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Jovens trocam cigarro por tabaco para reduzir danos tóxicos

O ato de bolar também tem levado à mudança

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Imagem ilustrativa da notícia Jovens trocam cigarro por tabaco para reduzir danos tóxicos camera Cigarro de tabaco cada vez mais tem sido adotado por jovens | Reprodução

Bolar cigarros de tabaco é a fumaça da vez entre os jovens. Ao lado de narguilés e cigarros eletrônicos, o popular 'palheiro', tabaco fumado em palha de milho, repaginou-se e hoje faz sucesso em universidades, bares e tabacarias com fumo enrolado em papéis de seda.

Os usuários acreditam consumir algo natural, menos tóxico do que o cigarro industrializado. Os riscos de câncer, enfisema pulmonar e bronquite crônica são ainda maiores, já que o cigarro de tabaco promove mais danos à saúde do que o comum, afirma o pneumologista Paulo Corrêa, coordenador da Comissão Científica do Tabaco da SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia).

Ambos possuem nicotina e produzem monóxido e dióxido de carbono, além de benzopirenos, compostos cancerígenos encontrados na fumaça. O 'tabaquinho', como é chamado, porém, contém mais nicotina e alcatrão.

"A dependência química e a abstinência são iguais e há a mesma dificuldade em parar de fumar", diz Jaqueline Scholz, cardiologista, diretora do Programa de Tratamento do Tabagismo do InCor (Instituto do Coração).

Todos os fumantes inalam fumaça por combustão, mas o cigarro de tabaco não tem pólvora e, por apagar com mais facilidade, faz com que o usuário repita o processo de queima. Isso eleva a produção de gazes e compostos cancerígenos, que são inalados geralmente sem filtro.

Com esse apaga e acende, perde-se a capacidade de identificar o consumo, fumando mais do que se percebe, diz a médica. "Inventam uma forma alternativa de usar o tabaco, uma variação ao que estão acostumados, um modismo", indica.

O estudante Victor, de Curitiba, trocou o cigarro convencional, que fumava desde os 13 anos, pelo tabaco quando entrou na universidade em 2018. Aos 23 anos, ele afirma consumir em menor quantidade.

"Além de ser natural, gosto do toque de enrolar. Também misturamos com maconha, o split, e alguns com ervas, como hortelã e camomila, o kumbayá", diz.

A ato de bolar manualmente o próprio cigarro também agrada a analista de processos Bruna Martins, 26. "Acaba me exercitando o estado de atenção e presença", pontua. Para ela, é ainda satisfatório ter os itens soltos, separados no início, e ver o cigarro enrolado ao final do processo de confecção.

"Agora, com o tabaco, eu fumo socialmente aos finais de semana, raramente durante a semana. Nos dias que uso, varia entre dois ou três tabacos", a mesma quantidade consumida anteriormente.

Entre os pacientes do Incor participantes do programa contra o tabagismo, a maioria dos que consomem o tabaco dessa forma são jovens abaixo de 30 anos com perfil socioeconômico elevado. Grande parte deles associa o fumo à maconha.

A ideia do natural, artesanal ou de uma forma "mais segura" de fumar, no entanto, não tem embasamento técnico ou científico. "Não existe essa condição. A folha de tabaco, para fazer o fumo, exige um processo industrializado, tem pesticida na colheita, alcatrão, conservantes", pontua a cardiologista.

"Não é a folha [de tabaco] que está sendo entregue. Quem vende o tabaco é a própria indústria, que usa artifícios para conquistar os jovens", diz ela.

As estratégias de marketing para atrair consumidores são percebidas nas embalagens atrativas e no design moderno do tabaco, vendido em pacotes de todos os tamanhos, até a granel. As opções estão na internet, tabacarias, postos de gasolina e até em bancas de revista.

Alguns dos produtos encontrados nesses espaços oferecem sabor, o que pode provocar ainda mais dependência, de acordo com o pneumologista da SBPT.

A comercialização de tabaco e acessórios utilizados para o fumo no Brasil é legalizada e regulamentada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Empresas do setor tiveram um crescimento de 72% na última década, segundo dados do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).

Sérgio Fontoura, doutor em Ciências da Saúde e professor Escola de Medicina e Ciências da Vida da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), notou aumento do consumo durante a pandemia. O profissional destaca as chances aumentadas de colocar a saúde em risco em decorrência da falta de padrão do produto bolado manualmente.

"Quando você enrola o seu próprio cigarro pode colocar uma grande quantidade de tabaco e, assim, absorver ainda mais nicotina e substâncias tóxicas."

Fontoura reforça que os riscos cardiovasculares, de doenças respiratórias e de câncer podem ser ainda mais elevados. "A única coisa natural e saudável, nesse caso, é não fumar."

De acordo com o Inca (Instituto Nacional do Câncer), o tabagismo e a exposição passiva ao cigarro são responsáveis por 428 mortes diárias no Brasil e aproximadamente 156 mil óbitos anuais.

A dependência da nicotina integra o grupo de transtornos mentais, comportamentais ou do neurodesenvolvimento e aumenta o risco para mais de 50 doenças crônicas, como cardiovasculares, do aparelho respiratório e câncer.

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