plus
plus

Edição do dia

Leia a edição completa grátis
Edição do Dia
Previsão do Tempo 30°
cotação atual R$


home
BIOECONOMIA E SUSTENTABILIDADE

Açaí e bioeconomia: do caroço ao sequestro de carbono

Estado pode transformar resíduo do fruto em biochar, técnica reconhecida internacionalmente por sequestrar carbono e impulsionar a bioeconomia na Amazônia

twitter Google News
Imagem ilustrativa da notícia Açaí e bioeconomia: do caroço ao sequestro de carbono camera O Pará, como maior produtor de açaí do planeta, pode mostrar ao mundo durante a COP30 que a bioeconomia é um caminho promissor para problemas reais da Amazônia e do mundo | Reprodução/X

Um dos estados de maior expressividade cultural e diversificada atividade econômica do Brasil, o Pará, vem se preparando para mostrar ao mundo seus planos para ser também referência bioeconomia do futuro. Uma economia que, apesar de desafios, gera alto valor agregado a partir da riqueza de seu bioma e do trabalho de seu povo, que incentiva a inovação e o empreendedorismo com uma marca socioambiental positiva. Estamos falando de bioeconomia, de sistemas circulares com participação da comunidade local, de soluções baseadas na natureza e de remoção de carbono. Nada novo para o povo paraense, mas ainda com um grande potencial a ser concretizado.

Me lembro de uma história marcante sobre dois grandes orgulhos do Pará: o açaí e seu povo. Há alguns anos, uma estudante do ensino médio de Moju, cidade próxima da capital Belém, ganhou mais de uma dezena de prêmios na principal feira de ciências do País, com um projeto de tijolo feito com o caroço do açaí. Na base das conquistas da estudante, uma professora de ciências obstinada em provar aos seus alunos o valor do conhecimento para lidar com os desafios do dia a dia.

Como é sabido, a destinação do caroço do açaí é um desses desafios e foi pouco utilizado como matéria-prima de valor agregado. Na verdade, ainda o é, mas até dez anos atrás era praticamente um vilão ambiental, com seu despejo irregular assoreando igarapés - por vezes utilizado para aterrar áreas alagadas que posteriormente receberam moradias. Este foi motivo de explosões a partir do gás metano gerado por esse aterramento, uma vez que é uma matéria orgânica debaixo do solo, submetida a altas temperaturas vindas da atmosfera, entre outros fatores.

Conteúdo relacionado:

A história da professora Daniele Siqueira e da então estudante Francielly Barbosa ganhou o Brasil e deu visibilidade para o problema da biomassa gerada pelo resíduo do açaí. Este tema também foi explorado a fundo pela ciência e indústrias têm utilizado o insumo para gerar energia. Bom, isso é certamente um avanço, mas o problema é que remete a um tipo de solução do século passado, pois muitas vezes utiliza-se a incineração e a emissão de toneladas de gases de efeito estufa na atmosfera. E sabemos que o Pará pode mais.

Pode, porque o estado reúne condições de ser um produtor relevante de biochar, hoje uma das principais e mais eficazes soluções de retenção de carbono no solo, segundo o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, na sigla em inglês). Inspirado na Terra Preta da Amazônia, o biochar é um poderoso condicionador de solo, natural, produzido a partir de resíduos de biomassa que permite reter umidade e aumentar a troca de nutrientes entre planta e solo, o que amplia a produtividade das lavouras e reduz o consumo de água e a necessidade de fertilizantes químicos. Uma solução baseada na natureza, com alto valor agregado e com potencial de ampliar a renda da cadeia do açaí como um todo.

Quer mais notícias de sustentabilidade? Acesse o nosso canal no WhatsApp

Inclusive, recentemente, o biochar foi reconhecido na maior competição internacional sobre remoção de carbono, o XPRIZE Carbon Removal, financiada pela Musk Foundation. O biochar foi reconhecido como uma das duas melhores soluções mundiais para sequestrar carbono na luta contra as mudanças climáticas, concorrendo com mais de 1300 experiências, de 88 países.

Foi a NetZero, uma organização que atua no Brasil, que levou o prêmio XPRIZE com seu modelo industrial e socioambientalmente responsável de produção de biochar a partir de resíduos agrícolas. A sua tecnologia sequestra de forma estável o carbono que seria emitido na atmosfera pela decomposição de biomassa, evitando o avanço das mudanças climáticas. O modelo circular Netzero já gera ativos importantes nos territórios onde atua, que inclui produtores rurais e familiares em Minas Gerais e no Espírito Santo.

O Pará, como maior produtor de açaí do planeta, pode mostrar ao mundo durante a COP30 que a bioeconomia é um caminho promissor para problemas reais da Amazônia e do mundo, contribuindo para o reconhecimento da região como provedor global de inovação. Produzir biochar com o resíduo do açaí é uma solução viável e escalável.

Para isso, é preciso investir de maneira planejada, consistente e perene. Porque a inovação precisa ser enxergada pelas lentes do presente, com vistas ao futuro. E isso inclui o desenvolvimento de uma nova economia: a bioeconomia, com soluções baseadas na natureza.

*Maíra Colares é Gerente de Impacto Social e Governança Corporativa da NetZero. Especialista em gestão e sistemas alimentares sustentáveis, foi Secretária de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania em Belo Horizonte.

Açaí e bioeconomia: do caroço ao sequestro de carbono
📷 |
VEM SEGUIR OS CANAIS DO DOL!

Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.

tags

Quer receber mais notícias como essa?

Cadastre seu email e comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Conteúdo Relacionado

0 Comentário(s)

plus

    Mais em Notícias Pará

    Leia mais notícias de Notícias Pará. Clique aqui!

    Últimas Notícias