O cultivo de plantas e alimentos em superfícies empilhadas verticalmente está no centro de uma tecnologia alinhada com as demandas da sustentabilidade, as chamadas fazendas verticais. Na medida em que podem ser estruturadas em prédios, containers ou mesmo em galpões reaproveitados, as fazendas verticais possibilitam a obtenção de uma grande produção de espécies vegetais em uma área menor do que a utilizada pelo cultivo tradicional.
Doutor em ciências agrárias, com experiência na área de Produção Vegetal e ênfase em Fisiologia e Bioquímica Vegetal, o professor da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), Cândido Ferreira Neto, explica que, para que vegetais possam ser cultivados dentro desses espaços, como galpões e containers, é necessário montar uma estrutura específica.
“Dentro das condições, você tem uma tecnologia envolvida, você tem uma tecnologia que é totalmente climatizada. Então, dentro dessas fazendas verticais ou suspensas você controla gás carbônico, temperatura, luminosidade, umidade, a parte de fertilidade para nutrição da planta, então, há todo um aparato estrutural e tecnológico, bem como recursos humanos, especialistas ligados a essa área. Como é uma área ainda nova, ainda estão escassos esses recursos humanos”.
O professor destaca que o que vem sendo muito trabalhado nesta forma de cultivo são as folhosas, as hortaliças, principalmente pelo fato de serem de menor porte.
“Há uma produção muito grande em espaço menor e elas são muito comercializadas. Mas o avanço da tecnologia e estrutura também já tem começado a colocar estudos para ver se conseguem cultivar outros tipos de plantas de porte intermediário. Alguns locais já estão cultivando tomate, estão tentando trabalhar com pepinos e outras áreas, então, a tecnologia está avançando e ampliando esses contêineres para avançar para uma nova linha de produção de outras espécies vegetais”.
Cândido explica que são vários os benefícios proporcionados pelas fazendas verticais, que vão desde a possibilidade de ter um bom volume de cultivo em uma área reduzida, até a economia de água.
“O primeiro benefício é que você tem uma grande produção de espécies vegetais em uma área menor, comparado, em termos de produtividade, com a área tradicional. Então, você tem uma produção às vezes maior por metro quadrado do que uma área tradicional”, considera. “Um segundo benefício é que você não usa pesticida, inseticida, você consegue trabalhar sem pragas, basicamente, e doenças em cima desses vegetais”.
Outro benefício apontado pelo professor refere-se à parte hídrica. “Você reaproveita e economiza até 95% da água, em comparação ao tradicional. O outro [benefício] é que você economiza até 60% dos fertilizantes quando você também compara ao campo e tem mais uma importante que é a possibilidade de trabalhar com esse tipo de cultivo nas zonas urbanas”, considera. “Há uma perda muito grande desse material quando ele vem do campo até chegar nas zonas urbanas, nos mercados”.
Em relação ao ganho de produtividade, o professor destaca que a própria possibilidade de controlar algumas condições de cultivo geram esse benefício.
“Às vezes, dependendo da condição e da espécie que você está cultivando, você pode ter uma produção maior de até 50% até 70% por metro quadrado em comparação a uma planta do campo, então, você tem uma produção bem melhor, mas por que essa produção se torna bem melhor? Porque não tem ataque de pragas e doenças, você tem um local totalmente climatizado, onde as plantas não sofrem com intempéries do meio ambiente, como a falta de chuva ou excesso de chuva, altas temperaturas, luminosidade, então, com tudo controlado, você consegue aumentar a produtividade muito mais em comparação ao campo”, explica.
“Além do volume melhor, há a qualidade em termos de sabor. As hortaliças, por exemplo, ficam crocantes, o sabor fica melhor, o produto também se torna mais atraente”.
Em países como os Estados Unidos, por exemplo, o professor destaca que já estão fazendo um consórcio entre a produção de hortaliças e peixes no mesmo espaço. “O que acontece é que o resíduo dos peixes serve como fertilizantes para a planta. Assim, você economiza no fertilizante e a produção também de peixe é comercializada”. No Brasil, o que se tem conhecimento, segundo o professor, é que a primeira lavoura vertical da América Latina foi instalada em São Paulo, com cerca de 200 metros quadrados de área produtiva.
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Estruturas precisam de iluminação e espaços adequados
Na medida em que o modelo de plantio de espécies vegetais em estruturas fechadas demanda o controle dos fatores ambientais que interferem no crescimento do vegetal, a Embrapa Hortaliças (DF), e parceiros da iniciativa privada, realizam estudos para definir sistemas de produção adequados para a produção de diferentes espécies de hortaliças em ambiente controlado e fechado, como os das chamadas fazendas verticais.
Para que o crescimento vegetal seja possível, é necessário que se mantenha o controle sobre a luminosidade que chega até as hortaliças, por meio de iluminação artificial com painéis de LED, além do controle de variáveis como a temperatura, umidade relativa do ar, concentração de CO2, entre outras variáveis. Para que os estudos fossem possíveis, em 2020 foi montada uma estrutura de 48 m², composta por dois contêineres com isolamento térmico, e equipada com sensores que possibilitam monitorar as condições ambientais necessárias. A estrutura integra o Laboratório de Agricultura em Ambiente Controlado da Embrapa Hortaliças, localizada no Distrito Federal.
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