
Há situações na política em que o poder muda de mãos, mas as sombras que rondam os protagonistas continuam a lançar dúvidas e incertezas sobre o futuro da gestão pública. É o que acontece em Ananindeua, onde o afastamento judicial do prefeito Daniel Santos abriu caminho para que seu vice, Hugo Atayde, assuma o comando da cidade, apesar das acusações pesadas que o cercam.
O afastamento do prefeito Daniel Santos, decidido pela Justiça do Pará, é um marco que revela o turbilhão de denúncias envolvendo as altas esferas da administração local. Hugo Atayde, seu vice, tomou posse para governar o município, porém carrega consigo um histórico judicial preocupante. Réu em ação penal por tortura e associação criminosa armada, Atayde é acusado pelo Ministério Público de liderar um grupo de extermínio que teria envolvido policiais militares.
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A denúncia detalha a participação de Atayde na tortura e morte de Matheus Gomes Silva, jovem de 23 anos, ocorrida em 2019. Segundo o MP, o crime teve origem em uma suspeita inicial contra uma adolescente de 16 anos, ex-babá da família, que teria sido coagida sob ameaça para revelar o paradeiro de Matheus. O jovem teria sido detido, torturado e, posteriormente, executado com tiros disparados por munição da Polícia Militar, em um carro pertencente a uma policial militar. Além do homicídio, o grupo é acusado de divulgar imagens nas redes sociais para associar Matheus ao Comando Vermelho, numa tentativa de justificar o assassinato.
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Embora o Tribunal do Júri tenha rejeitado a acusação de homicídio contra Atayde, os processos por tortura e associação à milícia seguem tramitando na Justiça comum. Paralelamente, ele ocupa cargos políticos importantes, tendo assumido uma cadeira na Câmara Municipal logo após o crime e, mais recentemente, a vice-presidência do diretório estadual do PSB, junto com Daniel Santos, que exerce a presidência.
INVESTIGAÇÃO APONTA DESVIO NA SAÚDE MUNICIPAL
Daniel Santos é alvo de uma investigação do Ministério Público por suspeita de desviar mais de R\$ 261 milhões da saúde municipal, por meio de contratos superfaturados com o Hospital Santa Maria de Ananindeua, instituição da qual teria sido sócio. O prefeito afastado tenta impedir o avanço da apuração no Supremo Tribunal Federal.
O Ministério Público acusa a Prefeitura de Ananindeua de manter o pronto-socorro municipal em condições precárias e de atrasar propositalmente o repasse de verbas a hospitais particulares que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A estratégia teria como objetivo favorecer o Hospital Santa Maria de Ananindeua (HSMA), do qual Daniel Santos foi sócio até 2022.
Embora tenha se desligado formalmente da sociedade, a Promotoria sustenta que há indícios de que o prefeito ainda exerce influência sobre a administração do hospital. Segundo a investigação, o faturamento da unidade saltou de R\$ 3 milhões para R\$ 116 milhões em apenas quatro anos, impulsionado por recursos públicos do SUS.
No pedido de intervenção apresentado à Justiça, o Ministério Público afirma que Daniel Santos estaria promovendo uma "concorrência predatória e desleal", com o objetivo de inviabilizar financeiramente outros hospitais da região. Como consequência dessa política, o Hospital Anita Gerosa, um dos mais tradicionais do município, anunciou o fechamento de sua maternidade, alegando a falta de repasses da prefeitura.
No campo judicial, a Operação Hades, conduzida pelo Ministério Público do Pará com apoio do Grupo de Atuação Especial de Inteligência e Segurança Institucional, cumpriu mandados de busca e apreensão em diversos endereços na Região Metropolitana de Belém e fora do estado. A ação apura crimes como fraude em licitações, corrupção ativa e passiva, envolvendo agentes públicos e empresários.
Apesar do escândalo, Daniel Santos e Hugo Atayde continuam à frente do diretório estadual do PSB, resistindo às pressões políticas e judiciais. Ambos seguem com seus futuros indefinidos diante da gravidade das acusações.
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