Na última terça-feira, 2 de agosto, a humanidade atingiu o ponto de exaustão dos recursos renováveis referentes a todo o ano de 2023, o Dia da Sobrecarga da Terra (global) ou Earth Overshoot Day. A sobrecarga mostra que o homem está consumindo cada dia mais os recursos naturais que o planeta pode garantir de forma sustentável, não se preocupando com o futuro.
O cálculo que indica a sobrecarga da terra é feito pela Global Footprint Network (GFN), organização internacional pela sustentabilidade, parceira global da Rede WWF. A data do ano indica que a demanda da humanidade por recursos naturais supera a capacidade do planeta de produzir ou renovar esses recursos ao longo de 365 dias. Ou seja, o planeta está “no vermelho”.
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“É como se ultrapassassem o limite, entrando no vermelho e passando a usar o “cheque especial” da Terra”, explica Eva Alessi, responsável pelo setor de Sustentabilidade da organização não governamental WWF, rede internacional que atua para a preservação da natureza. O cálculo do Dia da Sobrecarga da Terra é global, levando em consideração o planeta como um todo. Mas também existe o Dia da Sobrecarga da Terra de cada país. No Brasil, a sobrecarga registrada no ano passado foi de 1,5 planetas.
O resultado global divulgado em 2 de agosto, mostra quando o mundo entraria no “cheque especial” planetário se toda humanidade consumisse, por exemplo, do mesmo de países que exaurem seus recursos antes de completar o ciclo anual, ou os 365 dias, mostrando diferentes realidades e desafios ao redor do globo.
Para se ter uma ideia, os Estados Unidos, segundo maior emissor de gases de efeito estufa (GEE) do mundo e responsáveis por quase 15% das emissões globais, consomem o equivalente a 5 planetas por ano. O Catar, país que possui as maiores reservas de petróleo do mundo, consome 9,21 planetas por ano.
O sociólogo e doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar/UFMG), José Eustáquio Diniz Alves, revela que apenas oito dos 195 países do mundo consomem toda a biocapacidade do planeta. “Para alcançar o equilíbrio, é urgente mudar o padrão de produção, reduzir o consumo, recuperar os ecossistemas e diminuir o crescimento demográfico”, defende.
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Diniz Alves explica que a capacidade de carga se refere à quantidade máxima de recursos naturais que o planeta pode garantir de forma sustentável, levando em consideração as necessidades de subsistência da população, o padrão de consumo e a preservação dos ecossistemas. “É uma medida que indica o tamanho populacional máximo de uma espécie biológica que o meio ambiente pode sustentar indefinidamente, ao considerar alimento, água, habitat e todas as demais demandas da referida espécie”, detalha.
Consumo
O Earth Overshoot Day é o resultado da divisão da biocapacidade do planeta (a quantidade de recursos ecológicos que a Terra é capaz de gerar naquele ano), pela pegada ecológica da humanidade, ou seja, a demanda da humanidade para aquele ano, e multiplicando por 365.
A pegada ecológica é uma metodologia ambiental que avalia o rastro deixado pela população provocado pelo consumo de recursos naturais. Ela contabiliza o uso dos recursos naturais biológicos renováveis, como grãos e vegetais, carne, peixes, madeira e fibras, e calcula os diferentes padrões de consumo no mundo, seja de uma pessoa, cidade, região, país ou de toda a humanidade.
Expressada em hectares globais (gha), permite comparar diferentes padrões de consumo e verificar se estão dentro da capacidade ecológica do planeta. Um hectare global significa um hectare de produtividade média mundial para terras e águas produtivas em um ano. A pegada ecológica analisa os impactos que produzimos em nossa biosfera a partir dos rastros que deixamos através das nossas atividades e vivências. Já a biocapacidade, representa a capacidade dos ecossistemas.
Tarefa complexa
A professora do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará (UFPA), Oriana Trindade de Almeida, publicou um estudo sobre o “Padrão de Consumo e Pegada Ecológica dos Alunos de uma Universidade Federal Brasileira”. Segundo ela, avaliar a sustentabilidade ambiental é uma tarefa complexa, implica em organizar um conjunto de conceitos e variáveis. “Uma forma de avaliação que se popularizou recentemente, foi o da pegada ecológica”, explica a pesquisadora.
A pesquisa teve por objetivo avaliar o envolvimento dos alunos da Universidade Federal do Pará em ações sustentáveis diretas e o seu padrão de consumo, utilizando a metodologia da pegada ecológica. O resultado da simulação apresentou uma pegada ecológica média de 2,7 hectares por pessoa, revelando que seriam necessários 1,6 planetas se a população mundial tivesse o mesmo padrão de consumo dos alunos da UFPA.
“A pegada ecológica é um instrumento importante que pode auxiliar na elaboração da política de planejamento no nível local e nacional e fornece elementos importantes para sensibilizar a população sobre o consumo dos bens e serviços”, revela Oriana Almeida em seu trabalho de pesquisa.
Entram na contabilidade o uso de recursos naturais biológicos renováveis (grãos e vegetais, carne, peixes, madeira e fibras, energia renovável etc.), segmentados em agricultura, pastagens, florestas, pesca, área construída, energia e absorção de dióxido de carbono (CO2).
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