Círio 2025: fé e devoção inspiram artesões em Belém

Às margens da orla do bairro do Paracuri, em Icoaraci, pulsa um dos maiores polos de cerâmica artesanal do Pará. E com a proximidade do Círio de Nazaré, a tradição e a fé ganham forma nas mãos dos artesãos, que veem na festividade religiosa uma oportunidade de reforçar sua produção, suas vendas e, sobretudo, sua conexão com a cultura paraense.

Uma das referências da produção local é Marly Santana, da tradicional Cerâmica Família Santana, situada na Travessa da Soledade, no Paracuri. A família atua desde 1975, desenvolvendo um estilo próprio que mescla influências marajoaras e tapajônicas, com peças funcionais e artísticas de xícaras e pratos a luminárias, imagens de Nossa Senhora de Nazaré e terços. “Os preparativos começam alguns meses antes do Círio, por volta de maio. A demanda é muito grande, produzimos mais de 300 peças só para essa época, fora as outras encomendas. Esse ano, ainda temos a COP 30, que é uma grande vitrine para o nosso trabalho”, conta Marly.

Entre os itens mais procurados está a imagem branca de Nossa Senhora de Nazaré, similar à peça entregue ao Papa Francisco em 2023 pelo governador do Pará, Helder Barbalho. “Muitas pessoas reconhecem a peça e fazem questão de levá-la como lembrança”, explica.

Marly destaca que todo o processo de produção é familiar e carrega um toque artístico único. “A cerâmica permite uma liberdade criativa enorme. Por ser uma matéria-prima moldável, conseguimos explorar bastante a nossa visão artística”, diz.

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Apesar de alguns itens serem exportados, o foco da produção ainda é o público local. “Queremos que as pessoas daqui valorizem esse trabalho artesanal. Seguimos os tempos da natureza, respeitamos o processo. A cerâmica é parte da nossa identidade”, reforça a artesã.

Na Feira de Artesanato do Paracuri, localizada na Orla de Icoaraci, é possível encontrar uma grande variedade de peças inspiradas no Círio: imagens de Nossa Senhora de Nazaré, reproduções da Basílica, miniaturas da corda e outros elementos que remetem à festividade. Os artesãos relatam um crescimento significativo na demanda, tanto por encomendas quanto por vendas diretas.

Estilo

Na feira da orla, outra voz ativa é Cláudia Figueiredo, artesã com mais de 20 anos de experiência. Assim como Marly, ela aprendeu o ofício com a família e mantém viva a tradição da cerâmica. Cláudia destaca que cada banca da feira tem um estilo diferente, e que a preparação para o Círio começa cedo. “A gente começa a aumentar a produção entre agosto e setembro, para garantir variedade para os turistas. As peças mais procuradas são as santinhas, os pratos decorados e imagens pequenas que são fáceis de transportar”, explica.

Além do ponto na feira, Cláudia também expõe suas peças no Salão da Beira, no Ver-o-Peso, e destaca a presença crescente de visitantes de outras cidades e estados. “Vem muita gente de fora. Tem turistas que vêm de avião, excursões que chegam de ônibus direto pra cá. Todo mundo quer levar uma lembrança do Círio”, diz.

Com a fé transformada em arte, o Círio de Nazaré não é apenas um evento religioso, mas também uma grande vitrine para o talento artesanal de Icoaraci, onde cada peça conta uma história de devoção, de tradição e de pertencimento.

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