Pesquisadores da Universidade de Oxford e da University College London vão conduzir um ensaio clínico para o desenvolvimento da primeira vacina preventiva para câncer de pulmão, a LungVax. A ideia é produzir um imunizante que impeça que a doença se desenvolva em pacientes com alto risco, como ex-fumantes ou pessoas que já tiveram um câncer de pulmão em estágio inicial.
Financiado pelo Cancer Research UK e pela CRIS Cancer Foundation, o ensaio clínico deve recrutar 590 participantes a partir de 2026, em um estudo dividido em fase 1 (para encontrar a melhor dose) e fase 2 (para testar se a vacina realmente evita um novo câncer de pulmão).
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O imunizante usa a tecnologia ChAdOx2, técnica utilizada na vacina da AstraZeneca para Covid-19, mas, dessa vez, com uma programação para treinar o corpo contra o câncer.
COMO A LUNGVAX FUNCIONA
De acordo com a Universidade de Oxford, esta vacina contém instruções genéticas que fazem com que o sistema imunológico reconheça neoantígenos, proteínas produzidas no início da transformação das células pulmonares em células malignas, que surgem muito antes de o câncer se tornar detectável por exames.
O imunizante funciona treinando o sistema imunológico do corpo para identificar e eliminar essas células anormais ainda no estágio pré-clínico, antes que elas acumulem mutações suficientes para se tornarem tumores de fato.
O médico Tiago Kenji, chefe de oncologia do Hospital Santa Paula, da Rede Américas, explica que "o câncer usa vários mecanismos de imunoevasão, que é capacidade de um agente infeccioso ou de células cancerígenas de escapar da resposta do sistema imunológico, impedindo que seja reconhecido e eliminado. Para ele se desenvolver, ele precisa driblar o sistema imune, produzir substâncias anti-inflamatórias e se esconder. Quando tentamos vacinar um paciente com câncer já estabelecido, o tumor está muito armado para escapar."
O diferencial da LungVax é atacar o câncer antes que ele aprenda a se defender. O oncologista também que explica que, quando o tumor já está formado, ele se encontra em um estado de alta resistência.
"Uma vez que o câncer é detectado clinicamente, significa que ele já conseguiu burlar várias das defesas do nosso sistema imunológico."
Segundo dados de Oxford, no Reino Unido, de 25% a 30% dos pacientes operados de câncer de pulmão estágio I voltam a ter a doença em até cinco anos.
Embora a ideia pareça simples, de ativar o sistema imune contra as células tumorais, a execução é desafiadora. "Cada câncer tem seus próprios antígenos. O tumor de cada paciente é quase como uma impressão digital. Ele é extremamente heterogêneo", afirma o médico.
Enquanto um vírus é relativamente estável e padronizado, cada câncer é único, o que dificulta uma vacina que possa prevenir todos os tipos de tumores. A eficácia desse imunizante depende do tipo de neoplasia apresentar os antígenos usados na vacina.
LIMITAÇÕES DA VACINA
Assim como a vacina de HPV protege apenas contra alguns subtipos, a LungVax protegerá apenas contra tumores que carreguem os antígenos específicos. Mas, mesmo com essas limitações, a estratégia pode beneficiar uma parcela significativa de pacientes em risco elevado.
O estudo britânico vai incluir pessoas com histórico tabagismo avançado, pacientes operados de câncer de pulmão estágio I (risco alto de novo tumor) e pessoas com alto risco clínico ou genético acumulado.
O oncologista destaca que "ainda não é possível afirmar se quem tem histórico familiar leve ou moderado se beneficiaria", mas explica que herança genética influencia a capacidade do organismo de lidar com carcinógenos.
Kenji afirma que essa vacina pode ser uma virada no jogo em relação ao câncer porque "antecipar a luta para o estágio pré-clínico do câncer seja a saída. É um uso mais inteligente da vacinação." A LungVax se destaca justamente para prevenir o câncer antes do mesmo existir.
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O estudo da Universidade de Oxford deve começar no verão europeu de 2026 e levar cerca de quatro anos. Os primeiros resultados de segurança e resposta imune (Fase I) devem aparecer antes dos dados de eficácia (Fase II).
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