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SEMANA DA MULHER

Identidade, orientação e gênero: entenda sobre ser mulher

Mulheres trans falam sobre direitos, deveres e sobre suas vivências.

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Imagem ilustrativa da notícia Identidade, orientação e gênero: entenda sobre ser mulher camera Ativista e digital influencer, Isabella Santorinne abre diálogos nas suas redes sociais. | Reprodução

Estamos finalizando a semana das mulheres para enaltece-las, desde segunda-feira (08), Dia Internacional da Mulher,. Nossa personagem de hoje tem estrelado campanhas sobre a data. Cabelos ruivos encaracolados, pele branca e voz imponente, Isabella Santorinne (@santorinneoficial) é uma das referencias sobre assuntos relacionados ao tema LGBTQI+ nas redes sociais.

Personagem de uma campanha de batom e de um clube de futebol, a modelo abre espaço em seu perfil para discursões e informações.

Para celebrar o Dia Internacional da Mulher, a ativista, servidora pública e modelo trangenero bateu um papo com o DOL Delas para mostrar a realidade de ser mulher em tempos de informações e desinformações.

- Existe diferença entre trans e travesti? Se sim, qual (is)?

IS: Travesti e transexual, em base, não tem diferença nenhuma, porque vivenciam a sua mulheridade 24 horas, ambas exercem os mesmo direitos, e reivindicam os mesmo direitos de serem reconhecidas pelo gênero feminino e nome social, ou civil, se já retificou. O termo travesti é mais politico, é de resistência.

- Como explicar para uma pessoa que não tem proximidade e até mesmo possui preconceito, o que é uma pessoa trans?

IS: A gente não tem que explicar para uma pessoa o que é ser trans, ou como agir. Acredito que somos seres humanos, então não nos diferenciamos de nenhum outro. A nossa identidade de gênero é feminina, queremos ser respeitada enquanto mulheres, então acredito que é isso, a pessoa tem que respeitar a outra pelo ser humano que ela é, e não por conta da sua orientação sexual ou identidade de gênero. Nós devemos ter empatia com o próximo por ele ser humano, e não por ser travesti, transexual, homem ou mulher. O respeito é a base de tudo, o respeito está acima de tudo.

- Já estamos em 2021 e mesmo assim muita gente ainda não respeita ou mesmo entende o mínimo sobre o assunto. Você acha cansativo debater esse tema ainda?

IS: Infelizmente, ainda existem muitas pessoas que não vão atrás de informação sobre travestilidade ou transsexualidade, até porque, hoje em dia, você tem o Google na palma da sua mão para pesquisar. A doença é o preconceito, e a cura é a informação. Eu, enquanto ativista social, não me canso de levar essa informação, de debater esses temas que são a travestilidade e transsexualidade, porque ainda existem muitas pessoas que não entendem, que não sabem lidar. Mas o nosso papel de ativista é esse, não é “enfiar goela abaixo” as nossas vivências, mas sim levar a informação de uma forma mais prática, mais humanizada, mais explicita o que são as nossas vivências, nossas alegrias e dores.

- Como alcançar outras bolhas? Você acha que é mais fácil ouvir alguém que está na bolha ou fora?

IS: Nós podemos usar vários mecanismos e ferramentas, uma delas são as redes sociais. No meu caso, sou ativista social e digital influencer, estou no Instagram, então eu gosto de falar muito sobre travestilidade e transsexualidade na rede social, porque é uma plataforma que entrega bastante conteúdo para outras pessoas diferente da nossa bolha. As pessoas que já estão dentro, entendem e sabem. Então a forma para alcançar essas outras pessoas é pelas redes sociais, por isso que eu estou no Instagram sempre levando informação com vídeos bem didáticos, postando foto com legendas informativas. A maior ferramenta hoje em dia que eu uso para levar a transsexualidade, as nossa vivencias, são as redes sociais. O Instagram é onde mais atuo e levo essas informações, sei que estou atingindo outras pessoas fora da minha bolha.

- O caminho para que todos vivam em uma sociedade tranquila é a educação?

IS: Com certeza. Tudo deve começar na base, com as crianças. Sabemos que elas não têm preconceito nenhum, quem coloca tudo na cabeça delas são os adultos. Se a informação viver da escola e de dentro de casa, com certeza teremos futuramente pessoas mais abertas, sem preconceito, sem ser uma pessoa LGBTQfobica, sem machismo, sem feminicidio, sem racismo.

