Hoje (27), Dia de São Cosme e Damião, é daqueles onde cenas de crianças correndo de um canto para outro pelo bairro com os bolsos, sacolas e mãos cheias de doces são muito comuns. Em terreiros de umbanda e candomblé, é dia de festa regada a muitas guloseimas para os ibejis, filhos gêmeos de Xangô e Iansã.
No bairro do Jurunas, há 12 anos a criançada já sabe onde ir nesta época. A casa da devota e afro-religiosa Nazaré Regina, de 53 anos, é o ponto de encontro que une fé e alegria. “Meu neto nasceu com problema de saúde e fiz a promessa de que se a saúde dele fosse restaurada, faria a distribuição de doces na comunidade. Desde então, todos os anos, pago essa promessa que não tem data para acabar. Na pandemia, não tivemos a festa que costuma ser, mas fizemos uma ‘mesinha’ para não passar em branco”, conta.
Com ajuda de membros da família, a casa, que fica na vila situada na passagem Marcílio Dias, é toda decorada para a tradicional festividade que não só consiste em distribuir doces para as crianças, mas também oferece uma mesa farta com bolos, tortas de chocolate, pizza e hambúrgueres. Para a devota, a tradição vai além de compartilhar saquinhos de guloseimas na comunidade, é uma missão de vida. “É uma alegria tão grande no dia quando vejo tudo pronto, as crianças chegando. Me sinto realizada! Isso é uma missão de vida, enquanto eu tiver vida vou fazer tudo o que puder nesse dia”, afirma Nazaré.
COMUNIDADE
O Instituto Cultural Nagô Afro-Brasileiro (ICNAB), que fica no bairro da Pedreira, festeja o dia dos gêmeos, há mais de 50 anos, envolvendo toda a comunidade do entorno. Desde o início da semana, doações de brinquedos e doces são entregues no instituto. Hoje, a partir das 12h, um almoço será oferecido às famílias. Mas é por volta das 17h, quando os bombons são distribuídos, que a criançada rouba a cena.
De acordo com o babalorixá Fernando de Ogum, cerca de 500 crianças são contempladas na festividade. Ele ainda explica um pouco sobre a tradição de culto aos irmãos e ressalta a importância do festejo que integra a comunidade ao terreiro. “Para nós, do Axé, eles são espíritos ancestrais que ajudam muito a gente. Nas religiões de matriz africana, eles são orixás, ibejis, filhos de Xangô e Iansã. Através do desencarne, eles se tornaram orixás e protetores das crianças, assim como São Cosme e Damião, que são santos católicos, foram médicos e salvaram as pessoas. Então, essa é uma tradição muito bonita que se faz aos erês (crianças), além de trazer a comunidade para dentro do terreiro, desmistificando preconceitos no combate à intolerância religiosa”, ressalta.
PARA ENTENDER
Os santos
Na religião católica, Cosme e Damião eram dois irmãos gêmeos, considerados curandeiros - médicos na comunidade onde viviam. Para o catolicismo, não havia nenhuma ligação entre os irmãos e as crianças ou a distribuição de doces. Essa prática veio da associação que os negros escravizados fizeram de Cosme e Damião a orixás da umbanda e do candomblé: os Ibejis, filhos gêmeos de Xangô e Iansã. Para os católicos, a celebração ocorre no dia 26 de setembro, para o candomblé e a umbanda, no dia 27.
Fonte: Agência Brasil
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