
Um novo estudo arqueológico revelou evidências de canibalismo humano ocorrido há aproximadamente 5.600 anos na região da Sierra de Atapuerca, no norte da Espanha. Restos mortais de ao menos 11 indivíduos, entre adultos, adolescentes e crianças, foram encontrados na caverna de El Mirador e apresentaram sinais claros de manipulação pós-morte. As descobertas foram divulgadas nesta última quinta-feira (07), em um artigo publicado na revista Scientific Reports, do grupo Nature.
A equipe responsável pelas escavações identificou cerca de 650 fragmentos ósseos humanos com alterações que indicam a prática de antropofagia póstuma, ou seja, consumo de carne humana após a morte. Entre os indícios registrados nos fósseis estão marcas de cortes feitos com ferramentas de pedra, sinais de percussão (impacto) para fraturar os ossos, esfolamento, raspagens e também evidências de exposição ao fogo.
Do total de fragmentos analisados, 239 apresentavam modificações pós-morte, incluindo 132 com marcas de cortes profundos, raspagens e picagens, características compatíveis com a remoção deliberada de carne. Além disso, 222 restos ósseos mostraram mudança de coloração, o que os cientistas interpretam como resultado de cremação. Marcas de mordidas humanas também foram identificadas, embora ainda haja debate sobre essa conclusão.
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De acordo com os arqueólogos Palmira Saladié, Francesc Marginedas e Antonio Rodríguez-Hidalgo, autores principais do estudo, todos os traumas registrados nos ossos ocorreram após a morte dos indivíduos. “Nenhum dos traumas identificados aparenta ter ocorrido antes da morte”, afirmam os pesquisadores, que descartam a hipótese de violência em combate ou mutilações associadas a troféus de guerra.
Os restos foram datados por radiocarbono entre 5.709 e 5.573 anos atrás, marcado pela transição para o final do período Neolítico. A análise isotópica dos ossos e dos dentes confirmou que os indivíduos eram locais da região, uma vez que os isótopos funcionam como marcadores da dieta e do ambiente em que a pessoa viveu. Isso reforça a hipótese de que o canibalismo ocorreu entre membros da própria comunidade ou de um grupo próximo.
As escavações ocorreram em dois setores da caverna de El Mirador, onde também foram identificadas covas coletivas que funcionavam como espaços funerários. Os sinais encontrados apontam que o episódio de canibalismo não foi um costume frequente, mas sim um caso isolado, possivelmente relacionado a tensões sociais ou conflitos pontuais entre grupos neolíticos da região.
A prática do canibalismo em sociedades pré-históricas é extremamente difícil de comprovar, especialmente por conta das ambiguidades culturais e das condições de enterramento. No entanto, os registros mais antigos de antropofagia na Península Ibérica remontam a cerca de um milhão de anos atrás, o que mostra que, embora rara, essa prática tem precedentes históricos na região.
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Os autores do estudo destacam que o contexto da descoberta é importante, visto que a Península Ibérica possui diversos registros de práticas funerárias complexas, como enterros coletivos, redistribuição de ossos e manipulação ritual dos mortos. O episódio agora documentado se destaca por apresentar um conjunto robusto de evidências físicas que apontam para o processamento deliberado dos corpos após a morte.
Embora os motivos exatos do canibalismo ainda permaneçam desconhecidos, os cientistas sugerem que o episódio pode refletir crises internas, disputas territoriais ou respostas rituais a eventos traumáticos. A descoberta uma nova fase para à compreensão das dinâmicas sociais e culturais do Neolítico europeu.
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