- Você acha que a justiça no Brasil está preparada para conceder direito as trans?

IS: O direito é para todos, todos os cidadãos e cidadãs merecem todos os direitos, porém a gente sabe que a população de travestis e transexuais tem seus direitos negados a todos os momentos, seja no cárcere, na educação, na empregabilidade. Nos estamos a passos lentos, mas acredito que no futuramente vamos ter uma justiça igualitária para todas as pessoas, sejam elas cis ou trans.

- Como você se descobriu trans?

IS: Eu me identifiquei trans aos 12 anos de idade. Não posso falar que com essa idade eu já sabia que era trans, até porque eu não conhecia a travestilidade e transsexualidade nessa época, mas eu me olhava no espelho e me identificava quanto menina em um corpo masculino, era isso que as pessoas sempre ditavam, que meninas tinham vagina e meninos pênis. Eu olhava meu corpo com pênis, porém me sentia uma menina. Foi bem confuso para mim aos 12, 13 e 14 anos me entender como mulher trans por não ter esse conhecimento. A partir dos 15 anos que eu tive acesso a internet e vim conhecer outras pessoas nas redes sociais que vivenciavam essa mulheridade, travestilidade e transsexualidade, que eu vim a entender que eu era uma mulher trans.

Com 12 anos de idade eu já apresentava transsexualidade, porem só as 15 eu tive conhecimento.

- Foi um processo doloroso?

IS: Foi muito, como todos os processos de transição são, o capilar, de trabalho, qualquer tipo de transição. A minha transição de gênero foi dolorosa por conta da aceitação da minha mãe que foi bem difícil, ela não conseguiu lidar com a situação, chegou a me agredir, tive que sair de casa. Então foi bem doloroso por conta de n motivos, de preconceito da sociedade, na escola, no âmbito familiar. São coisas que infelizmente a nossa sociedade carrega, quando sai daquele padrão, daquela dorma cis hetero normativa tem que sofrer preconceito, e foi o que ocorreu comigo. Eu sofri muito preconceito, apanhei, fui abandonada por amigos e da igreja, de um grupo de jovens que eu fazia parte, enfim, foi bem doloroso. Eu sabia que ia ser assim, mas como digo, precisava sentir aquela dor para que futuramente eu me tornasse uma mulher forte, como sou hoje.

- Você acha que a sociedade está preparada para ser respeitosa com as trans?

IS: Ela ainda desrespeita muito a nossa identidade de gênero, não só isso, mas o nosso nome social, as nossas vivencias... mas como eu falei, a doença é o preconceito e a informação é a cura, então, levando informação a sociedade através das mídias sociais e televisivas, nas universidades e escolas com palestras, acredito que a sociedade vai conseguir respeitar sem apontar o dedo, sem ter esse pré conceito.

- O que destacar neste dia das mulheres?

IS: Que as pessoas entendam que existe uma diversidade de mulheridade, existem mulheres travestis, transexuais e cis, e todas estão ai para somar na luta, levantar a bandeira da mulher por politicas publicas na nossa população de mulher, para tentar acabar com esse machista que é enraizado no nosso Brasil. Dia 8 de março é um dia não só para comemorar, mas de luta pela diversidade de mulheres, as quilombolas, indígenas, deficientes, negras, brancas, asiáticas, trans.

- Como observa o papel de outras pessoas que não possuem lugar de fala ao discutirem este assunto?

IS: Quando se falar se fala em mulheridade, em mulheres, o local de fala é apenas das mulheres. Lógico que nós precisamos ter aliados nessa luta, mas assim, a fala e representatividade é toda nossa. Durantes muitos anos a mulher vou invisibilizada, silenciada em vários espaços, então agora esse é o momento de nós falarmos, dos holofotes em cima da gente, esse é o momento da gente brilhar. Mas tendo a consciência que estamos em um país muito machista em que mulheres não são escutadas. Para levantar nossa bandeira e lutar por politicas para nossa população, precisamos de aliados para caminhar e avançar na nossa luta.

DOCUMENTAÇÃO

Também conhecidíssima nas redes sociais, Francielle Neriah (@francielleneriah) usa sua voz e influencia para falar aos seus quase 200 mil seguidores. Com bom humor e clareza, seu conteúdo traz leveza para as durezas enfrentadas na caminhada como mulher.

“Não me descobrir, eu já nasci. A diferença é quando eu aceitei, deixei o medo e a insegurança de lado, e decidi me libertar, foi em 2019, não foi fácil, mas foi menos difícil que ser quem eu não era. Um menino. Sempre fui mulher de corpo e alma”, contou.

