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BELÉM

Casarões: fechados e sentindo o efeito do tempo

Esse efeito é visível mesmo do lado de fora. As janelas se encontram danificadas e muitas já não possuem mais as vidraças. As portas de acesso aos imóveis seguem interditadas com paredes de tijolos e as fachadas já acumulam vegetações que nascem por entre as frestas.

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No estreito caminho que passa ao lado da fortificação que deu início à formação da cidade de Belém, o casario instalado na Rua Ladeira do Castelo não passa despercebido. Composto por uma sequência de janelas que se enfileiram por toda a extensa fachada, a construção que acompanha o movimento da ladeira é um dos exemplares da arquitetura encontrada na capital paraense ainda no século XVIII. Apesar da importância histórica e patrimonial, os casarões seguem deteriorando com o passar do tempo.

Professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) e coordenador do Fórum Landi, o arquiteto Flávio Nassar aponta que os casarões foram uma ‘segunda ala’ instalada na parte de trás do Museu de Arte Sacra, instalado no complexo do antigo Colégio dos Jesuítas. “Este casario todo integrava o antigo Colégio dos Jesuítas de Belém. Era das mais importantes construções de Belém da época e abrigava uma grande biblioteca. Neste período de 1700, era a maior que existia na região amazônica”.

O arquiteto e professor da UFPA, Flávio Nassar.
📷 O arquiteto e professor da UFPA, Flávio Nassar. |Rogério Uchoa

O professor destaca que a atual construção vista no local data da primeira metade dos anos 1700, porém, o uso do espaço pode vir desde antes desse período, considerando que durante o início da formação urbanística da cidade de Belém era comum que as primeiras edificações erguidas fossem derrubadas para que novos prédios fossem construídos. “Esses prédios de antigamente, com o tempo, eram derrubados para que fossem construídos outros. Então, esse local, que ficava ali no conjunto do Forte do Castelo, já era um local muito importante desde a fundação de Belém. Mas essa atual construção do casario é dos anos 1700”.

Fechados e sem uso, os casarões hoje sentem o efeito do tempo. Efeito esse visível mesmo do lado de fora. Formadas por duas ‘folhas’, as janelas estruturadas em madeira já se encontram danificadas e muitas já não possuem mais as vidraças que as compõem. As portas de acesso aos imóveis seguem interditadas com paredes de tijolos e as fachadas já acumulam vegetações que nascem por entre as frestas. No encontro entre os dois casarões que formam o complexo, inclusive, já se vê uma árvore que nasceu com as raízes entranhadas nas paredes do imóvel. Parte de suas raízes já adentra uma das janelas, que segue aberta.

Para quem transita pela ladeira que liga a Praça Frei Caetano Brandão à Feira do Açaí, passando bem ao lado do Forte do Presépio, fica a tristeza pelas condições do casario histórico. “O centro histórico é como se fosse o cartão de visita de uma cidade, mas, infelizmente, aqui em Belém ainda tem muita coisa no centro histórico que está abandonada”, considera o industrial Fábio dos Santos, 41 anos, que transita com frequência pela Ladeira do Castelo. “É triste a gente vê um casarão grande desse nessa condição. Se estivesse bem cuidado, imagina o quanto não seria bonito?”.

As diversas possibilidades de uso para um casario com tamanha importância histórica também são questionadas pelo motoboy Thiago Oliveira, 23 anos. Para ele, a preservação das construções e a utilização em benefício da sociedade, sem dúvida, contribuiria para o turismo e, consequentemente, para a própria economia local.

“Belém é a metrópole da Amazônia, deveria ter mais esse cuidado com o patrimônio histórico. Você imagina um turista que chega na cidade e vê um casarão desse nesse estado. Que impressão será que ele vai levar da cidade?”, considera. “Quando cuidam de um patrimônio como esse e outros que têm por aí, o turismo melhora e com isso ajuda a economia local porque o turismo traz mais consumo para a cidade. Então, o poder público tinha que olhar melhor para isso”.

