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REESTREIA DO POETA

Record e José Olympio voltam a publicar a obra de Drummond

E o presente é do leitor, com o lançamento previsto de 63 títulos, sete novos, do maior poeta brasileiro

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Imagem ilustrativa da notícia Record e José Olympio voltam a publicar a obra de Drummond camera Drumond: o poeta maior à casa torna | Reprodução

A lendária editora José Olympio completou 90 anos em 2021, mas o presente o leitor recebe este ano. Desde 2002 incorporado ao Grupo Editorial Record, o selo volta a abrigar em seu catálogo um dos maiores poetas em língua portuguesa, Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). Os netos do autor e o grupo chegaram a um acordo que prevê a publicação de 63 títulos, entre eles sete novos, nos formatos de livro impresso, livro digital e audiolivro. O regresso de Drummond retoma uma longa convivência de 68 anos, considerando-se o tempo em que o autor de “A Rosa do Povo” ficou na José Olympio e na Record.

Segundo o acordo, a Record ficará responsável pelas edições da obra completa, enquanto a José Olympio produzirá edições especiais de alguns títulos, com material iconográfico, fac-símiles, etc. O retorno do poeta mineiro às duas casas editoriais que, por quase 70 anos, tanto contribuíram para a difusão de sua obra, ocorre num momento especial. Além dos 90 anos da José Olympio, completados em novembro do ano passado, em 2022 serão comemorados os 120 anos de nascimento de Drummond e os 80 anos de fundação da Editora Record.

Aliás, quando dos 110 anos de nascimento daquele que é considerado o maior poeta brasileiro celebrei, aqui nesta página, o fato de Drummond ter passado a ser publicado pela Companhia das Letras, vindo exatamente da Record. Naquela ocasião, em 2012, o impacto da reedição de Drummond por uma nova casa se converteu num irrecusável convite à sua releitura, amparada numa apresentação gráfica moderna e elegante, e pelos ensaios inéditos, elaborados para iluminar a compreensão de cada volume, e que contemplaram uma nova geração de estudiosos do poeta (escalados para escrever os posfácios).

Agora a José Olympio e a Record estendem o tapete vermelho para saudar a reestreia do poeta em seu antigo lar editorial. Para a edição da obra drummondiana está prevista a criação de um Conselho Editorial, formado por representantes da editora, da família do autor e por um especialista em sua obra, responsável pelo acompanhamento dos trabalhos de fixação dos textos e de produção das novas edições. Pela primeira vez serão cotejados os textos com as obras do acervo da família de Drummond e com suas correções de próprio punho. Entre os primeiros livros a serem publicados estão os três volumes reunidos de “Viola de Bolso”, há mais de 70 anos fora de circulação como livro individual, e “As Impurezas do Branco”.

“Queremos realmente conquistar novos leitores para essa obra que, mais do que atual, é eterna, que tem uma mensagem muito viva para todos nós”, enfatizou Rodrigo Lacerda, editor-executivo da Record. “Ficava intrigada com um livro do antigo acervo da José Olympio, o ‘Viola de Bolso’, e aí teve uma coincidência porque esse foi um dos títulos comentados pelo Pedro Graña Drummond [um dos netos do poeta], logo no primeiro encontro que a gente teve”, destacou Lívia Vianna, editora-executiva da José Olympio.

Contribuiu ainda para o acordo a modernização e a ampliação da capacidade produtiva do Grupo Editorial Record, hoje o maior grupo de capital exclusivamente nacional no Brasil, conhecido por abrigar tanto autores do primeiro time da literatura brasileira e internacional, como Graciliano Ramos, Adélia Prado, Gabriel García Márquez, Albert Camus e Umberto Eco, quanto bestsellers de carteirinha, a exemplo de Nora Roberts.

Carlos Drummond de Andrade mais uma vez estará ao alcance do leitor e das novas gerações, renovando a leitura – a partir da recepção editorial criteriosa – de um poeta sempre necessário, imprescindível.

