O governo alemão exaltou a "beleza natural" do Brasil um dia depois de o primeiro-ministro, Friedrich Merz, viralizar com um discurso em que sugeriu o contrário. Sem comentar as críticas ao premiê, porta-voz do governo alemão em Berlim declarou à Folha que o premiê lamentou não ter tido tempo "de viajar aos limites da amazônia para conhecer melhor a beleza natural impressionante da região".
Na última semana, em discurso no Congresso Alemão do Comércio, Merz usou o Brasil como referência negativa para enaltecer a Alemanha. "Senhoras e senhores, nós vivemos em um dos países mais bonitos do mundo. Perguntei a alguns jornalistas que estiveram comigo no Brasil na semana passada: 'Quem de vocês gostaria de ficar aqui?' Ninguém levantou a mão. Todos ficaram contentes por termos retornado à Alemanha, na noite de sexta para sábado, especialmente daquele lugar onde estávamos."
Conteúdo relacionado
Merz havia estado em Belém, no último dia 7, para participar da Cúpula de Líderes da COP30, em que buscou demonstrar que seu governo manteria os compromissos ambientais de administrações anteriores, contudo de maneira diferente. Na prática, prometeu uma "quantia substancial" ao TFFF, o fundo de florestas proposto pelo Brasil, sem quantificar um valor.
Questionado pela reportagem sobre a polêmica, o governo alemão salientou o saldo da visita. "Durante sua breve viagem a Belém, o primeiro-ministro, Friedrich Merz, explicou a nova política climática do governo federal [alemão], prometeu uma contribuição substancial para o fundo florestal e manteve conversas produtivas e voltadas para o futuro com o presidente brasileiro Lula da Silva."
O porta-voz, porém, não comentou as críticas a Merz e a viralização do vídeo com o discurso em que o premiê deprecia Belém. Pelo contrário, relatou que "o chanceler [designação para primeiro-ministro na Alemanha] teve uma pequena impressão da magnitude dessa paisagem na noite de sua visita, durante um passeio de barco pelo rio Guajará, no delta do Amazonas".
O gabinete do primeiro-ministro declarou ainda que Merz "tem grande respeito pela conquista [brasileira] de organizar uma conferência internacional tão grande em Belém". Igor Normando (MDB), prefeito da capital paraense, declarou que a fala do premiê havia sido "infeliz, arrogante e preconceituosa".
Carsten Schneider é só elogios a Belém
A celeuma em torno das declarações de Merz não ganha a mesma tração na Alemanha. A revista Stern notou que o ministro do Meio Ambiente, Carsten Schneider, em Belém desde o sábado (15), vem derramando elogios à cidade e ao Brasil em uma aparente tentativa de minimizar os danos provocados pelo chefe.
"Durante o fim de semana, tive a oportunidade de ter um primeiro contato com Belém, esta cidade magnífica, e seus arredores. Vi uma dedicação incrível, pessoas maravilhosas, mas também muita pobreza", declarou o ministro, segundo a publicação.
Em uma postagem no Instagram, Schneider reforçou o tom diplomático com um texto em português: "Brasil é um país maravilhoso, com um povo acolhedor e bom anfitrião". "Pena que não poderei ficar mais tempo após a COP. Teria algumas ideias, por exemplo, pescar com meus amigos da amazônia."
Social-democrata do SPD, Schneider já administrava outra saia-justa produzida pelo gabinete dominado por conservadores da aliança CDU/CSU em Berlim, a falta de um valor palpável para o fundo de florestas no discurso alemão.
Ambientalistas do país chegaram a notar que não seria preciso nem mesmo uma provisão no Orçamento, já que o valor seria um compromisso, não um desembolso imediato, e que poderia ser feito via KfW, o banco de desenvolvimento do país.
Baixa popularidade de Merz na Alemanha
Após seis meses de governo, Merz vive um momento de impopularidade. No apelo em que usou Belém como referência, buscava defender a ideia de que a Alemanha deveria ser valorizada, com "senso de proporção e equilíbrio" entre todos. Uma tentativa clara de condicionar a prosperidade aos valores democráticos, enquanto as pesquisas de opinião demonstram forte apelo da AfD, Alternativa para a Alemanha, o partido classificado de extrema direita pelas agências de segurança do país.
O porta-voz do governo também lembrou que Merz descreveu o Brasil como um "importante parceiro da Alemanha". "O Brasil é o país da América Latina com o qual temos uma parceria estratégica e é, de longe, nosso maior parceiro econômico na América do Sul. Há também mais de um milhão de falantes de alemão no Brasil, e mantemos um intercâmbio estreito nas áreas de política cultural e educacional, bem como de cooperação científica."
Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.
Comentar