O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), prosseguirá internado sem previsão de alta para o tratamento de um câncer que se expandiu para o fígado e para os ossos, informou nesta quarta (21) sua equipe médica em entrevista coletiva no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
A situação clínica é considerada estável, mas o prefeito acumula líquido na pleura (membrana que reveste os pulmões) e no abdome, o que precisará ser drenado. O acúmulo é decorrente de uma inflamação provocada por um dos tumores no fígado.
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Covas iniciou uma nova fase com tratamento quimioterápico na sexta-feira (16) após a descoberta dos novos focos de câncer. O prefeito também necessitou de complementação nutricional por via venosa durante o sono.
De acordo com a equipe médica, o líquido encontrado, no entanto, não se trata do que é popularmente conhecido como "água no pulmão", um edema pulmonar caracterizado pelo acúmulo de líquido dentro do pulmão. No caso do prefeito, ele está entre a membrana externa ao órgão e a parede muscular.
Segundo o infectologista David Uip, que integra a equipe, Covas pretende manter a atividade profissional e continuar despachando do hospital.
Uip disse que não há nenhum impedimento médico para que continue trabalhando a distância. "Ele não quer se afastar de suas funções e nós concordamos com ele, já que tem condições e competência para continuar."
Para a retirada do líquido, foram colocados drenos nas laterais do corpo. A alta médica está condicionada a drenagem do líquido extra. Segundo os médicos, o surgimento de líquidos é recorrente em casos como o do prefeito.
"Até a retirada do dreno, que irá ocorrer com a diminuição do líquido, ele permanecerá internado", disse Uip. Ainda sem previsão de quanto tempo precisará permanecer com o dreno, os médicos disseram que a quantidade de líquido extraído vem diminuindo a cada dia.
A drenagem é importante para que Covas, 41, possa respirar sem dificuldades. Mesmo com a presença do líquido, os médicos disseram que a capacidade respiratória do prefeito é boa por ora.
A equipe de médicos também explicou que, apesar da complementação alimentação por via venosa, o prefeito continua comendo normalmente. A opção foi adotada para aumentar o peso de Covas e fortalecê-lo para passar pelo tratamento oncológico.
Na sexta-feira, a equipe médica de Covas, integrada também por Artur Katz, Tulio Flesch Pfiffer e Roberto Kalil Filho, comunicou que exames mostraram o surgimento de novos focos de câncer no fígado e ossos. Ele foi internado para tratamento com quimioterapia e imunoterapia.
O oncologista Tulio Pfiffer disse que o quadro de saúde de Covas está "bem controlado". "A única dificuldade que temos é de não ter previsão de quando terá alta", disse.
Os médicos disseram que Covas poderá ter alta quando os drenos puderem ser retirados. A saída do hospital não foi vinculada ao sucesso no tratamento do câncer, que poderá continuar ocorrendo em casa.
A reportagem ouviu seis oncologistas que não fazem parte da equipe médica do prefeito sobre a nova etapa de tratamento. Apesar de não terem detalhes do caso, eles avaliam que as novas intervenções indicam agravamento do quadro, mas dentro do esperado diante da gravidade do atual estágio da doença.
Eles afirmam que o acúmulo de líquido nas membranas costuma ser visto em pacientes com câncer metastático na região apresentada por Covas. Considerado um processo anormal, pode ocorrer por diversos motivos ou uma combinação de causas.
Uma das hipóteses é que pode ter piorado a função do fígado, que é a de filtrar o sangue que vem dos órgãos do abdome e depois segue para o coração.
"Quando o fígado está muito comprometido, pode acontecer desse filtro estar mais endurecido e acumular líquido na barriga", explica o oncologista Felipe Coimbra, da área de tumores gastrointestinais do A.C.Camargo Cancer Center e que dirige o Instituto Integra Saúde. Ele foi o único oncologista dos seis ouvidos que não pediu anonimato.
Outra possibilidade, segundo o médico, é que quando o paciente oncológico está muito desnutrido, com proteínas do sangue em menor volume, a pressão osmótica (que segura a água dentro dos vasos sanguíneos) fica baixa aí esse líquido passa para os tecidos de fora, às vezes, para a barriga.
A terceira hipótese, levantada pelos oncologistas, seria existir pontos de doença no peritônio, situação que também pode levar ao acúmulo de líquido além do normal.
Os especialistas também afirmam que a desnutrição pode ser comum em pacientes oncológicos, por isso, a necessidade da nutrição parenteral. A perda de peso pode ocorrer por alterações metabólicas da doença ou efeitos colaterais do tratamento.
A medida, porém, também pode indicar que ele não está conseguindo se alimentar bem pela boca. Outra hipótese seria alguma obstrução de intestino que estaria impedindo a passagem de alimentos.
O câncer do prefeito originou-se na cárdia, uma válvula no trato digestivo, e depois afetou também o fígado. Ele iniciou tratamento ainda em 2019 e evita, desde então, afastar-se de suas funções na prefeitura, limitando suas licenças médicas. No ano passado, ele foi reeleito para mais quatro anos de mandato.
Entre outubro de 2019 e fevereiro último, o prefeito fez oito sessões de quimioterapia. As lesões cancerígenas regrediram, mas não desapareceram por completo.
Em fevereiro, um novo nódulo no fígado foi descoberto. Na ocasião, a equipe médica disse que o câncer no sistema digestivo que ele trata desde 2019 conseguiu "ganhar terreno", mas que ainda era menor do que o primeiro encontado há dois anos atrás.
Segundo os médicos, Covas tem sido categórico em pedir que haja transparência sobre a sua situação de saúde. "Ele expressa de maneira veeemente que a gente mantenha alto nível transparência e clareza", disse Uip.
O médico disse que o prefeito tem comportamento parecido ao do avô, Mário Covas, ex-governador de São Paulo, que morreu em 2001 em decorrência de um câncer na bexiga.
"Ele repete exatamente a atitude do avô, que foi um ícone em termos de transparência. O prefeito tem o mesmo perfil, quer que tudo seja divulgado e explicado."
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