No caso dos casarões instalados na Ladeira do Castelo, a propriedade é da Arquidiocese de Belém. Porém, desde 2011, o uso dos imóveis está cedido para a Universidade Federal do Pará (UFPA). De acordo com o professor Flávio Nassar, após o convênio de cessão de uso dos imóveis para a universidade, a ideia era de que fosse instalado no local o Memorial do Livro. “O projeto era construir o Memorial do Livro, até em homenagem ao fato de o casarão ter abrigado a antiga biblioteca dos Jesuítas”, explica o professor.

“O Memorial deveria abrigar coleções particulares dos principais intelectuais do século XX no Pará. Inclusive, em função dessa estrutura que se organizava, nós conseguimos negociar com a família do Dalcídio Jurandir e eles doaram para o projeto da UFPA uma parte do acervo do Dalcídio, que inclui uma correspondência inédita dele com vários intelectuais de Belém”.

Além dos arquivos do escritor paraense Dalcídio Jurandir, tal acervo salvaguardado pelo Fórum Landi também inclui arquivos de outras personalidades como a professora Anunciada Chaves, o livreiro Raimundo Jinkings, o escritor Clovis Moraes Rego, a professora Célia Bassalo, o historiador e folclorista Vicente Salles, dentre outros. A ideia era que esse material compusesse o acervo do Memorial do Livro, que deveria ser instalado em um dos casarões da Ladeira do Castelo. Porém, o projeto coordenado pelo Fórum Landi à época acabou não se concretizando.

“O Iphan, através do programa PAC das Cidades Históricas, tinha um financiamento para fazer esse programa que seria o Memorial do Livro, isso há mais de 10 anos”, aponta Nassar. “Outra coisa muito importante é que a UFPA gastou recursos para fazer o projeto de restauro que previa uma biblioteca com todas as condições de segurança, com porta corta-fogo, lajes duplas, tudo que a legislação exige. Isso foi desenvolvido por nós, do Fórum Landi, que coordenou a elaboração desse projeto que é complexo”.

Apesar disso, o professor aponta que o projeto acabou não se desenvolvendo e, segundo ele, diante da dificuldade de tratativa do assunto com a UFPA, o Fórum Landi acabou se retirando da coordenação. “Deixamos de ter apoio financeiro e a universidade começou a não cumprir as cláusulas contratuais com o Iphan, os prazos para conclusão de todos os projetos porque era preciso fazer a abertura de edital, orçar para depois fazer a concorrência pública, licitação e nada disso foi feito. Até que nós, em março de 2020, comunicamos à reitoria que estávamos saindo da coordenação do projeto”, afirma. “Não tínhamos governabilidade nenhuma nem sobre a segurança dos casarões, nem sobre a contratação de serviços emergenciais e muito menos sobre a licitação”.

Casarões: fechados e sentindo o efeito do tempo
📷 |Mauro Ângelo

UFPA

l Sobre o assunto, a Universidade Federal do Pará (UFPA) informou, através de nota, que “a atual gestão da UFPA, iniciada em outubro de 2016, não recebeu absolutamente nenhum recurso para aplicação nas obras da Ladeira do Castelo, em edificações transferidas para a instituição pela Arquidiocese de Belém em 2011 (casarão para um Albergue Universitário) e 2012 (casarão para um Memorial do Livro)” e que “o projeto para o restauro das edificações sempre foi de responsabilidade do Fórum Landi, que negociou recursos com o Iphan, via Ministério da Educação, para viabilizar as obras”.

l A nota diz, ainda, que “entre 2011 e 2015, a UFPA chegou a investir R$1.346.356,56 em serviços emergenciais em uma das edificações (obra fiscalizada pelo Fórum Landi). A partir de 2016, quando assumiu a atual gestão da UFPA, não houve nenhum repasse de recursos para as obras naquelas edificações, seja pelo Iphan, seja pelo MEC, e os cortes orçamentários recorrentes impedem a instituição de executar o restauro com recursos próprios. A UFPA já está em diálogo com a Arquidiocese de Belém para a restituição das edificações”.

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