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OPINIÃO

Coluna do Gerson: Clube do Remo em busca de um recomeço

Depois da frustrante e imaginável desclassificação na Série C, o Leão já planeja um recomeço.

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Imagem ilustrativa da notícia Coluna do Gerson: Clube do Remo em busca de um recomeço camera No Baenão, o clima é pesado, mas de recomeço | Fernando Torres

Planos de um recomeço

O processo é sempre penoso, mas o Remo começa a tocar a vida depois de sair da Série C e ficar sem calendário. O passo imediato é limpar a área, diminuindo custos e economizando o máximo possível. Quando não há receita prevista, o caminho é eliminar despesas. Se não dá para zerar totalmente, é perfeitamente viável cortar os custos mais pesados.

Com um dos elencos mais caros da Série C, não havia como permanecer com Brenner e Bruno Alves, dois dos maiores salários da folha. Artilheiro do Remo na temporada (11 gols em 32 partidas), Brenner foi bem avaliado pelo torcedor, mas saiu em viés de baixa, pois não marcou nos últimos quatro jogos, justamente os mais importantes da competição.

Atacante titular pelo lado direito, Bruno Alves foi muito bem no Parazão; na Série C, oscilou muito. Começou mal e só recuperou a titularidade a partir da 10ª rodada. Foi o vice-artilheiro azulino em 2022, com sete gols em 23 partidas. Tanto Brenner quanto Bruno saem valorizados e devem fechar com clubes da Série B.

Os desligamentos continuam nos próximos dias. O único setor provavelmente sem mudanças é o gol, onde Zé Carlos, Vinícius e Vítor Lube deverão permanecer. Nas demais posições, não há como permanecer com tantos atletas na folha de pagamentos, sem competição pelos próximos quatro meses – em termos de encargos, há ainda o 13º salário a considerar.

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Em conversa com a coluna, o presidente Fábio Bentes informa que começa a montar um planejamento de emergência, que contempla as dispensas de atletas e a busca de negociação com patrocinadores, além de ativar promoções e estimular o engajamento de sócios e torcedores.

Na avaliação dos percalços que resultaram no fracasso, o presidente admite que muita coisa fugiu ao planejado, com especial destaque para o perfil do elenco. Mais do que jogadores escolhidos pelo nível técnico, o clube vai mirar em atletas de característica mais guerreira.

A ideia é iniciar de imediato o processo de reformulação a fim de preparar terreno para a próxima temporada, com a montagem de novo elenco a partir de dezembro, sem resquícios de pendências de 2022.

Bentes sinaliza que o planejamento inclui mudanças drásticas na administração, com serenidade, sem açodamento. O fato é que quando as coisas vão mal a tendência é individualizar os alvos, mas é preciso entender que o futebol é sempre coletivo, dentro e fora de campo.

Tempo é que não vai faltar para o Remo encontrar meios de se reorganizar e tentar uma guinada vitoriosa em 2023. A perspectiva de uma Série C dividida em turno e returno, como as séries B e A, pode mudar a competição para melhor, mas fazendo subir o sarrafo de dificuldades.

Preparar um elenco para o Brasileiro desde o campeonato estadual será naturalmente o principal desafio da diretoria do Remo a partir de agora, a fim de voltar à Série B no último ano de mandato da atual diretoria.

Com a terra arrasada, oposição ensaia sair da toca

Como de praxe, a péssima campanha do Remo na Série C, segunda decepção de mona a que a torcida azulina foi submetida em pouco mais de um ano, atiça a fúria oposicionista no clube. O clima de paz que perdurava desde a reeleição do presidente Fábio Bentes foi quebrado pelas duras críticas postadas na internet por representantes da oposição.

É compreensível que a torcida –que inclui sócios, beneméritos e conselheiros – esteja abespinhada desde a eliminação do time, domingo passado. O Remo tinha a obrigação de se classificar para a segunda fase do campeonato. Além do alto investimento em contratações, o time era um dos favoritos a brigar pelo acesso. Ficou só na vontade.

Erros graves foram cometidos, faltou planejamento adequado para formatar um elenco realmente qualificado e a troca de técnicos foi contraproducente. Nada que já não tivesse acontecido. No ano passado, na Série B, os mesmos erros foram responsáveis pelo rebaixamento. Por isso mesmo, as críticas são inteiramente justificadas.

Todos têm o direito de protestar e apontar as muitas falhas cometidas. A alguns, porém, falta o devido respaldo para atirar pedras a esta altura. É preciso recordar dirigentes que deixaram o clube à beira da falência nas últimas três décadas, com gestões perdulárias e irresponsáveis, incluindo o notório cartola que tentou de todas as formas vender o estádio Baenão.

A gestão de Fábio Bentes merece críticas pela condução do futebol, muito abaixo do esperado nos dois últimos Brasileiros, mas administrativamente tem muitos méritos. Alguns deles: tirou as finanças do vermelho, pagou as dívidas mais robustas, reconstruiu o Baenão – que havia sido sucateado por outra gestão – e adquiriu o Centro de Treinamento.

Mídia trepidante agora enaltece até rachão

A ruidosa mídia paulistana, maciçamente representada pelos programas nos canais de esporte e na internet, segue fazendo das suas. Além de dedicar 99% do tempo a analisar e endeusar os grandes clubes de São Paulo, relegando o resto do país a migalhas e quase sempre comentários desairosos.

Ontem, por falta de opções, fiquei vendo por alguns instantes a ESPN e só fiz aumentar a saudade do mestre José Trajano. Fui apresentado a gritos histriônicos e louvações bobas a uma legião de jogadores e técnicos, principalmente os queridinhos Vítor Pereira e Abel Ferreira. Clima de quermesse clubística, como um balcão de torcedores.

Para coroar, um repórter trepidante faz uma entrada triunfal para mostrar um gol de carrapeta de Patrick num treino rachão do São Paulo. O que causa espanto é que, na falta de opção de jogo, os caras começam a tecer loas a leões de treinos. O futebol vai mal, mas o entorno não ajuda.

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