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Entidades debatem racismo no comércio do Pará

Durante a reunião, relatos diversos das lideranças da sociedade civil apontam a situação de racismo como sendo mais corriqueira do que se imagina no interior de estabelecimentos comerciais em geral.

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Imagem ilustrativa da notícia Entidades debatem racismo no comércio do Pará camera Deputados e entidades representativas estiveram na sessão | Divulgação/Alepa

O noticiário e as redes sociais vêm relatando nos últimos tempos práticas de racismo ocorridas no comércio e supermercados com mais frequência. Evitar e combater essa prática é um dever de todos e diante deste contexto um processo de conscientização contra atitudes discriminatórias, entidades ligadas ao comércio paraense se reuniram na segunda-feira (18).

Situações de racismo e preconceito em ambientes comerciais, supermercados e shoppings do Estado foram debatidas no plenário João Batista da Assembleia Legislativa do Estado do Pará, pela Comissão de Direitos Humanos e de Defesa do Consumidor da Alepa.

A reunião foi coordenada pela deputada Marinor Brito (PSOL), membro da CDHDF, na presença de representantes da Associação Paraense de Supermercados (ASPAS); Associação Comercial do Pará (ACP); Clube de Diretores Lojistas (CDL); e representantes de movimentos LGBTQIA+ e de negros.

O encontro foi solicitado à comissão, presidida pelo deputado Carlos Bordalo (PT), a partir de denúncias de discriminação contra negros, índios, ocorrências de LGBTQIA+fobia e outras práticas de discriminação que tiveram grande repercussão na mídia local.

Durante a reunião, relatos diversos das lideranças da sociedade civil apontam a situação de racismo como sendo mais corriqueira do que se imagina no interior de estabelecimentos comerciais em geral, principalmente na capital e, em casos mais extremos e emblemáticos, como o caso do homem negro morto por seguranças dentro de uma loja do Carrefour em Porto Alegre e da dona Anastácia, uma senhora de 83 anos de idade que foi injustamente acusada de furto no supermercado Cidade no bairro da Pedreira, em Belém.

"Eu, muitas vezes, fui brutalmente discriminada dentro de farmácias de uma antiga rede, os seguranças ficavam o tempo inteiro atrás de mim", relatou a jornalista Elza Rodrigues, do Centro de Defesa do Negro do Pará (CEDENPA) e da Coordenadoria Antirracista da Prefeitura de Belém. Para ela, isso acontece diariamente com a maioria de negros e negros no Brasil "porque existe uma estereotipização do corpo negro, de que somos ladrões, indivíduos suspeitos", disse.

"Infelizmente, a maioria dos espaços das empresas, dos shoppings, supermercados são doloridos para o exercício da cidadania porque nunca entramos nestes espaços de maneira tranquila". Ela relatou que quando pega qualquer coisa nestes locais, inconscientemente, procura demonstrar publicamente o que está pegando para não ser confundida. E se emocionou quando relatava outro caso de racismo contra o seu sobrinho, advogado, sofrido dentro de um magazine.

No caso de Jorge André, a discriminação foi mais velada "me senti constrangido por causa de um segurança do supermercado Econômico/Jurunas, que de forma ostensiva passou entre meu carrinho e a gôndola, um espaço mínimo, como se estivesse dizendo estou de olho em você. O caso foi denunciado, mas o delegado caracterizou o caso como atípico", disse.

Foi citado pelo advogado Beto Paes, o caso de uma menina trans de 16 anos que foi brutalmente espancada e teve o braço quebrado por taxistas cooperados na Doca de Souza Franco. Na justiça, além da indenização foi obtida a realização de oficinas com todos os cooperados sobre o que significava a LGBTQIA+fobia. E relatou ainda outros casos de ocorridos em grandes pontos comerciais da cidade. Lizomar Cunha, de São Miguel do Guamá, denunciou uma situação de preconceito ocorrida contra ele em um supermercado de uma grande rede em Belém.

Para a deputada Marinor Brito, o balanço da reunião foi positivo. "Vieram os movimentos e os representantes dos lojistas e de supermercados que se comprometeram a organizar um Grupo de Trabalho a partir da Comissão de Direitos Humanos para encontrar saídas comuns". E a principal formulada, foi a necessidade de implementar a formação e a capacitação dos trabalhadores dos estabelecimentos comercias. A deputada aposta na disposição em comum para impedir a reprodução de relações de discriminação e racismo, de desrespeito ao direito de ir e vir das pessoas".

O advogado das Aspas, Francinaldo Oliveira, considerou importante a reunião. "Demonstramos que há uma boa vontade do segmento supermercadista em acabar com esse tipo de episódio que vem, eventualmente, ocorrendo no ambiente do supermercado e que são interpretados como uma questão racista", disse. No entanto, pediu atenção da situação dos pedintes que assediam os clientes, o que para os supermercadistas é um problema sério. "E dentre esses pedintes, há pessoas negras que podem ser confundidas", falou.

O presidente do CDL, a reunião foi muito proveitosa. "O CDL já faz há mais de 30 anos cursos de capacitação com os funcionários do comércio no Estado", disse Álvaro Cordoval, que se colocou à disposição do Grupo de Trabalho proposto para encontrar novos caminhos para abordar a situação.

Participaram ainda da reunião Lauro Leonidas, vice-presidente da Associação Comercial do Pará (ACP); Paulo Maia, assessor jurídico do CDL; Alessandro Falabelo, Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH); Milene Lauande, UFPa; o advogado Fernando Albuquerque; Jaqueline Alcântara da Coordenadoria Antirracista – Coant da Prefeitura de Belém; e Jean Brito, assessor jurídico.

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