Os clássicos das lombadas batiam ponto no fundo da loja

Vale lembrar aos leitores que a José Olympio, dona de uma das trajetórias mais luminosas na constelação editorial brasileira, casa original de Gilberto Freyre, Rachel de Queiroz, Sérgio Buarque de Holanda, Guimarães Rosa, Manuel Bandeira, Graciliano Ramos e o próprio Drummond, entre outros luminares da literatura nacional, passou momentos difíceis antes de renascer, em 2002, ao ser incorporada à Record. Emperrada em dívidas havia passado, em 1975, para o controle do BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico).

Fundada em 1931 pelo paulista de Batatais José Olympio Pereira Filho (1902-1990), a editora nasceu conjugada à livraria homônima. O país passava por uma profunda transformação. Na política, a Revolução de 1930, comandada por Getúlio Vargas, rompera com a República Velha. Na cultura havia uma agitação de ideias que José Olympio soube colher. A sua editora lançou novos autores em tiragens de até dez mil exemplares, uma ousadia para a época, quando a média era de dois mil. Muitos daqueles nomes hoje são clássicos das letras brasileiras, mas quando José Olympio editou seus livros eram jovens autores iniciantes, desconhecidos.

A José Olympio compartilhou com outras editoras, Nacional, Globo (a de Porto Alegre), Melhoramentos, Vecchi e Difusão Europeia do Livro, uma então breve idade de ouro da tradução nacional, quando nos chegaram Dickens, Fielding, Maupassant, Shakespeare, Flaubert, Balzac, Proust, Stendhal, Dostoiévski e Tolstói.

Já a livraria, se era capaz de oferecer, como outras do ramo, paredes tomadas por estantes de livros, era também pródiga em compartilhar com a clientela a presença, em carne e osso, do próprio escritor celebrado, que tinha seu nome gravado em muitas daquelas lombadas dispostas nas estantes.

A livraria José Olympio reinou na rua do Ouvidor 110, no Rio de Janeiro, então capital do país. No endereço batiam ponto, no fundo da loja, figuras como Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Jorge Amado, Rachel de Queiroz e Drummond, autores da Casa, como era conhecido o braço editorial da empresa.

Naqueles idos, as livrarias eram espaços de convívio, de bate-papo, de troca de ideias, nos quais se encontravam desde o estudante à procura do livro escolar até o bibliófilo à cata de uma raridade. O livreiro era conhecido pelo nome, sabia das preferências de cada um de seus clientes mais assíduos, muitos deles fregueses de caderno.

Da Lapa ao Pó e à cereja do bolo

Em 2002, quando a editora passou para a Record, dividindo espaço com outras marcas e selos do grupo (como as também históricas Bertrand Brasil, Civilização Brasileira e Paz & Terra), iniciou-se o projeto de revitalização das obras do catálogo e a reconquista de antigos autores da casa, de que Drummond é o mais recente triunfo.

Particularmente ressalto, entre outras preciosidades reeditadas, a reinscrição do boêmio Luis Martins com “Lapa”, romance escrito em 1936 e apreendido no final daquela década pelo governo Vargas, e “Noturno da Lapa” (livro de memórias, editado em 1964), lançados no final de 2004. O relançamento chegou-nos às mãos em uma caixa de dois volumes, acrescido de um mapa do tradicional bairro boêmio carioca, com a localização dos cafés, bares e prostíbulos da época. As capas reproduziram telas de Di Cavalcanti, frequentador do bairro que integrava as rodas de Luis Martins. Ruy Castro foi convocado para assinar a introdução.

Entre os escritores estrangeiros, assinalo o cultuado norte-americano John Fante, autor de “Pergunte ao Pó”. Publicado nos anos 80 pela Brasiliense, na inesquecível coleção Circo de Letras, o romance de Fante ganhou sucessivas edições pela José Olympio.

