
Desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, em 7 de outubro de 2023, 192 jornalistas e profissionais da imprensa foram mortos, segundo levantamento atualizado do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ). O número já supera o total de mortes registradas nos três anos anteriores somados. De 2020 a 2022, foram 165 vítimas em todo o mundo.
O episódio mais recente e letal ocorreu no último domingo (10), quando seis profissionais da Al Jazeera e um freelancer foram mortos em um bombardeio israelense que atingiu uma tenda usada como base de imprensa na Cidade de Gaza. Foram identificadas as mortes dos correspondentes Anas al-Sharif e Mohammed Qreiqeh, dos cinegrafistas Ibrahim Zaher e Mohammed Noufal, além dos colaboradores Moamen Aliwa e Mohammad al-Khaldi.
Os funerais aconteceram na segunda-feira (11), sob forte comoção. As imagens dos corpos sendo carregados por colegas e familiares ganharam repercussão internacional e geraram condenação de líderes e entidades de direitos humanos e liberdade de imprensa ao redor do mundo.
A diretora regional do CPJ, Sara Qudah, classificou o ataque como um assassinato deliberado: “Israel está assassinando os mensageiros. Israel eliminou uma equipe inteira de jornalistas. [...] Isso é assassinato”, declarou.
Reação internacional
O governo brasileiro condenou o bombardeio por meio de nota do Itamaraty, afirmando que se trata de um "novo ato de flagrante violação ao direito internacional humanitário e ao exercício da liberdade de imprensa por parte das forças israelenses". O Brasil pediu que Israel assegure proteção aos jornalistas e permita o acesso de profissionais da mídia internacional a Gaza, algo raramente autorizado desde o início do conflito, e sempre sob escolta do Exército.
A França, o Reino Unido e o Qatar também emitiram declarações duras contra o ataque. O premiê britânico, Keir Starmer, manifestou “profunda preocupação” com os ataques recorrentes à imprensa, enquanto o primeiro-ministro do Qatar, Mohammed bin Abdulrahman al-Thani, acusou Israel de "ataque deliberado contra jornalistas".
A Al Jazeera afirmou que a ofensiva foi "uma tentativa desesperada de silenciar vozes antes da ocupação de Gaza", em referência ao anúncio feito dias antes pelo premiê israelense, Binyamin Netanyahu, sobre um plano para ocupar o território palestino.
Acusações e respostas
O Exército israelense alegou que o jornalista Anas al-Sharif era um dos líderes de uma célula do Hamas e estaria envolvido na preparação de ataques contra civis e militares israelenses. A acusação foi acompanhada por uma suposta selfie dele com líderes do Hamas e uma planilha com registros de salários de 2013 a 2017, sem provas de envolvimento recente com o grupo.
O CPJ rebateu as acusações, classificando a ação como parte de uma "campanha de difamação" promovida por Tel Aviv contra jornalistas que denunciam violações humanitárias. Segundo Sara Qudah, as tentativas de descredibilizar Sharif sempre ocorriam após reportagens críticas, como a que denunciou a fome causada pelo bloqueio total de ajuda humanitária a Gaza, imposto por Israel em março deste ano.
A Al Jazeera, por sua vez, lembrou que já havia denunciado o exército israelense em outra ocasião, por uma "campanha de incitação" contra seus correspondentes na região. Entre eles, Sharif. No final de julho, a CPJ já havia pedido a proteção do jornalista, que acreditava, à época, ser um dos alvos do exército israelense.
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Recorde de mortes entre jornalistas
De acordo com o CPJ, pelo menos 184 dos 192 jornalistas mortos até agora eram palestinos. O ataque de domingo representa o maior número de profissionais da imprensa mortos de uma só vez no conflito. O segundo ocorreu em dezembro de 2024, quando cinco jornalistas morreram em um ataque a uma van, que também contava com outros profissionais.
A organização Repórteres Sem Fronteiras disse estar "horrorizada" com as mortes, enquanto o Sindicato dos Jornalistas Palestinos chamou o episódio de "crime sangrento".
Alvo frequente de críticas de Israel, a Al Jazeera teve suas atividades suspensas no país no ano passado, sob a justificativa de ameaças à segurança nacional.
Mensagem póstuma
Uma carta póstuma do jornalista Anas al-Sharif, escrita em abril com instruções para ser publicada em caso de sua morte, foi divulgada nas redes sociais após a tragédia. Em um dos trechos, ele pede: “Não se esqueçam de Gaza.”
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