Beatriz Angélica Ferreira da Silva foi morta a facadas dentro da própria escola em Petrolina (PE), quando tinha apenas sete anos de idade. Inconformada com o ocorrido, a mãe da criança, Lucinha Mota, decidiu conduzir uma investigação por conta própria, paralela à da polícia.
Mas o processo não foi fácil. Lucinha percorreu mais de 700 km de norte a sul do Brasil para encontrar o criminoso. E conseguiu!
Logo após perder a filha, Lucinha entrou em depressão profunda e tentou tirar a própria vida algumas vezes. A família vivia vigilante a todo momento, para evitar mais uma tragédia. Foi então que a mãe da criança decidiu se levantar e lutar. Foram meses frequentando psicólogos e psiquiatras, cuidando da saúde mental e investigando por conta própria a morte da filha, enquanto esperava e cobrava respostas do Estado.
Ela teve ajuda. Um investigador do Departamento de Polícia de Miami, Freddy Ponce, a conheceu em uma live e disse que iria transformá-la em uma investigadora, ajudando no caso.
Início
Quando foi informado que a câmera da escola em que Beatriz estudava estava com defeito, e depois as imagens apareceram, a investigação começou. Freddy traçou o perfil do assassino, fazendo um retrato falado e relacionando-o como um criminoso sexual, com foco principalmente em crianças.
Após as primeiras informações, Lucinha partiu para a ação, usando uma peruca loira e criando um personagem, uma vendedora de cosméticos.
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Durante esse período, Lucinha decidiu fazer o curso de direito para melhor entender o inquérito policial. Ela afirmava que a linguagem “juridiquês” dificulta o processo de investigação para quem não a entende.
Todo dia 10 de cada mês, Lucinha fazia protestos em frente à escola. Beatriz morreu em 10 de dezembro de 2015. Durante a investigação, ela descobriu que o chefe do Departamento de Polícia Científica de Pernambuco era segurança particular da escola, o que a fez intensificar as investigações, com o objetivo de identificar a pessoa e conduzi-la até a delegacia para fazer exame de DNA e comparar com o material genético do assassino encontrado na arma do crime. Ela tinha a intenção de levar o DNA até o Banco Nacional de Perfis Genéticos.
Para isso, Lucinha batia de porta em porta com revistas de amostras, conversando sobre os produtos e conseguindo as informações que queria. Em uma ocasião, ela conseguiu achar dois suspeitos no Ceará, levando as informações para o delegado. Ele realizava todos os procedimentos, até a coleta de material genético, mas, segundo ela, Pernambuco não buscava o material. Um desses homens era justamente o autor do crime.
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Caminhada de Petrolina a Recife
Foi então que Lucinha decidiu tomar uma medida extrema: em dezembro de 2021, ela fez uma caminhada de 712 quilômetros de Petrolina a Recife. Após o percurso, que durou 24 dias e 24 noites, com outras pessoas que acreditavam na causa, o governador de Pernambuco se viu obrigado a receber Lucinha em seu gabinete.
“Eu pedi que ele colocasse o DNA [presente na arma do crime contra Beatriz] no banco nacional e ele me falou que já tinha colocado, mas eu sabia que não”, disse ela em entrevista ao UOL.
Inconformada com a situação, ela ameaçou denunciar o governador à Corte Interamericana de Direitos Humanos como cúmplice de assassinato. Foi então que o material genético foi finalmente enviado ao Banco Nacional de Perfis Genéticos.
O caso teve seu desfecho: o suspeito já estava cumprindo pena pelo estupro de uma criança de oito anos, ocorrido um ano após a morte de Beatriz.
O material genético do homem já estava desde 2017 no Banco Nacional de Perfis Genéticos, o que, segundo Lucinha, é a maior prova de que o governo de Pernambuco só confrontou o material quando a caminhada foi realizada.
"Conseguimos finalizar uma etapa, que é o inquérito. Em relação a isso, consegui justiça. Chegamos à autoria, chegamos à motivação. Mas isso só terá fim no dia em que o assassino for julgado e condenado, no dia em que eu sair do júri com a sentença dele. Só assim a Beatriz vai ter a justiça que ela tanto merece”, disse em entrevista.
Por meio de nota, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, afirmou que essa foi uma das investigações mais complexas já realizadas pela Polícia Civil do Estado.
Segundo a nota, só com a evolução da tecnologia e a dedicação da equipe de genética forense da Secretaria de Defesa Social foi possível chegar ao DNA do autor.
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