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Delivery: a salvação que vem da internet

O isolamento social fez com que produtores e pequenos empresários investissem na entrega usando as redes sociais para que seus produtos chegassem aos clientes. Deu certo e agora o delivery veio para ficar

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Imagem ilustrativa da notícia Delivery: a salvação que vem
da internet camera Produtos prontos para ir à cesta: frescos e direto na sua casa pelo delivery | Divulgação

Em todos os seus longos anos de estrada como agricultora, Luciane Oliveira, moradora do assentamento rural em Santa Bárbara, na Região Metropolitana de Belém, não esperava passar por um período de mudanças tão drásticas como o que a pandemia de covid-19 trouxe. Ela, assim como milhares de pequenos produtores e comerciantes ligados a cadeia produtiva do agronegócio, tiveram, de um dia para o outro, que aprender a trabalhar com um serviço até então totalmente inexplorado: o delivery.

Junto com 5 amigas, Luciane possui um terreno onde produz de “tudo um pouco”, como ela mesma diz. Dali saem hortaliças, pupunha, laranja, açaí, banana, limão, condimentos. Tem até criação galinhas e patos. Sem saber dirigir, antes da pandemia elas vendiam para intermediários, que em seguida transportavam e vendiam a mercadoria em feiras e mercados da Grande Belém. Com as medidas de isolamento, a procura diminuiu. Auxiliada pelo programa Vitrine Artesanal, da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater), Luciane e as amigas passaram a oferecer seus produtos a uma grande lista de clientes pelo WhatsApp, onde elas mesmas entregam. Atualmente Luciane vende em média 50 cestas por quinzena para clientes da capital, e deseja continuar oferecendo a entrega mesmo após o fim das restrições de isolamento.

Na outra ponta do negócio estão jovens de Belém como Camila Miquelini, 28, dona do estabelecimento ‘Égua do Açaí’, e Nayana Pereira, proprietária da loja ‘Mãos Orgânicas’, ponto de venda que oferece de produtos agroflorestais e orgânicos produzidos por cerca de 30 parceiros, entre eles muitos agricultores das regiões metropolitanas da capital. Ambas já ofereciam o delivery, mas com a pandemia registraram um crescimento significativo no serviço.

Camila possui duas unidades. Para atender a demanda, compra o fruto do pai - que possui um modelo de plantação em terra firme irrigada, em Igarapé-açu - e de outros produtores do interior. Após o início da pandemia foi necessário criar uma logística mais dinâmica para atender a ampliação das áreas de atuação da empresa. Com o foco nas entregas, a jovem conseguiu manter a mesma produção de antes: de 120 a 150 litros durante a semana e 220 litros no sábado e domingo. “Nós sentimos bastante o movimento nesse período de isolamento na primeira semana, mas o serviço de delivery nos ajudou muito a recuperar. Antes do isolamento fazíamos em média 50 entregas nos dias de semana e 80 nos sábados e domingos. Agora temos notado um aumento de 30%”, conta.

Nayana e o marido, Zeno Pereira, fazem a entrega dos produtos orgânicos e a internet é a principal ferramenta para isso
📷 Nayana e o marido, Zeno Pereira, fazem a entrega dos produtos orgânicos e a internet é a principal ferramenta para isso |Divulgação

Nayana viu suas entregas por delivery, que já era a principal forma de venda de seu estabelecimento, aumentarem 80% durante o período. “Trabalhamos, em média, com 30 parceiros locais e de outras localidades, entre eles agricultores, camponeses, artesãos, produtores e estilistas. Já tínhamos serviço de delivery, mas com certeza passamos a utilizar muito mais após a pandemia. Eu estou tendo que me reinventar durante este período, principalmente com a questão das redes sociais e do fator entrega, que é algo que estamos aprimorando. Nosso planos são expandir, melhorar e inovar, com ou sem pandemia”, diz Nayana, ressaltando a importância do aprendizado de um estilo de vida mais sustentável para um novo período pós pandemia.