Em julho de 2019, Francielle compartilhou com seus seguidores o seu nome social, que é o nome pelo qual pessoas transexuais, travestis ou outros preferem ser chamadas no dia a dia. Em 2018, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que não é mais necessário a autorização judicial e comprovação de cirurgia de redesignação sexual para a mudança (retificação) de nome. O Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) impôs também que não há necessário que a pessoa trans “prove” ser de fato transexual, é importante apenas ser maior de 18 anos e conseguir expressar o desejo de forma livre.

Quem orientou Francyelly sobre as documentações foi um amigo trans. “Ele trabalhava na Polícia Civil e me ajudou sobre a carteira social, mas a retificação de certidão de nascimento foi tudo na Defensoria Pública. Com a documentação tive força para lutar e combater todo e qualquer tipo de preconceito, porque ainda que seja feminina, e me veja como uma mulher, algumas pessoas se recusam a te chamar pelo seu nome”, explicou.

Mesmo sendo um caminho longo e de descobertas, a digital influencer não esconde o prazer das suas conquistas. “O conselho que eu dou é: vá atrás, procure se informar. A carteira social é mais fácil e vale no Brasil todo. Mas também quem quer ir mais além, retifique seus documentos, vá na Defensoria Pública, é um processo demorado, não é tão fácil, mas é super necessário. Sabemos que nossa sociedade é preconceituosa, homofobica, transfobica, machista e racista, então, não precisamos ter medo. Precisamos gritar pelo nosso espaço, nosso direito”, finalizou.

A Polícia Civil responsável pela emissão da Carteira de Nome Social (CNS), por meio da Diretoria de Identificação, informa que, de janeiro a julho de 2020, foram emitidas 45 carteiras. A partir de agosto de 2020 as emissões não ocorrem mais na PC, já que foi iniciada a emissão da nova cédula de identificação, a qual permite a inclusão do nome social do usuário no momento de expedição, em todos os postos de identificação da PC, nos 144 municípios do Estado.

Sobre a alteração do nome civil de transexuais, a Defensoria Pública do Estado do Pará, por meio do Núcleo Especializado de Atendimento à Mulher (Naem), garante essa mudança diretamente nos cartórios.

Documentos necessários para carteira de nome social:

Certidão de nascimento original
Duas fotos 3x4 recentes
Comprovante de residência atual

Documentos necessários para alterar o nome e gênero na documentação de nascimento:

Certidão de nascimento atualizada;
Certidão de casamento atualizada, se for o caso;
Cópia do RG
Cópia da identificação civil nacional (ICN), se for o caso;
Cópia do passaporte brasileiro, se for o caso;
Cópia do CPF
Cópia do título de eleitor;
Cópia de carteira de identidade social, se for o caso;
Comprovante de endereço

DIVERSIDADE SEXUAL

Desde 2019, Belém possui a Coordenadoria de Diversidade Sexual (CDS) que promove uma política para dar visibilidade e reconhecimento social a comunidade LGBTI (Gay, Lésbica, Bissexual, Travesti, Transexual e Intersexuais). A coordenadora Jane Patricia e Emilly Cassandra Bonifácio Ramos, coordenadora adjunta, estão juntas nesta nova gestão para planejar, coordenar e monitorar políticas que promovam a cultura do respeito à livre orientação sexual e identidade de gênero.

“É um momento histórico, somos quatro mulheres trans e travestis ocupando espaços de poder. Porém, devido estarmos no início do governo municipal ainda estamos estruturando a CDS, e como tem a pandemia ainda estamos nessa coleta de dados, porém distantes e sem muitas ações presenciais. Infelizmente os dados são poucos, pois a outra gestão não nos deixou nada. Mas estamos com projetos para trabalhar diretamente com a população de transgeneros”, explicou Cassandra.

Em contato direito com a sociedade civil, dando suporte e atendendo as demandas urgentes, a CDS. “Infelizmente só no início desse ano já tivemos nove assassinatos de pessoas LGBTI no Pará e em Belém três, sendo um com duplo assassinato. Estamos em diálogo com a delegacia de crimes discriminatórios, mas a pandemia nos restringe ações”, contou.

Quem deseja atendimento na CDS pode encontrar informações pelo Instagram @cdsbelem, Facebook cdsbelem ou Whatsapp 91 99236-9578.

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