No embalo frenético que antecede o fim do ano, a Black Friday já se consolidou como um evento que mistura expectativa, correria e uma promessa irresistível: encontrar grandes ofertas sem sair de casa. Mas, enquanto o e-commerce cresce e bate recordes, especialistas chamam atenção para um cenário menos glamouroso: o das fraudes, armadilhas digitais e estratégias de criminosos que se aproveitam do volume de compras. Nesse ambiente, afirmam, o consumidor precisa se apoiar em três pilares que parecem simples, mas fazem toda a diferença: planejamento, pesquisa e desconfiança. Só assim a data se mantém vantajosa, e não se transforma em dor de cabeça.
A Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) estima que a Black Friday deste ano deve movimentar R$ 13,3 bilhões no comércio virtual, um crescimento de 15% em relação a 2024. Diante de números tão expressivos, Lucas Zandona, professor do curso de Direito da Estácio e especialista em direito do consumidor, reforça um método de cinco etapas para que o consumidor navegue com segurança pelas promoções: “planeje, pesquise, desconfie, verifique e acompanhe".
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PLANEJAMENTO E PESQUISA
Zandona explica que o primeiro passo é planejar-se: definir prioridades, estabelecer um limite de gastos e evitar decisões por impulso. Em seguida, a pesquisa entra como ferramenta fundamental. Comparar preços em diferentes lojas e analisar a variação dos valores nas semanas anteriores ajuda a descobrir se a oferta é verdadeira ou apenas uma maquiagem de preços. “Desconfie de descontos muito fora da média. Mesmo em uma campanha promocional como a Black Friday, é improvável que uma geladeira smart, integrada à Alexa, tenha desconto de 80% ou 90%”, ressalta.
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O especialista reforça que o Código de Defesa do Consumidor garante o cumprimento da oferta anunciada. Isto é, o menor preço encontrado deve ser respeitado, independentemente do canal em que foi divulgado.
VERIFICAÇÃO DE IDONEIDADE DAS LOJAS
O quarto passo, segundo Zandona, é um dos mais decisivos: verificar a idoneidade da loja. Ele recomenda checar informações no Procon e Reclame Aqui, além de observar se a empresa possui o selo "Black Friday Legal", concedido pela Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico. O selo indica que a loja segue o Código de Ética da entidade, que estabelece boas práticas como transparência nos preços, garantia de estoque e compromisso com a boa-fé.
O QUE FAZER DEPOIS DA COMPRA
Com a compra feita, o consumidor precisa acompanhar o pedido e guardar todos os registros - como e-mails, número de protocolo e comprovantes. Zandona lembra que, durante a Black Friday, valem as mesmas regras de garantia e troca aplicadas ao restante do ano. Produtos não entregues no prazo dão direito ao reembolso total, e itens com defeito devem ser reparados ou substituídos.
Para bens duráveis, o prazo para reclamar de vícios é de 90 dias; para não duráveis, 30 dias. O fornecedor tem 30 dias para solucionar o problema. Caso não o faça, o cliente pode exigir a troca ou a devolução integral do valor pago.
Além disso, o direito de arrependimento - exclusivo para compras online - permanece válido: até sete dias após o recebimento, sem necessidade de justificativa. "O consumidor deve receber de volta o valor integral, incluindo custos de frete e instalação, e a devolução deve ser imediata, inclusive para compras no cartão de crédito", destaca o professor.
GOLPES DIGITAIS: PHISHING E SITES FALSOS
Se a legislação protege o consumidor, o ambiente digital exige cuidados adicionais. Eder José Cassimiro, professor da Estácio e especialista em segurança da informação, reforça que as fraudes estão cada vez mais sofisticadas e costumam vir disfarçadas em promoções tentadoras. "Desconfie do ‘bom demais para ser verdade’. É assim que muitos golpes se iniciam", alerta.
Entre as práticas fraudulentas mais comuns está o phishing. Cassimiro explica que o golpe funciona como uma pescaria: o criminoso envia um link falso por e-mail oferecendo uma oferta irresistível. Ao clicar, a vítima pode ter dados pessoais e bancários roubados. A orientação é sempre digitar o endereço do site no navegador, em vez de clicar em links enviados.
Outro sinal de alerta são erros de português e páginas mal formatadas. Grandes lojas costumam ter comunicação impecável, enquanto criminosos, muitas vezes, cometem descuidos básicos.
Cassimiro também chama a atenção para sites falsos que usam domínios muito parecidos com lojas oficiais, substituindo letras por números - como trocar o "o" por "0!". Verificar se o site possui protocolo HTTPS e o ícone do cadeado é fundamental para garantir que os dados estão protegidos.
FORMAS DE PAGAMENTO, SENHAS E AUTENTICAÇÃO
O especialista destaca ainda que métodos seguros de pagamento, como cartão de crédito, oferecem mais garantias ao consumidor, especialmente por permitir estornos em caso de fraude. Quando não for possível usar o cartão, emitir um boleto pode ser uma alternativa segura. Como ele tem validade mínima de 24 horas, o cliente ganha tempo para verificar a autenticidade da oferta antes de pagar. Se desistir, basta não efetuar o pagamento.
A segurança das contas também depende de boas práticas: criar senhas fortes, misturando caracteres especiais, números e letras maiúsculas e minúsculas, além de evitar dados pessoais e sequências simples. Cassimiro recomenda ainda o uso de autenticação multifator e manter dispositivos sempre atualizados, já que atualizações corrigem falhas exploradas por golpistas.
ENTRE OFERTAS E RISCOS
Com o aumento do fluxo de consumidores e promoções que pipocam a cada segundo, a Black Friday se mostra um terreno fértil tanto para oportunidades quanto para golpes. Especialistas concordam: o melhor desconto é aquele que não compromete a segurança. Planejar, pesquisar, verificar e desconfiar são mais do que recomendações - são ferramentas indispensáveis para aproveitar o período com tranquilidade.
Em tempos de promoções reluzentes e links sedutores, a data revela que nenhuma oferta vale o risco de transformar um clique ingênuo em prejuízo. A melhor Black Friday é aquela em que o consumidor fecha a compra com a certeza de que economizou sem perder o sono nem a segurança.
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