O Rio Grande do Sul vive, hoje, o que provavelmente é a maior catástrofe já vista na região. As águas levam vidas e destroem cidades enquanto o país inteiro assiste.
Expressões como catástrofe socioambiental, emergência climática, adaptabilidade e resiliência dominam os noticiários e passam a integrar o vocabulário de autoridades e da população brasileira, na busca por explicações e soluções aos eventos climáticos extremos.
Em entrevista à Agência Brasil, o meteorologista Carlos Nobre explicou o que são eventos climáticos extremos, e porque a situação no Rio Grande do Sul é considerada um.
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Segundo ele, um evento climático extremo é um fenômeno climático como chuvas fortes, secas intensas ou ondas de calor, que acontecem em alguns momentos históricos. Com as mudanças climáticas, esses eventos passam a ser mais comuns e mais extremos, como é o caso do Rio Grande do Sul, que sofre com um volume de chuvas nunca antes visto.
O meteorologista também explicou que mudanças climáticas como estamos vendo já aconteceram naturalmente em outros pontos da história do planeta, inclusive na origem dos seres humanos, mas que a ação humana a partir da queima de combustíveis fósseis tem feito esse evento se repetir de forma artificial.
Praticamente, quase 100% do aumento desses gases do efeito estufa – que impedem a terra de perder calor com mais rapidez e eficiência –, é resultado da queima de combustíveis fósseis – o petróleo, o carvão, o gás natural – e de emissões devido ao desmatamento, que responde por cerca de 12% das emissões; somado à agricultura, que chega a cerca de 25% das emissões. A produção industrial também emite.
Já aumentamos em 50% a concentração de gás carbônico – dióxido de carbono; aumentamos em quase 150 vezes a quantidade de metano, que é um gás muito poderoso para aquecer o planeta.
E o planeta mais quente tem mais evaporação de água nos oceanos e você cria os eventos meteorológicos extremos, eventos oceânicos mais extremos, como os três El Niños mais fortes do registro histórico (1992/93, 2015/16 e 2023/24).
Todos os oceanos estão mais quentes. Então, essa é a causa de estarmos quebrando esses recordes em todo o planeta e no Brasil também.
De acordo com Carlos Nobre, é quase impossível reverter o que já foi feito a curto prazo. A previsão é de que, caso as indústrias consigam zerar a emissão de gases do efeito estufa até 2050, como planejado, as temperaturas só comecem a se equilibrar no próximo século.
Com os estragos já feitos, o que se deve correr atrás é de adaptar as populações aos eventos que já estão acontecendo, e investir recursos em infraestrutura e formas de mitigar desastres causados por chuvas intensas, secas extremas e temperaturas fora do normal.
"Batemos recorde com secas mais fortes do Amazonas e do Cerrado, em 2023 e 2024. A agricultura brasileira não está adaptada para eventos extremos. Veja aí a perda de produção de arroz que o Rio Grande do Sul teve com a chuva, e as secas são o principal fator de perda de safra. Então, não tem desculpa, precisamos não só reduzir as emissões, mas acelerar muito a adaptação", disse.
Ele explicou que é necessário aperfeiçoar os sistemas de alerta existentes no Brasil e retirar pessoas de áreas de risco antes das catástrofes.
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"No Brasil, quase duas mil cidades são avaliadas com riscos, então, a nossa classe política tem que fazer como têm feito nesses dias, quando o Congresso aprovou à jato a transferência de recursos para o Rio Grande do Sul. Os políticos estaduais têm que aprovar também à jato a criação de sistemas de alerta em quase dois mil municípios com enormes áreas de risco. Isso demanda centenas de bilhões de reais que precisam ser investidos para melhorar a ação da Defesa Civil e nós temos que fazer isso para ontem".
Ele também disse que, na próxima década, será necessário retirar mais de 3 milhões de brasileiros que atualmente vivem em áreas de risco.
Veja a entrevista completa:
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