Janeiro é o mês de conscientização contra a hanseníase, doença infecciosa que causa lesões de pele e danos aos nervos. Segundo o Ministério da Saúde, na última década foram registrados cerca de 30 mil novos casos da doença, por ano, no Brasil. O país já ocupa o segundo lugar com mais casos, ficando atrás apenas da Índia. Em território nacional, o Pará é o quarto no ranking.
Presidente da Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH), Cláudio Salgado explica que todos os meses o Ministério da Saúde define uma cor para cada doença, reforçando ações em comunidades, mas este ano, a campanha Janeiro Roxo será diferente em razão da pandemia no novo coronavírus. “Porém, provavelmente não teremos interações mais contundentes este ano por causa da pandemia. Deverão ser mais pautadas com educação em saúde e na mídia”.
Historicamente, os primeiros sinais da doença são as manchas pelo corpo com alteração da sensibilidade e dormência. No entanto, Cláudio alerta para muitos casos em que não há manchas ou lesões na pele, mas há sensibilidade nas mãos, nos pés ou na face que podem ser indicativos da doença.
“Normalmente, a hanseníase também se apresenta de forma desigual em cada lado do corpo. Por exemplo, de um lado observa-se alterações nas mãos, e do outro lado, no braço. Se a pessoa tem alteração de sensibilidade, sem mancha, apresenta diminuição de força ou dores na articulação, precisa buscar diagnóstico”, alerta.
Nestes casos, é essencial buscar atendimento médico para realização de exames, que devem durar, pelo menos, de vinte a trinta minutos, com a utilização de ferramentas laboratoriais. Além disso, no momento em que se detecta a doença, todas as pessoas que estiveram em contato ou que convivem com o paciente também devem ser examinadas.
TRATAMENTO
Após o diagnóstico, imediatamente o tratamento é iniciado com a administração de uma dose supervisionada de PQT (poliquimioterapia) e entrega de uma cartela do medicamento que tem duração para um mês, enquanto durar o tratamento, tudo de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Um dos pontos críticos para o tratamento tem sido, segundo Cláudio, a escassez deste medicamento em todo o país. Isso porque a droga é produzida somente na Índia, pela Fundação Novartis, contudo, em novembro de 2019 foi sinalizada a escassez na produção. “A Organização Mundial da Saúde distribui para o mundo inteiro, porém, em março já havíamos tido os primeiros sinais de falta. Entramos em contato com o Ministério da Saúde e o problema se regularizou com algumas faltas. Mas no fim do ano confirmaram a ausência no país”.
Reuniões com a OMS e com o Ministério da Saúde têm sido feitas para regularização do problema, entretanto, Cláudio acredita ser inaceitável que o país, sendo o segundo no mundo com maiores casos da doença, não tenha produção própria. “Dependemos completamente da produção da Índia e quando há alguma adversidade ficamos com os pacientes sem medicação, sem tratamento. Tivemos em dezembro audiência pública com laboratórios para saber se tinham capacidade de produzir e a resposta foi que não há antes de 2022.”.
Além desta realidade, ainda há o preconceito enraizado aos que convivem com a doença. A acolhida e o tratamento, na visão de Cláudio, seriam formas de minimizar o problema, inclusive dentro da família. “Isso vem desde antigamente, em relatos bíblicos, que as pessoas conheceram como lepra”, destaca. “Deve-se acolher o paciente e ajudá-lo a buscar tratamento. Se tiver acolhimento diminui-se o preconceito”.
A forma de transmissão da hanseníase se dá através de gotículas. “Algumas dessas pessoas, sendo suscetíveis, vão adoecer. Como temos muitos bacilos circulando e muitos indivíduos que não sabem que estão doentes, temos quantidades significativas circulando nas casas ou nas comunidades”, advertiu Cláudio.
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