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CIÊNCIA

Estudo sobre clima e desigualdade social é lançado em Belém

Em webinário, pesquisadores divulgam dados que mostram que as mulheres pretas e indígenas são as pessoas com menos acesso à água e esgoto na capital do Pará

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Imagem ilustrativa da notícia Estudo sobre clima e desigualdade social é lançado em Belém camera Foto: Matheus Alves/MNI

Promovido pelo Instituto Clima e Sociedade - iCS, nesta quarta-feira, (24), o webinário "Mudanças Climáticas na Amazônia Legal Urbana: Belém" reuniu pesquisadores para apresentar o estudo "Diversidade e Desigualdades em Tempos de Mudanças Climáticas: Uma Análise Socioespacial de Belém". A análise é a primeira do projeto Amazônia Legal Urbana, que tem como objetivo contribuir para a revisão ou elaboração de planos diretores urbanos com base nas desigualdades vividas pela população.

A iniciativa reúne dados científicos para mostrar que as mudanças climáticas na região da Amazônia Legal têm e terão efeitos diferentes de acordo com as condições de vida de cada parte da população. "Nossa meta aqui é pensar como o plano diretor de Belém responde a revelações de espaços segregados socialmente, a partir de questões que vão impactar na vida das pessoas naquilo que é rendimento, condições insalubres de moradia, segurança alimentar, má qualidade do ar. As pessoas ficam vulneráveis aos eventos extremos, de cheias nas cidades (a exemplo da calamidade vivida hoje pela população do Acre)", afirmou o geógrafo Diosmar Filho, coordenador da pesquisa.

Dados sobre o esgotamento sanitário de Belém revelam que a população indígena e preta é a que apresenta menores proporções de acesso ao serviço (veja abaixo trecho da pesquisa).

[As vulnerabilidades das mulheres são agravadas por construções sociais e culturais que estratificam e são fundantes de várias sociedades, como sexismo-racismo-classismo, tríade de opressão que marginaliza as mulheres para espaços vazios de direitos básicos e humanos, em particular, as mulheres historicamente violadas, a exemplo das mulheres indígenas e negras.

Enquanto as intersecções entre raça/etnia, pobreza, gênero não forem integradas e consideradas no âmbito das discussões sobre as mudanças climáticas, as desigualdades permanecerão com tendência no aumento, agravando o fosso entre os extremos. Considerar o potencial das mulheres, população negra e povos indígenas, na promoção de soluções para a sustentabilidade, redução do risco de desastres e de ameaças à saúde, são fundamentais para a construção de políticas integrativas e equitativas.]

No webnário, a pesquisadora e epidemiologista Andrêa Ferreira destacou a relevância desses dados para o planejamento do combate aos efeitos das mudanças climáticas. "As populações historicamente vulnerabilizadas, os grupos sociais historicamente colocados às margens, são os que vão sofrer os maiores impactos advindos das mudanças climáticas."

As desigualdades permanecem quando o abastecimento de água da cidade é analisado. As mulheres e homens indígenas e pretos compõem os grupos com menor acesso a esse serviço. A falta de água colabora para a situação de vulnerabilidade dessa parcela da população, os óbitos causados por água e saneamento inseguros e falta de higiene em Belém crescem a cada ano e estão acima da média do Pará e do Brasil.

A capital do Pará tem 101 aglomerados subnormais (baixadas), onde quase 30% da população vive em condições precárias de vida, excluída dos serviços de energia e destinos de lixo adequados. Belém é a capital brasileira com o pior percentual de domicílios com coleta seletiva de lixo, considerando a população urbana do município. Os destinos mais comuns do lixo gerado na cidade são rios, lagos, ou mares.

A palestrante Cíntya Feitosa, coordenadora do iCS, que representou a Plataforma Urbana Subnacional do Clima, comentou sobre como as desigualdades apresentadas no estudo correm risco de aumentarem ainda mais com a ocorrência de eventos climáticos. "No contexto da Amazônia Legal, que é crucial em termos de emissões de gases de efeito estufa por desmatamento e mudança de uso do solo, é preciso com urgência refletir medidas que também sejam inclusivas e que solucionem desafios de saúde, infraestrutura, alimentação, qualidade do ar, transição energética, além da questão da resiliência, entre outros. A situação do Acre, por exemplo, é um retrato de como essas desigualdades já existentes são agravadas por eventos climáticos.

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