Metodologia de ensino que utiliza a tecnologia para que os alunos construam robôs e aprendam conceitos de forma interdisciplinar, a robótica educacional está cada vez mais presente nas salas de aula da rede estadual. Com uma abordagem interativa, estimula a aprendizagem de Ciências, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática de modo a desenvolver habilidades de pesquisa científica e incentiva o trabalho manual, por meio de experimentos, hipóteses e análise de resultados.
Apaixonado confesso pela robótica e usuário do processo com alunos do Ensino Médio e Fundamental desde 2017, o professor de Artes Visuais, Rafael Herdy, integrante do Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE) da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), comemora o excelente momento para a expansão desse tipo de prática: o Governo do Pará, por meio do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), do Ministério da Educação (MEC), liberou recentemente cerca de R$ 500 mil em recursos para a compra de kits robóticos da LEGO® de última geração e usados no mundo inteiro, beneficiando 20 escolas estaduais que, de alguma forma utilizam a metodologia.
“Começamos pequenos, usando materiais mais acessíveis, mas agora nesse último ano demos um salto muito importante na área da robótica educacional a partir da compra de quatro kits, além de vários materiais acessórios que permitem que as escolas consigam criar todo um ecossistema, todo o ambiente que proporciona a criação de projetos, de dinâmicas, de escutas, de competições para estimular a aprendizagem dos componentes curriculares pela robótica educacional”, detalha o docente, que também atua no Centro Educacional de Inovação Tecnológica e Computacional de Belém (Cetec) na formação de professores na área de tecnologia educacional.
Herdy garante que os alunos que se envolvem com processos relacionados à robótica têm um considerável ganho qualitativo de aprendizagem. Aquele momento do aluno ali controlando o robozinho é apenas a culminância de um processo muito mais enriquecedor. “O que antecede os eventos, os torneios, é importante. Porque lá o aluno vai aprender Matemática, Física, vai aprender sobre Língua Portuguesa, porque ele vai precisar escrever relatório, vai precisar defender uma teoria. Então na verdade é um trabalho, um projeto, cuja culminância é uma atividade que utiliza a robótica”, reforça.
ROTINA
Na rede pública estadual a prática da robótica se dá em dois cenários: nas escolas de tempo integral, que já possuem a metodologia na grade curricular; e em escolas onde há alunos que estudam em tempo integral, com a criação de uma espécie de clube e extensão da jornada diárias em duas horas a mais. Engana-se quem pensa que só disciplinas ligadas às Ciências Exatas se encaixam na prática.
“ A robótica educacional, ela pode estar dentro de qualquer componente curricular não precisa estar separada, então por exemplo, sou professor de arte, né? E eu já consegui elevar os meus alunos aí pelo Brasil, participei de evento, então não tem uma limitação do componente curricular. Não é o professor de Matemática somente, ou o de Física que podem desenvolver. Dá para ampliar muito, porque o professor pode trabalhar especificamente um determinado conteúdo pela robótica, e aí não tem limite”, justifica Rafael Herdy.
A interdisciplinaridade da robótica educacional se dá inclusive na sua expansão, que aqui no Pará hoje tem como um de seus parceiros o Serviço Social da Indústria no Pará e também a Federação das Indústrias do Estado do Pará (Sesi/Fiepa), que anualmente realizam uma edição regional do Torneio Sesi de Robótica. Uma das programações relacionadas ao evento ocorre nos dias 5 e 6 de dezembro, quando o Sesi Ananindeua promoverá uma imersão nos projetos de inovação que giram em torno da temporada 2024/2025 da FIRST® LEGO®; League Challenge, SUBMERGESM.
“A gente sempre provoca os nossos estudantes a participar de eventos de iniciação científica e nos torneios de robótica, e o mais conhecido mundialmente é o First Lego League, que no Brasil é coordenado pelo SESI”, afirma. Eles competem com alunos de escolas particulares, de igual para igual. “Nossos alunos participam, já foram algumas vezes para Brasília e para São Paulo participar de pré-etapas nacionais. Inclusive uma vez foram alunos da escola estadual Cordeiro de Farias, de Belém, como única escola pública do Norte a participar da competição em nível nacional. Já participamos da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), promovida pela Universidade de São Paulo (USP), da Mostra de Ciência e Tecnologia do Instituto Açai (MCTIA)”, orgulha-se, especialmente por já ter sido professor de lá e coordenado uma equipe de estudantes a partir da metodologia da robótica educacional.