Assim como Luciane, Camila e Nayana, muitos dos cerca de 60 mil pequenos produtores – somente contando com os que são assistidos atualmente pela Emater – e milhares de comerciantes, precisaram se adaptar rapidamente ao serviço de entregas para manter algum tipo de ganho com seus produtos. Grande parte nunca imaginou sequer usar a internet para vender. O resultado teve seu lado positivo, aguçou a criatividade, desmistificou o setor online e desenvolveu ainda mais o sentido de empreendedorismo. O mercado de delivery, principalmente através dos aplicativos, já vinha sendo um dos que mais contribuíam para aquecer a economia brasileira antes da pandemia. A contar do início da quarentena, no mês de março, houve um crescimento de 32% nos serviços de delivery e pronta-entrega no Pará - segundo levantamento divulgado pelo Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Estado (SHRBS-PA). O número não é suficiente para manter os ganhos obtidos antes do período de lockdown, mas amenizam algumas despesas de produtores e comerciantes e atraem milhares de consumidores que deverão passar a usar mais o serviço, mesmo após a pandemia.

Luciane encontrou no celular uma maneira de vender seus produtos caseiros para a capital
📷 Luciane encontrou no celular uma maneira de vender seus produtos caseiros para a capital |Divulgação

ONDA

Usando um frete particular, Luciane faz questão de realizar suas entregas pessoalmente. A maior parte dos clientes é de Belém, mas ela conta que a procura de moradores locais também aumentou. A cesta com um combo de produtos escolhidos pelo cliente é vendida por R$ 55. “Estou fazendo assim: vou pra Belém depois que consigo juntar cinco ou seis clientes só de um bairro pra fazer a entrega por delivery. Acordo de madrugada para fazer as cestas e saio no início da manhã, as vezes ainda está escuro. Infelizmente eu deixo alguns clientes chateados porque não consigo atender a todos na semana, mas a gente tenta por bairros próximos entregar”, conta. Para a Emater, os produtores aderiram bem a mudança e muitos pretendem continuar oferecendo o serviço mesmo após o período de lockdown.

“Eles estão respondendo muito bem ao delivery. Muitos dão informações positivas pra gente. Nós divulgamos e criamos a dinâmica pro delivery deles, damos apoio técnico, e eles mesmo levam o produto. E assim boa parte deles estão conseguindo escoar toda produção sem perdas significativas. Eles são pequenos agricultores que se viram obrigados a trabalhar de uma outra forma. Tinham canais físicos e tiveram que se reinventar. Estamos nesse processo todos nós, estamos trabalhando hoje online. Acho que depois que isso passar muitos irão permanecer com esse modelo. Acelerou o processo, pulamos uma etapa que íamos demorar a atingir, mas a situação fez acelerar. Tem várias vantagens. Muitas pessoas começaram a pedir os produtos negociando diretamente com o produtor. Às vezes, o produtor até perde os produtos fora do delivery, quando não consegue vender tudo. Agora com essa ligação direta eles ganham. Ele não desperdiça, só entrega o que a pessoa pede. Eles mostraram que quando a vida te der limão, faça uma limonada”, diz Cleide Amorim, presidente da Emater.

Além da loja física, a empresa Égua duaçaí, faz entregas do produtos em Belém e teve aumento de 30% nos pedidos
📷 Além da loja física, a empresa Égua duaçaí, faz entregas do produtos em Belém e teve aumento de 30% nos pedidos |Divulgação

Para Luciane e suas cinco amigas o serviço já é uma realidade. A vida para estas mulheres agricultoras é um constante aprendizado. Juntas, elas conseguiram fazer uma bela produção em um terreno antes desprezado. Tiveram que aprender a ciência da terra “do zero”, como ela mesma diz. Com muita dedicação conseguiram aprender e com louvor. Agora é a vez dos aplicativos, de mostrar os produtos através da internet. “Por que não? A internet é intuitiva, se aprende rápido. Hoje faço tudo sozinha. Se podemos mostrar nosso trabalho para novas pessoas e aumentar nossos clientes, porque não aprender? Eu estou aqui sempre com meu celular do lado, plantando, colhendo, e mostrando tudo na internet”, conta. Após a pandemia o objetivo é retornar as feiras e mercados, mas sem abdicar da internet, é claro.

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