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TRABALHO

A arte de consertar coisas como profissão e paixão

O DIÁRIO conversou com trabalhadores que tem o serviço de reparos como “ganha-pão”e eles contam que, além de sustentar a família com a habilidade manual, também gostam da rotina de agradar os clientes

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Imagem ilustrativa da notícia A arte de consertar coisas como profissão e paixão camera Às vezes aparecem clientes com aquelas cadeiras coloniais antigas, aquilo tem um valor simbólico, com certeza é importante para a pessoa e ela não quer se desfazer ou comprar uma nova. Aí a gente quando entrega, se sente realizado” Saulo Porto, reformador | Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará

“Tenho maior orgulho dessa profissão. É antiga, mas gratificante”, afirma o sapateiro Lázaro Santos, 50 anos, que há 10 trabalha por conta própria em uma loja situada próximo à travessa Padre Eutíquio, em Belém.

Saltos de borracha, solas de sapato e malas de viagem são peças que fazem parte da rotina de Lázaro que inicia o dia de trabalho às 9h e encerra próximo ao anoitecer, às 18h. Contudo, apesar de trabalhar para si próprio há uma década, foi na infância trabalhando ao lado do irmão, que ele aprendeu o ofício que o ajudou a manter sua família e investir na educação das duas filhas.

“Estou há tanto tempo na profissão, que nem sei ao certo quanto tempo trabalho com isso, é como se isso já fizesse parte de mim há mais tempo do que imagino. Trabalho neste ponto há 10 anos, mas já trabalhei em lojas também, como sapatarias”, relembra.

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Cuidadoso com o que faz, o sapateiro usa a máquina de costura coluna – um modelo capaz de atravessar quase 100 folhas de papel em uma única passada, executando costuras de qualidade sem agredir os materiais e agregando valor estético. Por dia, o profissional reforma e conserta, em média, 30 peças, entre sapatos, malas e bolsas, dependendo do grau de dificuldade. “Costumo dizer que tenho um casamento com essa máquina, poucos trabalham com ela por aqui”, ressalta.

Deste ‘casamento’, ele conta orgulhoso que conseguiu formar no ensino superior, suas duas filhas. Hoje uma é contadora e outra personal trainner. “Além de ter construído minha vida com esse trabalho, é muito gratificante também cuidar com carinho das coisas que para outras pessoas, têm valor inestimável. Ver a gratidão delas quando recebem uma mala de volta, um sapato, é gratificante para mim”, destaca.

REPAROS

O sentimento de gratidão também acompanha o mecânico de bicicletas, Adonilson Pereira, 37, a cada reparo e reforma feita. “O que mais gosto no meu trabalho é de ver as pessoas saindo felizes daqui, com suas bicicletas

consertadas”, afirma. Natural do município de Viseu, no nordeste do Estado, o mecânico conta que já trabalhou na indústria madeireira, fazendas e em todos os tipos de serviços braçais.

No entanto, foi observando e trabalhando com um amigo em uma oficina, que aprendeu boa parte do que sabe hoje sobre consertos de bicicletas. “Parei nessa área porque descobri que é o que gosto de fazer. Apesar de não pedalar, porque sempre andei de moto, acho interessante ver as pessoas pedalando, usando para lazer ou trabalho”, ressalta.

Hoje, o mecânico que trabalha em uma oficina situada no bairro da Pedreira, na travessa Mauriti, diz que possui clientes fidelizados e sua rotina consiste em estar rodeado de coisas que sempre quis: câmaras de ar, aros de vários tamanhos e boas conversas. “Gosto das pessoas que conheço por aqui, do ambiente que é tranquilo, do bate-papo e, claro, das pessoas saindo felizes daqui com o meu trabalho”, comenta.

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SATISFAÇÃO

Em outra área de consertos, desta vez dos estofados, Saulo Porto, 34, conta que apesar dos momentos de estresse que o atendimento ao público pode proporcionar, após horas se dedicando ao conserto de um sofá, por exemplo, sua realização pessoal consiste em perceber a satisfação do cliente

quando tudo fica pronto. “Às vezes aparecem clientes com aquelas cadeiras coloniais antigas, aquilo tem um valor simbólico, com certeza é importante para a pessoa e ela não quer se desfazer ou comprar uma nova. Aí a gente quando entrega, se sente realizado”, explica.

Foi fazendo consertos e reformas, no qual aprendeu também observando outros colegas, que Saulo conseguiu viver da forma que gostaria. Ele conta que já trabalhou formalmente em outros locais, mas os baixos salários não compensaram. “Foi aí que quis aprender a profissão, entendi que precisava aprender alguma coisa para sair daquela situação. Não tenho filhos, mas tenho esposa e com o meu trabalho aqui, consigo nos manter. E fora isso, também tem cada figura que aparece por aqui, com cada conserto pra gente fazer… no final tudo compensa”, completa.

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