
Com a aproximação da 30ª Conferência do Clima da ONU (COP30), que será realizada em Belém do Pará em 2025, cresce o debate público sobre os desafios e impactos da realização de um evento global em uma capital amazônica. Parte das críticas tem girado em torno da infraestrutura e, principalmente, da especulação imobiliária relacionada à oferta de hospedagem. Mas, como mostram experiências anteriores, esse não é um fenômeno novo — nem exclusivo da cidade anfitriã da próxima cúpula climática.
Um vídeo publicado nas redes sociais pelo secretário de Meio Ambiente do Amazonas, Eduardo Taveira, trouxe à tona um exemplo que ajuda a contextualizar esse tipo de reação.
Nas imagens, o gestor mostra um apartamento alugado via plataforma Airbnb durante a COP29, realizada em 2024 em Baku, no Azerbaijão. O valor da diária? Cerca de 600 dólares, para uma estrutura simples que acomodava até quatro pessoas. Segundo o próprio anfitrião, fora do período da conferência, a mesma hospedagem custa entre 20 e 50 dólares.
"E assim é na maioria das COPs. Essa 'experiência' aí foi na COP29, em Baku, capital do Azerbaijão. Quatro pessoas dividiram esse Arbnb por 10 dias, com diarias de quase 600 dolares/dia. No mesmo período, com dados da mesma plataforma, sem COP, a diaria seria entre 20 e 50 dólares. Foi assim em Glasgow - que não tinha mais hotel na cidade e ficamos em Edimburgo, distante 1h30 de trem. Foi assim no Egito, em Bonm (Alemanha), em Dubai, em Marrackech... mas em Belem é um absurdo... Enfim, a hipocrisia", disse o secretário na postagem feita em sua página no LinkedIn.
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Grandes eventos internacionais, como as conferências do clima da ONU, provocam picos sazonais de demanda por hospedagem, alimentação e transporte, alterando temporariamente a dinâmica econômica das cidades-sede. É um padrão que se repete de forma quase inevitável — seja em centros urbanos altamente desenvolvidos ou em regiões menos estruturadas.
Cidades como Glasgow, Sharm el-Sheikh, Marrakesh e Dubai também enfrentaram momentos de escassez de hospedagem ou valores muito acima da média. Em vários casos, delegações inteiras precisaram buscar acomodações em municípios vizinhos, ou até improvisar alternativas mais econômicas diante da disparada de preços, mas nenhuma dessas questões fizeram com que o evento mudasse de local.
O que diferencia Belém é a cobrança desproporcional que tem sido feita desde o anúncio da COP30 na cidade. Críticas muitas vezes descoladas do contexto mais amplo das conferências climáticas têm alimentado narrativas negativas, ignorando tanto os esforços de preparação da cidade quanto as oportunidades que o evento trará.
VEJA O VÍDEO:
OS DESAFIOS DE BELÉM
Belém enfrenta, sim, desafios logísticos e estruturais para sediar um evento dessa magnitude — assim como enfrentaram outras cidades ao longo dos últimos 30 anos de COPs. No entanto, o simbolismo de realizar a cúpula do clima no coração da Amazônia e o esforço interinstitucional para preparar a cidade demonstram o compromisso do Brasil em colocar o bioma amazônico no centro das negociações climáticas globais.
Desde que foi anunciada como sede, Belém tem avançado em projetos de mobilidade, saneamento, inclusão digital e requalificação urbana, muitos dos quais deixarão um legado duradouro para a população local. O próprio mercado de turismo e hospitalidade tem passado por adaptações, com incentivo a novos modelos de hospedagem, capacitação profissional e iniciativas para conter abusos e garantir o acesso justo à cidade durante o evento.
Ao acolher a COP30, Belém assume não apenas a responsabilidade de hospedar uma das maiores conferências do mundo, mas também a chance de mostrar sua força, resiliência e diversidade. A comparação com outras cidades-sede reforça que a pressão sobre preços e acomodações é parte do pacote — e não uma exclusividade amazônica.
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