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Dura realidade da Transamazônica no Pará para todo mundo ver

Youtuber mostra a realidade diária de quem trafega pela BR-230, entre Uruará e Placas. Lama, atoleiro, poeira e a esperança de quem tenta mudar de vida seguindo por uma das maiores rodovias do país

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Imagem ilustrativa da notícia Dura realidade da Transamazônica no Pará para todo mundo ver camera Dura realidade da transamazônica pode ser vista nas redes sociais | Wagner Almeida

O canal tem 147 mil inscritos e os vídeos publicados já foram visualizados por mais de 42,6 milhões de pessoas no YouTube. É como se fosse um verdadeiro diário digital de um trecho de 62 quilômetros da rodovia BR-230, a Transamazônica. Com uma câmera do tipo Gopro e um celular, o administrador Thiago Lima, de 38 anos, registra e compartilha a difícil realidade de quem trafega por esta estrada, mais precisamente no perímetro entre os municípios paraenses de Placas e Uruará.

Nesta época do ano, em que as chuvas estão bem mais frequentes na região, imagens de carros, caminhões e ônibus atolados representam as principais pautas desse diário virtual. Veículos grandes e pequenos que transportam cargas e pessoas, e que levam e trazem histórias de vidas escritas em cada milímetro dessa rodovia federal que tem mais de cinco décadas e nunca foi asfaltada por completo. E olha que o país já teve doze presidentes e nenhum deles concluiu a pavimentação deste importante corredor rodoviário.

Thiago Lima ganhou muitos seguidores que, vez ou outra, pedem apoio para sair dos atoleiros na estrada
📷 Thiago Lima ganhou muitos seguidores que, vez ou outra, pedem apoio para sair dos atoleiros na estrada |Wagner Almeida

Quando chegou a Uruará, Thiago tinha somente 2 anos de idade. Nesta idade não é possível ser crítico quanto às mazelas que são uma realidade na região. Passou a infância e também a vida adulta vivendo com a poeira da estrada, que prevalece durante o verão, e com os atoleiros do inverno, quando a BR-230 fica praticamente intrafegável em virtude do lamaçal que resulta da chuva. “Eu mostro o cotidiano nosso, daqui da Transamazônica”, destacou sobre os vídeos que publica no canal.

O material também está no Facebook. Durante uma rápida conversa por telefone, o influencer não lembrou de imediato a data em que postou o primeiro vídeo. “Mas lembro que em pouco tempo alcançou mais de 300 mil visualizações. Eu não tinha ideia da dimensão que isso iria chegar”, pontuou.

Lamaçal dificulta a circulação de automóveis, como caminhões
📷 Lamaçal dificulta a circulação de automóveis, como caminhões |Wagner Almeida

Caminhoneiros, moradores da região, motoristas de ônibus intermunicipal passaram a seguir Lima nas redes sociais e a pedir apoio quando pegarem a rodovia. “Eu vou junto com amigos e às vezes familiares no meu carro resgatar os carros que estão atolados. Faço isso de graça, para ajudar. Também levo alimentos para quem vai ficar aguardando resgate caso eu não consiga ajudar a rebocar”, prosseguiu. “Acontece sempre. Um caminhão carregado que atola precisa de uma máquina (trator) mais forte para tirar da lama”, comentou Thiago.

“As pessoas que a gente ajuda a sair da lama pediam para a gente plotar o nosso carro. Assim eles conseguiriam identificar quando a ajuda estava chegando. Conheci muita gente, aprendi com muitas histórias e todos os ensinamentos nos mostram o caminho da humildade”, encerrou a entrevista, que foi interrompida porque Thiago precisa ir trabalhar. “Acabei de chegar de um resgate, mas agora vou para o trabalho. Daqui a pouco postarei o vídeo”, completou.

O conteúdo é exibido até de forma descontraída, com críticas saudáveis, quando precisam ser feitas, e sem expor as pessoas de forma pejorativa.

Período de outubro a março é o mais crítico

A Transamazônica está entre as maiores estradas do mundo, com 4.223 quilômetros de extensão. Liga Cabedelo (PB) a Lábrea (AM). Interliga sete estados das regiões Nordeste e Norte do Brasil, sendo eles Paraíba, Ceará, Piauí, Tocantins, Maranhão, Pará e Amazonas.

O início de sua construção data de 1969 pelo governo de Emílio Garrastazu Médici, que queria aumentar o povoamento na região amazônica.

Todo mundo tem que "dar seu jeito" de passar pelo atoleiro
📷 Todo mundo tem que "dar seu jeito" de passar pelo atoleiro |Wagner Almeida

O período mais crítico para trafegar pela BR-230 é de outubro a março, quando a quantidade de chuvas aumenta, devido ao inverno amazônico. A situação fica tão complicada que até os serviços essenciais ficam comprometidos. Jackson Mota, 27, é eletricista e trabalha na concessionária de energia. A equipe dele precisava se deslocar de Placas para Uruará para fazer a manutenção na rede de distribuição.

Eles ficaram por mais de duas horas no congestionamento da estrada porque um caminhão estava atolado. “É assim todos os dias por aqui. Iremos retornar para a base e o serviço terá de ser feito em outro momento”, disse.

A agricultora Maria de Oliveira, 42, veio do Paraná tentar a vida no Pará. Mas já na chegada, teve de enfrentar o lamaçal da Transamazônica. “É muito sofrimento”, descreveu. (Colaborou Wagner Almeida)

PARA ENTENDER

SOBRE A TRANSAMAZÔNICA

* Tem 4.223 Km de extensão, liga Cabedelo (PB) a Lábrea (AM);

* Interliga sete estados brasileiros;

* A construção começou em 1969;

* Em mais de 50 anos, nunca foi asfaltada;

* Durante o período chuvoso (outubro a março) fica quase intrafegável.

CANAL DO THIAGO LIMA:

Inverno na Transamazônica (YouTube)

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