As cidades de São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Salvador (BA) são frequentemente citadas quando o assunto é carnaval. Mas sabia que, em um passado não muito distante, Belém era a terceira capital brasileira com a festa carnavalesca mais conhecida do país?
Sim. Isso aconteceu. Mais precisamente entre as décadas de 70 e 80. A “era de ouro” do carnaval de Belém também ocorreu em um momento onde as escolas de samba belenenses ganharam tanta notoriedade que chegaram a contar com o apoio de agremiações cariocas famosas nacionalmente, como a Beija-Flor de Nilópolis e Estação Primeira de Mangueira.
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De acordo com o historiador e escritor Alfredo Oliveira, o auge do carnaval de Belém se deu na década de 80, após, ainda nos anos 70, as escolas de samba da capital usarem em seus enredos temáticas paraenses que proporcionaram uma ponte de identidade cultural entre o público e as agremiações.
A festividade logo chamou a atenção de todo o país e se tornou tão grande quanto o carnaval do Rio de Janeiro e de Salvador. A imprensa brasileira reconheceu que Belém, à época, abrigava a 3ª maior festa carnavalesca do Brasil em volume de turistas, brincantes e eventos.
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Com o crescimento da festa, o espaço para que ela ocorresse passou a ficar pequeno. Atualmente, o Carnaval de Belém conta com a estrutura da Aldeia Cabana Davi Miguel, na avenida Pedro Miranda, para a realização dos desfiles, mas, na década de 70 e início da de 80, a concentração da folia em Belém acontecia na avenida Presidente Vargas.
Era tradicional a festividade carnavalesca na avenida que hoje é um dos principais corredores para as maiores procissões do Círio de Nazaré. Desde os tempos das batalhas de confetes que ocorriam na frente do Palácio do Rádio até os desfiles das escolas de samba que conquistaram o público belenense, a Presidente Vargas foi palco de muita folia e acabou se tornando insuficiente, em termos espaciais, para receber tanta gente e tantos majestosos e chamativos carros alegóricos.
Não teve outra: o carnaval de Belém precisou encontrar um novo lar e achou na avenida Visconde de Souza Franco, a Doca, um local ideal. Apesar do imenso canal no meio da via, a festa conseguiu crescer na região, que, até então, era bastante comercial, e se desenvolveu mais a partir de 1982. Era o que faltava para atingir as proporções que alcançou nacionalmente.
NOVA MUDANÇA
Já na década de 90, de acordo com Oliveira, a especulação imobiliária e valorização dos imóveis na região da Doca começaram a trazer empreendimentos residenciais e, com eles, moradores que não estavam satisfeitos com a folia e a algazarra características do carnaval. Foi então que, mais uma vez, a festa precisou procurar um novo local para “morar”.
Sem um local ideal para abrigar um carnaval tão grande, a solução encontrada foi dividir a festa em três pontos distintos: houve o retorno à avenida Presidente Vargas, a permanência na Doca e alguns desfiles e eventos na avenida 25 de Setembro, atualmente Rômulo Maiorana.
Com a fragmentação, o interesse pela festa também se dividiu. Deste modo, as escolas de samba passaram a amargar o declínio do carnaval de Belém, que nunca mais recuperou o prestígio obtido nas décadas anteriores.
O DECLÍNIO
No artigo “Escolas de samba de Belém: do princípio ao meio”, as autoras Carmen Rodrigues e Claudia Palheta apontam que o movimento de dividir os desfiles das agremiações em três locais diferentes da cidade provocou um declínio do interesse por elas. Somado a isso, houve a popularização das micaretas baianas por todo o Brasil. Esse movimento chegou, principalmente, aos municípios do interior do Pará.
Com blocos organizados, atrações famosas nacionalmente e fontes de renda garantidas com a venda antecipada de abadás, as micaretas dominaram o carnaval no Pará e tornaram os desfiles de escolas de samba de Belém desvalorizados nos âmbitos comercial e turístico.
“Passar o carnaval no interior passou a ser mais atraente do que esperar por um desfile onde não se sabia se a escola de sua preferência viria ou não para desfilar. As micaretas eram empresas altamente organizadas, que vendiam abadás com até um ano de antecedência, para um público consumidor que pagava para dançar ao som de conjuntos musicais liderados por cantores famosos, enquanto as escolas de samba ficavam cada vez mais carentes de organização e de investimentos que as movimentassem durante o ano”, explicam as pesquisadoras.
Na virada do milênio, a construção da Aldeia Cabana trouxe um novo respiro para o Carnaval de Belém e para os desfiles de escolas de samba, apesar das brigas políticas que ocorreram pós-anos 2000. Tradição que permanece até os dias atuais, mesmo com os desafios que realizar a festa durante a pandemia de Covid-19, após 2020, trouxeram aos brincantes.
Repórter: Adams Mercês
"Paraense com o sangue da cor do açaí. Repórter do DOL e assessor de comunicação do Ministério das Cidades do Governo Federal. Formando em Comunicação Social - Jornalismo pela UFPA e um grande admirador de games, carros e da história das pessoas boas."
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