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Rafael Herdy inclusive antecipa que os núcleos de tecnologia educacionais ligados à Seduc vão ter um upgrade para se tornar o Centro de Inovação e Sustentabilidade da Educação Básica, o Siseb, e o primeiro deles tem previsão de inauguração ainda para 2024 e vai funcionar dentro da própria escola Cordeiro de Farias, que fica no bairro do Souza. “Vai ter, além da sala de robótica, seis salas de imersão, sala de prototipagem, fabricação digital, que é uma sala onde nós se vai aprender a usar cortadora laser, impressora 3D, vai ter sala de realidade aumentada e virtual, daquelas que se usa os óculos de imersão para fazer visitas, por exemplo, a museus”, revela.
Jéssica Aguiar, de 12 anos, cursa o 8° ano da Escola Estadual Jarbas Passarinho e integra a Equipe Pavulagem, que reúne outros cinco estudantes da rede pública dedicados a participar de competições, feiras, torneios e outros eventos ligados à robótica. A menina conta que se interessou pelo tema junto com o irmão, que já participava de torneios, enquanto ela apenas acompanhava, esperando ter idade mínima para entrar no grupo.
“O projeto me ajuda em todas as coisas: a ter um desempenho melhor na escola, seja na Matemática ou, por exemplo, seja em usar a própria robótica para dar exemplos de coisas que nós podemos fazer no dia a dia, em redações, pode ajudar a usar uma metáfora. Para outros cálculos, na área de Física. Acho muito importante ter esses projetos de robótica nas escolas para que os alunos se desempenhem, aprendam mais sobre a tecnologia que tem às vezes no próprio telefone celular e eles nem sabem. A robótica, a tecnologia está em todas coisas que nós vivemos na atualidade, e ter isso na escola exercita a mente, a criatividade”, avalia a jovem estudante.
Cursando faculdade de Sistemas de Informação, Karen Santos integrou a Equipe Pavulagem desde 2019 até terminar o Ensino Médio, e participou de competições. Ela tinha interesse no tema, mas não tinha como fazer os cursos sobre o assunto, quase todos pagos, até aparecer uma seleção para a equipe de Herdy, e passou.
“Na robótica eu aprendia vários conceitos de Matemática, Física, dentre outros que agregavam no meu conhecimento e aprendizado. Nos torneios eu desenvolvi a minha comunicação e apresentação, que eram muito importantes em seminários escolares”, reconhece. “Foi como um pré-aprendizado de programação, me ajudou muito a desenvolver a lógica, que na faculdade na área de Tecnologia da Informação é crucial. Projetos relacionados à robótica, programação e TI vão sempre contribuir para o conhecimento dos alunos, como também um melhor desenvolvimento para trabalho em equipe e comunicação”, defende.
Marcia Arguelles Pantoja é gerente executiva de Educação do Sesi no Pará, e conta que, nas escolas do Sistema, a robótica começou a tomar força em 2006, quando a rede operacionalizou e incluiu no seu currículo esse tipo de atividade em todo o país, por meio do programa de robótica educacional da First Lego League. Ela reforça que não é só é participar das competições, mas também multiplicar as atividades de iniciação científica e desenvolver os conhecimentos em programação nos vários ramos profissionais, já que todas as habilidades adquiridas relacionam-se com o currículo escolar, incluindo ainda as crianças e os jovens que moram no entorno das escolas.
“O Torneio Sesi de Robótica obteve seu desenvolvimento e estímulo por várias razões e etapas importantes: as crianças de hoje não aprendem como as de outras gerações. A escola precisou também se adequar e trazer novas metodologias e estratégias para a sala de aula e a robótica educacional, além de ‘ conversar’ com os componentes curriculares, aguça a curiosidade dos estudantes em solucionar problemas, sem perder o encantamento, a alegria e os valores essenciais do mundo moderno”, explica.
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Márcia confirma que a robótica tem um papel fundamental para uma indústria mais sustentável, e por isso o Sesi tem sido um grande incentivador desse conceito e sua aplicabilidade - robôs podem otimizar processos de produção, reduzindo o consumo de energia e minimizando desperdícios; sistemas robóticos podem ser usados para separar e processar materiais recicláveis de forma mais eficiente, entre outros.
“No Pará temos projetos dos estudantes do Sesi premiados internacionalmente envolvendo desenvolvimento de energia solar para as embarcações regionais, faixas de pedestres inteligentes, forma automatizada da colheita do açaí e projetos de inclusão dos indígenas à robótica com o apoio da indústria local”, enumera.
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