A editora apresentou ainda uma joia, a charmosa série Sabor Literário, com o símbolo de uma cereja, que recolocou em circulação obras como o cult “Fup”, de Jim Dodge, “Bartleby, o Escrivão”, de Herman Melville (com apresentação de Jorge Luis Borges), e “Poemas”, de Konstatinos Kaváfis, com apresentação e esmerada tradução de José Paulo Paes. A coleção trouxe textos de autores conhecidos do público, mas fora do gênero habitual do escritor, a exemplo de Virginia Woolf, João do Rio, Campos de Carvalho e Antonio Callado.

LANÇAMENTOS PARA O CENTENÁRIO MODERNISTA

A José Olympio relança neste mês duas obras fundamentais em meio às comemorações dos 100 Anos da Semana de Arte Moderna: a edição de “Macunaíma”, revisada por Mário de Andrade, e “Vanguarda Europeia e Modernismo Brasileiro”, ampliada pelo autor, Gilberto Mendonça Teles. Em março, a Record publica “O Antimodernista: Graciliano e 1922”.

l “O Antimodernista: Graciliano e 1922” (Org. Thiago Mio Salla e Ieda Lebensztein, 294 páginas, preço não fixado) é uma reunião dos ensaios, resenhas de livros, entrevistas e cartas que Graciliano Ramos escreveu analisando a herança do modernismo de um ponto de vista crítico. Mostra que Graciliano, reconhecendo a importância do movimento, não cai na idolatria e na idealização de muitos de seus contemporâneos. O leitor encontrará a consciência crítica e autocrítica de um escritor na contracorrente do triunfalismo vanguardista, simbolizado pela Semana.

Pílula do livro:

“Revista do Globo: Quer dizer que não se considera modernista?

Graciliano Ramos: Que ideia! Enquanto os rapazes de 22 promoviam seu movimentozinho, achava-me em Palmeira dos Índios, em pleno sertão alagoano, vendendo chita no balcão.” (Trecho de entrevista concedida por Graciliano Ramos em 1948)

l “Macunaíma – O Herói Sem Nenhum Caráter” (127 páginas, R$ 44,90) é um marco na história da literatura brasileira. Publicado pela primeira vez em 1928 e custeado pelo autor, o livro teve sua segunda edição lançada pela Livraria José Olympio Editora em 1937. É esse texto que os leitores têm agora em mãos, com atualização ortográfica, estilo da prosa preservado e projeto editorial que reproduz a arte gráfica original de Thomaz Santa Rosa, artista visual responsável pelos livros da editora nos anos 1930 e 1940. Precursor do modernismo no Brasil e um dos organizadores da Semana de Arte Moderna de 22, Mário de Andrade se valeu de sua ampla visão da cultura popular para criar o personagem-título, forjado a partir de lendas indígenas e populares, colagens de histórias, mitos e modos de vida. Um ser mágico, debochado e zombeteiro que viaja pelo país acompanhado de seus irmãos, Jiguê e Maanape, numa aventura para recuperar seu amuleto perdido: o muiraquitã.

l Obra de referência já consagrada, “Vanguarda Europeia e Modernismo Brasileiro” (658 páginas, R$ 99,90), de Gilberto Mendonça Teles, reúne poemas, conferências e manifestos vanguardistas estrangeiros e nacionais publicados entre 1857 e 1972. A edição que está sendo lançada em meio às comemorações do centenário da Semana vem acrescida de novo prefácio do autor, professor emérito de Literatura Brasileira e Teoria da Literatura na PUC-Rio. O estudo apresenta um rico panorama dos movimentos modernistas através de textos de artistas que foram capazes de antever os sopros da mudança ainda no século 19 — como Charles Baudelaire, Arthur Rimbaud e Stéphane Mallarmé —, nomes que protagonizaram as vanguardas europeias — entre outros, André Breton, Vladimir Maiakóvski e Tristan Tzara —, expoentes do modernismo brasileiro — Mário de Andrade, Oswald de Andrade, João Cabral de Melo Neto e Murilo Mendes — e, enfim, aqueles que marcaram um momento mais experimental da arte brasileira — como Décio Pignatari e Wlademir Dias-Pino.

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