
Você já ouviu alguém dizer que está sofrendo de “disania” ao acordar? Ou, comentou sobre um filme “terrir”? Que sabe já criticou a “pejotização” do mercado de trabalho? Apesar de populares, esses termos ainda não constam oficialmente no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp) — o documento da Academia Brasileira de Letras (ABL) que determina a grafia correta das palavras da norma-padrão do português no Brasil.
Termos como disania (dificuldade extrema de sair da cama), terrir (mistura de terror com comédia) e pejotização (contratação de trabalhadores como pessoa jurídica) estão em análise e fazem parte do Observatório Lexical da ABL, uma espécie de “sala de espera” onde neologismos são monitorados antes de, eventualmente, entrarem no Volp.
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Segundo especialista consultados, sendo um deles Ricardo Cavalieri, coordenador da Comissão de Lexicografia da ABL, o Volp “não cria palavras, apenas registra aquilo que já está consolidado no uso social e textual da língua”. O processo de aceitação é criterioso e técnico, focado no uso estável e frequente do vocábulo, sobretudo em textos escritos e formais, como reportagens, artigos científicos e livros. Palavras que circulam apenas na oralidade ou em redes sociais dificilmente são incorporadas.
Além disso, o vocábulo precisa manter uniformidade de sentido e aparecer em pelo menos três gêneros textuais distintos. Mesmo termos estrangeiros, como deletar ou renderizar, podem entrar se forem devidamente aportuguesados. Já vocábulos como bullying e coworking, que mantêm a grafia original, são registrados apenas em listas de estrangeirismos.
Palavras em observação
Além de disania, terrir e pejotização, outras palavras em análise pela ABL incluem:
- Cordonel – lona usada na vulcanização de pneus;
- Microssono – breve cochilo involuntário de poucos segundos;
- Reclínio – inclinação ou deitar-se;
- Retrofitagem – modernização de estruturas antigas sem alterar sua arquitetura original;
- Tokenização – substituição de dados sensíveis por códigos em sistemas digitais.
Entre essas, pejotização é a que tem mais chances de ser incorporada, por já aparecer amplamente em sentenças jurídicas e na literatura acadêmica.
Termos recentemente incorporados ao Volp
Nos últimos anos, a ABL oficializou dezenas de termos que se tornaram comuns no cotidiano brasileiro. Alguns exemplos são:
- Movimentos sociais: sororidade, homoparental, antirracista, empoderamento, letramento racial, etarismo, sudestino
- Tecnologia: streaming, cibercrime, webinário, criptomoeda, logar, renderização
- Pandemia: covid-19, lockdown, telemedicina, home office
- Outros: kombucha, poke, startup
A inclusão dessas palavras reflete mudanças sociais, culturais, científicas e tecnológicas que impactam diretamente o vocabulário oficial da língua.
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Por que novas palavras continuam surgindo?
De acordo com os especialistas, entre eles, os linguistas Cassiano Sydow Quilici e Marcelo Módolo, o surgimento de novos termos acompanha a evolução da sociedade. A tecnologia, os movimentos sociais, a globalização e as novas demandas profissionais geram neologismos constantemente.
Muitos deles são empréstimos linguísticos, vindos de línguas como inglês, japonês, francês ou espanhol — como bullying, delay, chimichurri, live-action, sommelier. Esses termos, por vezes, passam por um processo de “desestrangerização”, como futebol (de football) ou dogão (derivado de hot dog).
Por fim, os linguistas lembram: “a língua é viva” e quem determina a força de um vocábulo é o uso popular — e não decretos oficiais. A entrada no Volp é uma formalização que reconhece o que a sociedade já incorporou no dia a dia.
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