
A sobrevivência em ambientes extremos sempre foi um dos maiores desafios da humanidade. Na imensidão árida do deserto da Arábia, há milhares de anos, comunidades humanas encontraram formas criativas e simbólicas de lidar com a escassez de água e recursos. Um novo estudo arqueológico revela que gravuras rupestres de animais não serviam apenas como expressão artística, mas também como marcadores estratégicos de fontes de água vitais para a vida no deserto.
Painéis recém-descobertos com mais de 170 gravuras rupestres revelam que, há milênios, antigos habitantes da Península Arábica marcavam lagos sazonais e áreas de sobrevivência em regiões hoje inóspitas.
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Artes rupestres de camelos de 12 mil anos sinalizam fontes de água no deserto
Nas paredes de penhascos do deserto de Nefud, ao norte da Arábia Saudita, imagens de camelos e outros animais foram entalhadas na rocha. Com o tempo, muitas dessas figuras quase desapareceram devido à erosão natural. Essas artes rupestres, com cerca de 12 mil anos de idade, foram identificadas por uma equipe internacional de arqueólogos, que destacam o papel simbólico e funcional dessas gravuras: indicar a presença de água em meio ao deserto.
“Essa forma única de expressão simbólica pertence a uma identidade cultural distinta, adaptada à vida em um ambiente árido e desafiador”, afirmou Faisal Al-Jibreen, da Comissão de Patrimônio do Ministério da Cultura da Arábia Saudita.
Uma galeria de arte a céu aberto
Entre 10 mil e 6 mil anos atrás, o atual deserto saudita era um cenário muito diferente. A região vivia um período mais úmido, com pastagens e lagos sazonais que serviam de apoio a pastores e seus rebanhos.
A descoberta das pinturas no deserto de Nefud faz parte do projeto Green Arabia, que investiga como mudanças climáticas afetaram a ocupação humana na região durante essas fases mais favoráveis do clima.
A expedição de 2023 identificou 176 gravuras rupestres distribuídas em mais de 60 painéis, localizados em três áreas até então inexploradas: Jebel Arnaan, Jebel Mleiha e Jebel Misma. Segundo o artigo publicado na revista Nature Communications, a maioria das gravuras representa animais em tamanho real, como camelos, íbex, gazelas, asnos selvagens e até auroques — uma espécie ancestral do boi.
Um dos painéis mais impressionantes mostra camelos sobrepostos gravados em um penhasco a 39 metros de altura, o que sugere um significado especial para aquelas imagens, considerando o esforço necessário para esculpi-las em locais tão altos e de difícil acesso.
Arte, ferramentas e tempo
Em artigo publicado no site The Conversation, a pesquisadora Maria Guagnin e colegas descreveram o realismo das figuras e relataram a descoberta de camadas arqueológicas intactas logo abaixo das gravuras. Em uma dessas camadas, foi encontrada uma ferramenta usada na produção da arte rupestre — um achado raro e significativo.
Utilizando a técnica de datação por luminescência, que mede quando os sedimentos foram expostos à luz solar pela última vez, os pesquisadores determinaram que a camada em que a ferramenta foi achada tem cerca de 12 mil anos. Isso confirma a antiguidade das gravuras e reforça sua importância histórica.
Rumo ao coração do deserto
As descobertas ampliam a compreensão sobre os primeiros grupos humanos que se aventuraram no interior do deserto arábico, logo após o fim da última era glacial, quando a região começava a emergir de um período de seca severa.
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As gravuras funcionavam não apenas como arte, mas como verdadeiros sinais de sobrevivência. Elas indicavam onde encontrar água em um ambiente que, com o tempo, se tornaria cada vez mais hostil. Embora ainda não se saiba com certeza o motivo exato da escolha dos animais e locais representados, essas imagens permanecem como testemunhos silenciosos da engenhosidade humana diante da adversidade.
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