Aluna do 3º ano do Ensino Fundamental I, Maria Luisa, de oito anos, ficou um ano afastada das aulas presenciais por conta da pandemia do novo coronavírus. O desinteresse crescente pelo ensino on-line e o pedido da própria menina sobre o desejo de voltar à escola fizeram com que os pais, mesmo inseguros, permitissem que ela voltasse. A pedagoga Luciana Pessoa é uma das milhares de mães com filhos no ensino particular que ganhou uma preocupação a mais a partir desse retorno, mesmo com as equipes escolares insistindo sobre o cumprimento de rígidos protocolos de segurança.
Não foi um ano nada fácil para Maria Luisa. A mudança brusca de rotina veio acompanhada de dificuldades de concentração diante do computador, facilidade de dispersão e enorme regressão da autonomia já construída ao longo de sua vida escolar. Sem falar nas dificuldades com a conexão via internet, conversas demasiadas com o áudio ligado dos coleguinhas e a ausência presencial da figura dos professores.
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“Nossa decisão em fazê-la retornar à escola partiu mediante pedido dela. Em muitos momentos, ainda no isolamento, a Maria Luisa pedia para ir à aula, relatava que não era mais tão legal assistir pela internet e apresentou um certo desinteresse pelo ensino remoto. O contexto que nossa família vive ajudou a termos mais segurança nesta decisão, pois os avós da Maria Luisa já haviam sido vacinados contra a Covid”, detalha Luciana.
O bom relacionamento com a direção da escola onde a criança estuda também pesou na decisão. Luciana afirma ter participado de várias reuniões em momentos distintos do anúncio dos protocolos de segurança, para tratar sobre normas de convivência e cumprimento dos decretos no sentido de garantir a segurança de todos.
Porém, não existe tranquilidade ou relaxamento nos cuidados. Ao sair de casa, a garota leva na mochila três unidades de álcool gel, sendo uma na lancheira, uma no estojo de canetas e uma reserva. Leva ainda três máscaras para serem trocadas ao longo de sua permanência na escola, para garantir que ela sempre tenha uma no rosto. E orientações, muitas orientações.
“De um modo geral, ela tem noção sobre a situação em que vivemos. Infelizmente perdemos algumas pessoas bem próximas a nós e foi inevitável fazer com que ela não percebesse nossa tristeza e preocupação. Quando meu marido foi diagnosticado com a Covid ela chorou muito e ficou bem preocupada com o pai. Me ajudou a cuidar dele e acompanhou de perto todo o tratamento. Sempre conversamos para que ela nunca se descuide com a sua proteção e assim segue de modo bem obediente as recomendações que fazemos. Mas confesso que não estou segura, pois são crianças e por serem crianças tudo pode acontecer”, relata a mãe.
Segurança ainda pesa para quem mantém ensino remoto
A casa da cirurgiã dentista Vivian Fernandes, por enquanto, também é o único local de estudo dos irmãos Enzo, de dez anos, que está no 5º ano do Fundamental I, e Sofia, de oito anos, do 3º ano também do Fundamental I. Apesar dos percalços em criar uma rotina com um novo estilo de aprendizagem que garantisse a concentração dos filhos, ela e o marido seguem tranquilos na decisão de mantê-los tendo aulas on-line somente.
“Desde o ano passado a volta às aulas não é algo concreto e está sempre inconstante entre voltar e suspender, e mesmo no presencial ocorre em semanas alternadas. Tudo isso ‘quebra’ a rotina, a torna instável. Desde o nascimento, as crianças têm uma rotina estruturada, o que traz segurança para eles. E com o ensino remoto conseguimos manter uma constante”, justifica Vivian. Para garantir a melhor adaptação foram feitos ajustes nos computadores e a família adquiriu melhores impressora e fones. Enzo e Sofia já estão bem adaptados ao novo estilo de aula, conseguem manusear o sistema, imprimir as atividades e fazer pesquisas.
Justamente por estarem em casa, Vivian e o marido decidiram por passar aos filhos apenas as informações necessárias sobre a crise sanitária, sem causar medo, pânico ou preocupações desnecessárias. “Eles têm consciência de todos os cuidados que devem ser tomados e as formas de prevenção. Sabem, por exemplo, da importância de ter uma alimentação saudável para o fortalecimento do sistema imunológico”, conta a mãe.
A cirurgiã dentista está em casa acompanhando a evolução escolar dos filhos, e mesmo assim, tem conversado, até mais do que antes, com a equipe de coordenação da escola onde eles estudam. “Vemos mais no dia a dia a dificuldade da criança, a forma como ela não conseguiu assimilar a informação, as dúvidas e as queixas e a escola está sempre atenta a nos ouvir e procurar o que é melhor no aprendizado”, confirma.
Volta à escola dependeu da situação local
Desde setembro do ano passado, quando a escola da Ruth Maria, de 8 anos, aluna do 3º. ano do Fundamental I, anunciou o retorno gradual, a servidora pública Raíssa Teixeira optou por deixá-la voltar ao ensino presencial. A crise havia atingido alguma estabilidade e a menina ficou indo para as aulas até a nova suspensão. No início deste ano, voltou novamente, mas quando o Carnaval chegou e os casos dispararam, a família achou por bem mantê-la somente assistindo a distância.
“Havia muitos casos e os hospitais estavam superlotados. Então ela retornou apenas na semana passada, desde o dia 3 de maio, pois aguardei a queda do número de casos para sentir segurança em mandá-la novamente ao presencial”, explica a Raíssa, que também é mãe de João Benício, de apenas um ano e sete meses.
Um dos motivos da volta tem também a ver com a dificuldade em manter a garota concentrada na frente do computador, já que em casa é muito fácil para uma criança de oito anos perder o foco e procurar outras coisas para fazer. Assim como Luciana, Raíssa também fica insegura com a filha indo à escola todos os dias.
“Não é fácil essa decisão. Ao mesmo tempo que temos medo da Covid-19, tem a questão da saúde emocional dela, que acaba sendo prejudicada com tudo o que tem acontecido”, avalia. Para que o exemplo de casa vá à rua, os pais da Ruth Maria evitam ambientes fechados e desde o início da pandemia ensinam à filha a importância da higiene das mãos e o uso das máscaras.
Os pais escolheram por não esconder a gravidade da pandemia. No início, quando a filha teve mais medo, chegou a não querer sair de casa. “Conversamos bastante e o medo dela foi diminuindo. Hoje ela está bem tranquila, mas entende a necessidade de todos os cuidados. Inclusive fica muito feliz quando alguém da família é vacinado”, conta a mãe.
O contato constante com a escola também ajuda a amenizar os receios de ter a menina de volta ao ensino presencial. “Sempre nos colocam a par de todos os protocolos. E no dia a dia percebemos que realmente tudo é seguido à risca por lá, o que nos dá mais segurança”, atesta Raíssa.
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