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JULGAMENTO

Flordelis é comparada à Turner, Brunet e Xuxa no julgamento

A defesa da ex-deputada trabalha com a linha de que ela e algumas de suas filhas e netas foram abusadas sexualmente

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Imagem ilustrativa da notícia Flordelis é comparada à Turner, Brunet e Xuxa no julgamento camera Ex-deputada Flordelis é julgada por júri popular em Niterói (RJ) | Brunno Dantas/Reprodução TJ-RJ

A defesa da pastora evangélica e ex-deputada federal Flordelis trabalha com a linha de que ela e algumas de suas filhas e netas foram abusadas sexualmente pelo pastor Anderson do Carmo, morto em junho de 2019.

A advogada Janira Rocha, que defende Flordelis, comparou hoje sua cliente a artistas como Tina Turner, Luiza Brunet e Xuxa. "Mulheres famosas, poderosas e ricas que sofreram abusos sexuais e só muito tempo depois vieram a público dizer isso. A Flordelis não é uma exceção, as mulheres abusadas têm dificuldades, que são comprovadas, de poder expressar esse abuso", disse a defensora em entrevista à imprensa antes do início do segundo dia de julgamento.

PROTOCOLOS PARA ABUSOS

Para reforçar sua linha, a defesa questionou ontem os delegados Bárbara Lomba e Allan Duarte, que participaram das investigações do caso, se foram cumpridos protocolos para vítimas de violência de gênero -estabelecidos pela Lei Maria da Penha e pelo Conselho Nacional de Justiça.

Lomba afirmou que não foi manifestado pelas rés ou outros familiares qualquer desconforto pelo atendimento feito por policiais masculinos ou ausência de psicólogos.

A delegada, que hoje comanda a Deam (Delegacia de Atendimento à Mulher) de Belford Roxo (RJ), afirmou que a instituição não tem estrutura, nem nas delegacias especializadas, para fazer o atendimento nos moldes ideais, mas garantiu que, em suas delegacias, busca o acolhimento para testemunhas e vítimas.

A advogada de Flordelis argumenta que o questionamento foi feito para saber se foi criado um "ambiente para que essas mulheres falassem sobre esses abusos" sexuais e físicos.

"Flordelis vende". A defensora argumenta que o "frisson midiático" em torno da ex-deputada federal acontece porque "ela é um produto e vende", e que o esforço da defesa é para mostrar as provas reunidas nas mais de 40 mil páginas do processo.

"Se nós conseguirmos fazer uma análise técnica das provas e das testemunhas, se esse frisson midiático ficar fora da sala do tribunal e a gente puder fazer nosso trabalho, a única coisa que pode se esperar aqui desse júri é absolvição da Flordelis e dos seus filhos", diz a defensora.

CRIME EM RESPOSTA A ABUSOS

Janira Rocha fez uma espécie de "dobradinha" com a defesa de Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica de Flordelis que também é ré no processo.

Em entrevista à imprensa, a advogada da ex-deputada expôs a linha de que Simone foi a única responsável por tramar a morte de Anderson em resposta a supostos abusos cometidos contra ela e suas filhas, netas de Flordelis.

"Ela sofreu anos isso [abusos] e, quando chegou nas filhas, ela não aguentou. Uma coisa é que ela suportou os abusos porque tinha câncer, dependia do dinheiro para poder fazer seu tratamento de câncer, tinha quatro filhos e não tinha uma alternativa de sair de casa. Mas, quando o abuso chegou nas suas filhas, aí o copo entornou", diz a advogada da ex-deputada.

Além de Simone e Flordelis, também são réus no julgamento a neta Rayane dos Santos Oliveira; e os filhos afetivos André Luiz de Oliveira e Marzy Teixeira da Silva.

PROTEÇÃO À IMAGEM DOS RÉUS

Nesta segunda (7), no primeiro dia de julgamento, os advogados formaram uma barreira de proteção para evitar que cinegrafistas e fotógrafos fizessem imagens de Flordelis, seus filhos e neta -também réus no mesmo processo.

O fato causou estranheza, uma vez que a defesa da família de Flordelis pediu que o julgamento fosse transmitido ao vivo. Hoje, Janira Rocha explicou que foi um pedido dos réus.

"Eles estavam se sentindo no zoológico, sendo olhado pelas pessoas. Então, pela defesa da dignidade deles, a pedido deles, a defesa fez isso", disse.

Hoje, no segundo dia de julgamento, cinegrafistas e repórteres não puderam registrar imagens a pedido da defesa. Em razão do forte ar-condicionado do plenário, Flordelis usa uma manta e ouve os depoimentos de cabeça baixa.

O primeiro a depor foi o inspetor Tiago Vaz de Souza, que ouviu depoimentos em delegacia durante as investigações do caso. Ele foi arrolado pelos assistentes de acusação -ou seja, advogados da família de Anderson do Carmo.

CONTINUAÇÃO DO JULGAMENTO

Hoje estão previstos os depoimentos das outras nove testemunhas de acusação que não depuseram ontem, primeiro dia de julgamento.

São os filhos afetivos Alexsander Felipe Mato Mendes, Daiane Freires e Wagner Andrade Pimenta, conhecido como Mizael; o filho biológico Daniel dos Santos de Souza; as filhas adotivas Érica dos Santos de Souza e Roberta dos Santos; a nora Luana Vedovi Rangel Pimenta; e as netas Raquel dos Passos Silva e Rebeca Vitória Rangel Silva.

Essa é a parte da família que diz acreditar na culpa de Flordelis nos crimes. Em abril, Luana depôs à Justiça e afirmou que Marzy -ré neste julgamento- manifestou desejo de ver Anderson morto.

O QUE JÁ DISSE A NORA

Em abril, Luana disse que Simone era uma das que mais reclamavam de Anderson. Flordelis, de acordo com a nora, fazia coro nas reclamações.

O relato foi dado no julgamento de outros dois filhos de Flordelis. Na ocasião, Carlos Ubiraci Francisco da Silva, filho adotivo da ex-deputada, foi absolvido das acusações de homicídio triplamente qualificado e de tentativa de homicídio.

Carlos Ubiraci e outros três réus foram condenados por uso de documento falso e associação criminosa armada por se envolverem na elaboração de uma falsa carta em que Lucas Cézar dos Santos, outro filho adotivo de Flordelis, assumiria toda a culpa pela morte de Anderson.

OUTROS CONDENADOS

Em novembro de 2021, a Justiça condenou outros dois filhos de Flordelis.

Acusado de efetuar os disparos que mataram o pastor, Flávio dos Santos Rodrigues foi condenado a 33 anos e dois meses de prisão por homicídio, porte ilegal de arma de fogo, uso de documento falso e associação criminosa.

Lucas Cézar dos Santos de Souza -acusado de ter comprado a arma usada no crime- foi condenado a sete anos e seis meses de prisão por homicídio.

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