Os saberes dos povo tradicionais da Amazônia são hoje reconhecidos e estudados pela indústria farmacêutica e a ciência de uma forma em geral graças ao enorme conhecimento sobre a natureza. Com isso, esse conhecimento, até então oral, sempre foi passado de geração para geração.
O Pau-rosa (Aniba rosaeodora), espécie nativa da Amazônia presente em áreas como Marajó e Cametá, tem sido objeto de estudos pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e pela Universidade do Estado do Pará (UEPA). Pesquisas iniciais indicam que as folhas dessa planta contêm compostos com potencial para auxiliar na recuperação de processos inflamatórios.
Na UEPA, um estudo pré-clínico está em andamento para avaliar a viabilidade de desenvolver medicamentos a partir dos princípios ativos do pau-rosa. Testes iniciais em camundongos mostraram que o óleo essencial da planta, em determinadas dosagens, apresentou desempenho superior ao óleo de girassol, amplamente utilizado na rede pública de saúde para tratamento de inflamações e cicatrização de feridas.
O professor Dr. Anderson Bentes de Lima, farmacêutico e doutor em Biotecnologia pela Universidade Federal do Pará, atualmente professor adjunto na UEPA, lidera a pesquisa.
Estamos trabalhando em diferentes formulações, como géis e cremes. Recentemente, desenvolvemos uma aplicação com óleo essencial de pau-rosa (Aniba rosaeodora), utilizado em formulações de gel para avaliar propriedades anti-inflamatórias e cicatrizantes." Ele acrescenta que, em comparação com o óleo de girassol, o gel à base de pau-rosa foi significativamente mais eficiente. "Atualmente, estamos finalizando a patente dessa inovação, que apresenta uma vantagem tecnológica promissora
Anderson Bentes, Doutor em BiotecnologiaA árvore é nativa das florestas tropicais da América do Sul, especialmente da Região Amazônica. No Brasil, é encontrado nos estados do Amapá, Amazonas e Pará. Além disso, ocorre em países vizinhos como Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela e Guiana Francesa.
O óleo essencial extraído do pau-rosa é composto principalmente por linalol, um monoterpeno alcoólico que representa cerca de 70% a 90% do total. Além do linalol, o óleo contém outros compostos como geraniol, limoneno, eugenol e acetato de linalila. Esses componentes conferem ao óleo propriedades terapêuticas, incluindo atividades anti-inflamatórias, analgésicas, bactericidas e fungicidas.
Ele é amplamente utilizado na fabricação de cosméticos e produtos de aromaterapia devido as suas diversas propriedades benéficas. Na cosmética, ele é valorizado por suas propriedades regeneradoras e antioxidantes, auxiliando na hidratação da pele, prevenção do envelhecimento precoce e estímulo à renovação celular. É comum encontrá-lo em cremes, loções e sabonetes, conferindo um aroma agradável e suave aos produtos.
Pesquisas etnofarmacológicas apontam que comunidades tradicionais da Amazônia já utilizam o pau-rosa no processo de cicatrização de feridas. A investigação científica busca validar esses benefícios de forma experimental e consolidar o uso medicinal da planta.
O professor Anderson ressalta que, além de cicatrizante, o pau-rosa demonstra potencial como analgésico em situações inflamatórias. Ele enfatiza a importância de garantir que essas tecnologias sejam acessíveis e beneficiem tanto a sociedade quanto as comunidades que compartilham esse conhecimento tradicional. "Desejamos fortalecer a cadeia produtiva da Amazônia e promover a sustentabilidade", afirma.
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Com a possível criação de medicamentos derivados do pau-rosa, projeta-se a formação de uma cadeia produtiva local, fortalecendo a economia das comunidades tradicionais que já manejam e conhecem o uso da planta. O professor Anderson projeta, para os próximos anos, avançar na transferência de tecnologia e iniciar estudos clínicos em humanos, após aprovação pela Anvisa.
"Estamos também em diálogo com universidades e instituições internacionais para parcerias que possam impulsionar nossas pesquisas. A expectativa é que esse trabalho contribua significativamente para a ciência, o desenvolvimento regional e a saúde pública", conclui.
Confira a entrevista:
Desenvolvimento
"Em nosso laboratório, focamos em estudos pré-clínicos, que incluem testes de segurança toxicológica em animais, como ratos e camundongos. Após a aprovação nesses testes, o próximo passo seria solicitar à Anvisa a liberação para testes clínicos em humanos. No entanto, o processo é longo, podendo levar anos devido às análises técnicas detalhadas necessárias."
Sustentabilidade
"Utilizamos principalmente as folhas, que apresentam alto rendimento de óleo essencial. A substância ativa, o linalol, possui potente ação anti-inflamatória e cicatrizante. Nosso estudo baseou-se inicialmente em relatos etnofarmacológicos de comunidades da Amazônia que utilizam essa planta para fins medicinais. Após confirmar sua eficácia inicial, desenvolvemos a formulação tecnológica e realizamos os testes comparativos."
Avanço das pesquisas
"Estamos em diálogo com universidades e instituições internacionais para parcerias que possam impulsionar nossas pesquisas. A expectativa é que esse trabalho contribua significativamente para a ciência, o desenvolvimento regional e a saúde pública."
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