EUA aprovam testes de transplantes de rins de porco em humanos 

Em meio à crescente escassez de órgãos disponíveis para transplante, um novo avanço da medicina regenerativa pode mudar o cenário global da insuficiência renal. A Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, autorizou nesta semana os primeiros testes clínicos em humanos com rins derivados de porcos geneticamente modificados. A medida é vista como um marco no campo dos xenotransplantes — área da ciência que estuda o uso de órgãos de animais em seres humanos.

A autorização abre caminho para um estudo de Fase 1/2/3 com o objetivo de avaliar segurança, eficácia e compatibilidade do rim experimental chamado EGEN-2784, desenvolvido pela empresa de biotecnologia eGenesis. A pesquisa irá acompanhar os pacientes por 24 semanas após a cirurgia, monitorando eventuais rejeições, efeitos colaterais e desempenho funcional do órgão.

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Mesmo antes da aprovação oficial da FDA, dois pacientes receberam rins de porco em caráter experimental no Hospital Geral de Massachusetts. Os resultados iniciais surpreenderam positivamente.

O primeiro transplantado, Tim Andrews, de 67 anos, está há mais de sete meses sem necessidade de diálise, sendo atualmente a pessoa que vive há mais tempo com um rim de porco funcional. Já Bill Stewart, de 54 anos, passou pelo procedimento em junho de 2025 e também pôde abandonar a diálise, após anos de tratamento contínuo.

“Sou muito grato por essa oportunidade e por ter uma nova chance de vida”, disse Stewart em comunicado.

Os procedimentos foram liderados pelo médico Leonardo Riella e pelo cirurgião Tatsuo Kawai, em parceria com a indústria e órgãos reguladores.

Avanço científico

Os rins EGEN-2784 não são órgãos comuns: eles passaram por extensas modificações genéticas para torná-los mais compatíveis com o corpo humano. Entre os objetivos da engenharia genética estão:

• Reduzir o risco de rejeição imediata
• Aumentar a compatibilidade imunológica
• Elevar os padrões de biossegurança

As edições foram realizadas com ferramentas como o CRISPR, já usadas em experiências anteriores com transplantes de coração e rim de porco nos Estados Unidos.

“Este estudo nos permitirá avaliar o potencial transformador do EGEN-2784 para lidar com a crescente carga da insuficiência renal em todo o mundo”, afirmou Mike Curtis, CEO da eGenesis.

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A crise dos transplantes renais

A escassez de órgãos é um dos maiores desafios atuais da medicina moderna. Só em 2024, cerca de 28 mil transplantes renais foram realizados nos EUA — número muito inferior à demanda. Hoje, mais de 800 mil americanos vivem com doença renal em estágio terminal, e para muitos, a diálise é a única alternativa à espera de um doador compatível.

A taxa de mortalidade em cinco anos para quem depende de diálise ultrapassa os 50%, segundo dados oficiais.

“Os progressos recentes trazem esperança de que novas opções estarão disponíveis em breve para quem mais precisa”, declarou Kevin Longino, CEO da National Kidney Foundation e ele próprio transplantado renal.

O que vem pela frente?

Com o sinal verde da FDA, a expectativa agora é o recrutamento de novos voluntários para a próxima etapa do estudo. O sucesso desses testes pode abrir caminho para um futuro onde órgãos de porcos modificados estejam disponíveis para milhares de pessoas que enfrentam filas de espera e, muitas vezes, não sobrevivem tempo suficiente para receber um transplante.