ao caso que ficou conhecido como Festa no IML, após denunciarem à Polícia Federal e ao Ministério Público que pessoas abusam sexualmente de cadáveres femininos em Institutos Médicos Legais (IMLs) e em funerárias, no Brasil. Agora, eles vem sofrendo ameaças de morte. As informações são do portal Metrópoles.

Segundo Nina, quase 100 dias após a denúncia, nada foi feito contra as pessoas que praticam, incentivam ou faziam piadas sobre esse crime. Ela lamenta ainda, que "as denúncias foram simplesmente ignoradas pelo meu segmento e pelas autoridades", além de ter sido "ameaçada de morte por gente perigosa".

Piada

Dias após a denúncia de Nina se tornar pública, um perfil no Facebook apontado como sendo do criador do grupo Festa no IML afirmou que o conteúdo era de humor e que nenhuma imagem seria real.

Grupos em redes sociais e WhatsApp incentivam estupro de mortas

Segundo o perfil, as fotos de mulheres jovens e bonitas teriam morrido em situações como acidente de carro e suicídio. O autor do post, então, comemorava que ela iria parar no IML. “Qualquer um pode dizer que é médico, legista, ou o que for. É tudo fake news”, escreveu o perfil.

O grupo foi retirado do ar, após a imprensa dar publicidade ao caso.

Procura por cursos

Nina é tanatopraxista – a pessoa que prepara cadáveres para o funeral – e atua na área de necromaquiagem e reconstrução facial. Nos casos em que o caixão precisa estar fechado durante o velório, por exemplo, ela entra em cena para que isso não seja necessário.

Nina tem 15 anos de experiência em funerárias. Segundo ela, escutou uma vez, na empresa que trabalhava, "homens falando sobre uma menina de 24 anos que tinha morrido por suicídio. Toda depilada, nossa que peitão, baita de uma gostosa". Nina conta que aquilo a irritou tanto, "que botei todo mundo para fora e fiquei sozinha preparando o corpo dela”.

De acordo com Nina, que também é professora e oferece cursos para novos profissionais, a procura por cursos de tanatopraxista aumentou nos últimos anos e segundo ela, isso "coincide com a popularização desse conteúdo pornográfico violento". Para ela, há "muitas pessoas ali nitidamente mal intencionadas, querendo realizar um desejo íntimo e pessoal”.

Necrófilo preso

Segundo Nina, um dos homens dos homens que compartilhava conteúdos e foi denunciados por ela foi Wanderley dos Santos Silva, 52 anos, maqueiro exonerado do serviço público em Manaus após ter sido flagrado abusando de um cadáver feminino que aguardava exame, em 24 de novembro de 2019.

O maqueiro foi pego por um perito criminal que estava de plantão no dia do ocorrido, que teria ido à sala de necropsia coletar dados sobre um cadáver e acabou encontrando o maqueiro sobre o corpo da mulher. Wanderley e outro colega já haviam deixado o plantão, saíram para ver o jogo, e voltaram bêbados depois, foi quando o flagrante ocorreu.

Maqueiro do IML é flagrado transando com cadáver e é exonerado

Um mês após o caso ser noticiado no Brasil inteiro, o diretor do Departamento de Polícia Técnico e Científica (DPTC), Lin Hung, informou que seriam instaladas câmeras na sala de necropsia do IML. Segundo funcionários, a promessa foi cumprida e câmeras estão funcionando.

Corpo de mulher é desenterrado e estuprado após sepultamento

Outro crime que chocou o país, também no ano passo, ocorreu em Gravataí (RS). Policiais encontraram uma sepultura aberta no Cemitério Municipal de Gravataí, e, a metros dali, o cadáver de uma mulher, de 49 anos, com sinais de abuso. Ela foi retirada do túmulo e jogada em um matagal após o crime. A calcinha dela, além de pedaços do vestido, estava na trilha que levava ao local. Até hoje, o culpado nunca foi encontrado.

Até mortas mulheres precisam de segurança

A perita criminal Gisele Barreto, que há 10 anos desempenha essa função em Manaus, explica que os casos de necrofilia em IMLs "normalmente, são denúncias que vêm acompanhadas de provas. É quase impossível desacreditar".

Segundo ela, outro ponto destacado é que "o ambiente é quase 100% dominado por homens". Outra ponto, que segundo ela, facilita esse tipo de ação é "a probabilidade de não ter câmera, principalmente nos interiores".

A Associação Brasileira de Medicina Legal e Perícias Médicas (ABMLPM) informou que repudia qualquer ação que configure vilipêndio de cadáver.

Sobre a denúncia feita por Nina, o Ministério Público do Rio Grande do Sul, por meio da Assessoria de Imprensa, informou que gerou o expediente RD.00849.00364/2020. “Após análise da 21ª Promotoria de Justiça, a documentação será encaminhada ao Departamento de Polícia Metropolitana para investigação dos fatos”, traz a nota enviada ao Metrópoles.

Exemplos de posts da página no Facebook

A Assessoria de Imprensa da Polícia Federal (PF) declarou que a PF não se manifesta sobre “eventuais investigações em andamento”. Não informou, porém, se há ou não processo aberto para apurar os casos mencionados por Nina. O Código Penal prevê o crime de vilipêndio a cadáver, com penas que variam entre um e três anos de prisão, além de multa.

A necrofilia, uso de cadáver como objeto sexual, é considerada pela medicina como uma parafilia. O termo é usado para definir cada um dos transtornos que se caracterizam pela preferência ou obsessão por práticas sexuais socialmente não aceitas.

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