Aos 86 anos, Dona Onete disse que a idade nunca foi obstáculo para ela. Durante uma entrevista à BBC News Brasil a cantora se resumiu com um espírito combativo e bem-humorado em uma frase que carrega ela revelou carregar como lema: “Não me entrego para essa história de idade.”
Dona Onete só iniciou a carreira profissional após os 60 anos, quando criou um grupo de danças folclóricas e passou a se apresentar. O talento e o carisma abriram caminho para que Ionete da Silveira Gama, nome de batismo delas, se tornasse a conhecida rainha do carimbó, um dos ritmos mais vivos e afetivos da cultura paraense. "[Me diziam:] 'Larga de ser professora, você canta muito bem'. E eu dizia: 'Não, primeiro eu vou me aposentar, porque e se não der?'", relembra.
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Antes de brilhar nos palcos, Onete dedicou décadas ao magistério, ensinando História, Geografia e Português. Segundo ela, foi a sala de aula que a levou ao movimento sindical, onde testemunhou o surgimento da CUT e encontrou apoio para romper um casamento abusivo de 25 anos. “Eu tive aonde me amparar: eu saí do meu casamento e entrei no movimento”, afirma.
Nascida em 1939 no Marajó, a cantora perdeu os pais ainda criança e foi criada pela avó parteira, Quitéria, que lhe ensinou saberes tradicionais: chás, remédios naturais, crenças e modos de viver da Amazônia. Essa convivência moldou sua visão de mundo.
A vivência entre ribeirinhos em Igarapé-Miri enriqueceu ainda mais o repertório cultural dela. Lá, ajudou a sogra, Merandolina, que também era parteira e curandeira, e acompanhou de perto práticas de cura e espiritualidade, que mais tarde se refletiriam nas músicas que conquistaram o coração de muitos.
Após se aposentar, Onete passou a cantar em grupos de carimbó e criou o próprio estilo, o carimbó chamegado, marcado por sensualidade e afeto. “Chamego é aquele jeito gostoso de chegar, passar a mão na tua cabeça, te dar um cheirinho e ir embora”, explicou ela durante a entrevista.
O primeiro álbum de Dona Onete, Feitiço Caboclo, de 2012, lançado aos 73 anos, chamou atenção de produtores internacionais e levou a música dela a países como Portugal, França, Reino Unido e Estados Unidos. No Brasil, ela ganhou notoriedade com composições que exaltam elementos da cultura paraense, como Jamburana e No meio do pitiú.
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Hoje, aos 86 anos, Dona Onete segue se apresentando no Brasil, embora com agenda reduzida. Já não aceita convites internacionais, mas diz que mantém a mesma energia que cativa o público desde as primeiras aparições.
Mesmo após quase nove décadas de vida, ela conta que acredita que tudo o que viveu, inclusive os tropeços, moldou quem se tornou. “Conhecimento, ser professora, ter toda essa música que eu canto…Eu sou dona da minha história. Eu caminhei pelo caminho errado, mas depois eu me achei no caminho certo", afirmou.
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