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VÍCIO EM APOSTAS

"Usei o Bolsa Família da minha mãe": vício em bets assolam brasileiros

Promessa de ganhos rápidos leva brasileiros de baixa renda a dívidas e problemas de saúde mental, em meio ao avanço das apostas online no país.

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Imagem ilustrativa da notícia "Usei o Bolsa Família da minha mãe": vício em bets assolam brasileiros camera Vício em apostas online é comparável à dependência de drogas, segundo especialistas. | Joedson Alves/Agência Brasil

Em um país marcado por profundas desigualdades sociais, a promessa de enriquecimento rápido se tornou um poderoso chamariz para milhões de brasileiros. Com a expansão acelerada das plataformas digitais, os jogos de aposta online passaram a ocupar um espaço cotidiano na vida de muitos, atravessando classes sociais e faixas etárias. No entanto, para uma parcela vulnerável da população, especialmente os jovens e famílias de baixa renda, essa nova prática não significa diversão ou oportunidades - mas um caminho para dívidas, frustrações e desequilíbrio da saúde mental. Um fenômeno silencioso que cresce à sombra da falta de regulamentação e da ilusão de prosperidade instantânea.

A história de Catarina*, auxiliar de produção de 28 anos e moradora da região metropolitana de São Paulo, ilustra com precisão essa realidade. Ela contraiu mais de R$ 5.000 em dívidas por conta do vício em apostas esportivas online. Sem formação financeira sólida e diante das dificuldades econômicas agravadas pela pandemia, Catarina viu nas apostas uma esperança. Conheceu o universo das "bets" por meio de colegas de trabalho em 2023, após mudar de emprego, e começou investindo pequenas quantias.

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O ponto de virada veio com uma vitória inesperada: um prêmio de R$ 6.000. "Ganhei e achei que poderia fazer isso sempre. Só que tudo o que consegui, perdi. Depois perdi ainda mais tentando recuperar". Em poucos meses, o hábito recreativo se transformou em dependência. Catarina perdeu o 13º salário, o dinheiro da rescisão e, em momentos de desespero, apostou até o benefício do Bolsa Família da mãe, comprometendo o sustento da família. "Eu pensava que seria a última aposta. Quando via, já estava pedindo dinheiro emprestado para tentar recuperar", contou.

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CRISES DE ANSIEDADE

O impacto financeiro logo se somou ao desgaste emocional. Segundo ela, as crises de ansiedade se tornaram comuns, assim como a insônia e a vergonha de admitir o problema para familiares e amigos. "Fiquei devendo até para agiotas. Hoje não posso mais sair para certos lugares, porque sei que tem gente atrás de mim", afirmou.

O drama vivido por Catarina não é isolado. Um levantamento recente do Banco Central revelou que beneficiários do Bolsa Família enviaram cerca de R$ 3 bilhões para sites de apostas apenas em janeiro de 2024. A facilidade de acesso aos aplicativos, combinada com a falta de fiscalização rigorosa, cria um cenário no qual milhões de pessoas vulneráveis se tornam presas fáceis para uma indústria que movimenta bilhões — sem oferecer suporte algum às vítimas.

EFEITO SEMELHANTE AO VÍCIO EM DROGAS

Especialistas em saúde mental alertam que o vício em apostas online atua no cérebro de maneira semelhante às drogas como cocaína e anfetaminas, gerando picos de dopamina e reforçando o comportamento compulsivo.

"A dinâmica da aposta, principalmente em jogos rápidos, cria uma sensação de falsa previsibilidade, o que leva o indivíduo a apostar repetidamente, acreditando que pode 'controlar' os resultados", explica o psiquiatra João Paulo Monteiro, especializado em dependências comportamentais.

FALTA DE POLÍTICAS PÚBLICAS

Apesar da gravidade do problema, o Brasil ainda carece de políticas públicas robustas para o tratamento de viciados em apostas. Centros especializados são raros, e a maioria dos atendimentos acaba ocorrendo em redes gerais de saúde mental, sem protocolos específicos para esse tipo de dependência.

Enquanto isso, histórias como a de Catarina se multiplicam. Ela, agora, tenta se reerguer com o apoio da família e de grupos de apoio online, mas reconhece que a luta contra o vício é diária. "Eu achava que poderia parar quando quisesse, mas não é assim. É uma batalha interna a cada dia", resume.

*Nome fictício para preservar a identidade da entrevistada.

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