
Considerada como uma das descobertas arqueológicas mais importantes dos últimos anos em Belém, a embarcação metálica de 22 metros resgatada durante as obras do Parque Linear da Nova Doca passa pelos últimos ajustes. Em breve, ela será apresentada ao público como símbolo do passado fluvial e econômico da capital paraense e ficará instalada ao lado do Porto Futuro I.
O barco possui características estruturais típicas do final do século XIX e início do século XX e foi encontrado durante escavações realizadas no canteiro de obras do parque. Associado ao auge do Ciclo da Borracha, o achado promete revelar novas informações sobre o processo de urbanização de Belém e sobre a intensa relação da cidade com os rios e igarapés, que por muito tempo funcionaram como as principais vias de transporte da região.
Após ser resgatada em três etapas, a embarcação passou por um criterioso processo de restauração entre fevereiro e julho de 2025. O trabalho foi realizado em um laboratório construído ao lado do complexo Porto Futuro I, onde o barco será exposto futuramente. Atualmente, a estrutura está em fase de vistoria para eventuais retoques na camada de revestimento.
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Segundo Tainá Arruda, arquiteta responsável pelo processo de conservação, os principais desafios do restauro envolveram a deterioração da estrutura e o manejo do peso da embarcação. “A maior dificuldade da restauração é a fragilidade em algumas áreas da embarcação. Como a estrutura estava soterrada por muitos anos em ambiente úmido, a corrosão avançou em vários pontos. É necessária uma delicadeza com o próprio material em si, pois suas propriedades ficam expostas ao ar livre. Outro grande desafio foi montar uma estrutura acima do nível do solo onde aconteceria o restauro, devido ao grande peso da embarcação”, explicou.
O projeto de restauração mobilizou uma equipe formada por profissionais de diferentes áreas, como engenheiros, arquitetos, arqueólogos, museólogos, conservadores-restauradores e trabalhadores da construção civil. Foram feitos diversos testes antes da definição das estratégias de conservação mais adequadas ao estado da peça.
Além do barco, também foram encontrados fragmentos de louças e garrafas durante as escavações no terreno. Segundo o arqueólogo Kelton Mendes, esses vestígios remontam a um período que abrange da colonização ao início da República. “Esses artefatos são parte da história da cidade de Belém. Eles datam pelo menos entre 200 e 300 anos, inseridos no contexto da colonização, do Império e início da República”, compartilhou.
De acordo com os especialistas, as características físicas do barco indicam que a embarcação pode ter origem europeia ou americana. Estruturas metálicas como essa começaram a ser utilizadas no auge do Ciclo da Borracha, entre meados do século XIX e início do século XX, quando havia a necessidade de transportar grandes cargas entre Belém, cidades ribeirinhas e os seringais da região.
“Nesse período, começaram a circular embarcações com casco metálico, mais resistentes e capazes de transportar grandes volumes. Elas conectavam Belém a cidades ribeirinhas e seringais, integravam mercados e impulsionaram o escoamento de produtos como borracha, cacau, castanha e madeira, desempenhando papel central na economia da região”, detalhou Tainá Arruda.
Veja fotos da embarcação:
Nova Doca e a preparação para a COP30
A descoberta do barco ocorreu durante a construção do Parque Linear da Nova Doca, uma das principais obras de infraestrutura do Governo do Pará para a realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), prevista para ocorrer no mês de novembro em Belém.
Com 97% das obras concluídas, o parque ocupará um trecho de 1,2 quilômetro e contará com espaços voltados ao lazer, convivência e práticas esportivas. Entre os equipamentos planejados estão passarela metálica com mirante, quiosques, espaço para eventos, área pet, jardim, espaço para piqueniques, playground, academia ao ar livre e fonte interativa.
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A urbanização do canal também inclui ciclovias, drenagem, paisagismo e novas passarelas, o que deve tornar a área mais acessível e atrativa à população. O projeto é resultado de uma parceria entre o Governo do Pará, o Governo Federal e a Itaipu Binacional, com execução da Secretaria de Estado de Obras Públicas (Seop).
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