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OPINIÃO

Coluna do Gerson: Bonamigo merecia mais respeito de Bentes

Paulo Bonamigo foi demitido de forma desrespeitosa pelo Clube do Remo, em um ato de emoção de Fábio Bentes, presidente do Leão.

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Imagem ilustrativa da notícia Coluna do Gerson: Bonamigo merecia mais respeito de Bentes camera Paulo Bonamigo merecia mais respeito em sua saída do Clube do Remo | Foto: Irene Almeida/Diário do Pará

Princípios de civilidade

Paulo Bonamigo foi demitido no domingo à noite, minutos depois do jogo entre Remo e Altos-PI, sob impacto direto da surpreendente reviravolta no placar – o Remo levou dois gols num apagão de quatro minutos. A torcida ainda vaiava time e comissão técnica quando o presidente Fábio Bentes anunciou a saída do treinador, em entrevista ao repórter Magno Fernandes (DOL) nas tribunas do Baenão.

É claro que o gesto deselegante em relação a Bonamigo irrompeu no calor dos acontecimentos, sob a pressão de corneteiros e em atenção aos protestos irados da torcida nas arquibancadas. A ironia é que, nas últimas semanas, o presidente e seus diretores pisam em ovos para evitar que a demissão tivesse um caráter frio ou humilhante.

Havia o sentimento otimista de que Bonamigo poderia ainda empreender uma reação, levando o time a se estabilizar. Persistia a preocupação em preservar ao máximo o profissional, de forte identificação com o clube nas últimas três décadas.

Mesmo com a cobrança diária de conselheiros e diretores, Fábio resistiu o quanto foi possível para garantir a permanência de Bonamigo, que é amigo da cúpula dirigente do Remo, incluindo os vices Antônio Carlos (Tonhão) Teixeira e Marcelo Carneiro.

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Pessoas próximas aos dirigentes contam que o trio nutre reverência e admiração pelo técnico, conhecido pela seriedade de atitudes e extrema responsabilidade profissional. Era visível o desconforto em criticar até detalhes corriqueiros do trabalho.

Ainda assim, apesar de todos esses laços de amizade, a ruptura foi desastrosa, açodada. Algo saiu dos trilhos. Demitir é tarefa que faz parte da rotina trepidante do futebol brasileiro. Bonamigo não vinha entregando resultados, portanto estava permanentemente ameaçado.

O time não convenceu ao longo da Série C. Na verdade, cumpre no Brasileiro a mesma trajetória tortuosa vista no Estadual, quando se sagrou campeão perdendo o jogo final por 3 a 1, na Curuzu, exibindo erros e fragilidades flagrantes.

Veio o Brasileiro e os problemas se acentuaram. A lentidão na saída de bola, a hesitação em adotar um estilo mais agressivo, o recuo excessivo após conquistar vantagem no placar. Todos esses pecados foram criando um coro coletivo de reprovação ao técnico, arranhando até o sólido prestígio dele junto à torcida.

Cabe lembrar que, na Série B 2021, o técnico também teve um início desaprovado pela torcida. Saiu na 7ª rodada, mas não foi demitido – ao contrário, pediu demissão ao perceber que não conseguia fazer a equipe jogar competitivamente.

Retornou em 2022, mas não havia mais química. Apesar do título estadual, o torcedor se manteve desconfiado e claramente ressentido pelo traumático rebaixamento da Série B. Em campo, apesar dos bons investimentos em reforços para a Série C, o time não encaixou.

O trabalho não deu liga, o que é normal. Apesar disso, a dispensa deveria ter sido mais digna e respeitosa. Bonamigo, como poucos, merecia isso. E que ninguém venha alegar que vale tudo nesses momentos.

O presidente, reconhecidamente um gentleman, assumiu a persona de mero torcedor. Podia esperar alguns minutos, descido aos vestiários e comunicado ao técnico a decisão. Não ia alterar em nada a ordem dos acontecimentos, mas honraria os princípios de civilidade.

Bonamigo não é um técnico qualquer, está inserido na história do Remo – como Joubert Meira, Valdemar Carabina, Danilo Alvim, Pepe, Carlinhos Silva, João Avelino. Gratidão e generosidade são sedimentos do bem-viver. A melhor maneira de pedir desculpas a ele é cuidar para que o deslize não se repita jamais.

Virada gigante sobre as injustiças do apito

O botafoguense está com o peito inflado de orgulho. Eu estou. Os acontecimentos da noite de domingo, no Beira-Rio, serviram para lavar a alma. O Botafogo, de longo histórico de prejuízos nas mãos de apitadores fajutos, mal-intencionados ou despreparados.

Mesmo para os padrões alvinegros de infortúnios, o que o árbitro Sávio Pereira Sampaio e o VAR aprontaram foi bizarro e desmedido. Além da queda, o coice: o zagueiro Philipe Sampaio levou o cartão vermelho e o técnico Luís Castro também foi expulso.

Em meio à barafunda, o Inter abriu o placar e antes dos 15 minutos já vencia por 2 a 0. A vitória se prenunciava tranquila para os empolgados torcedores colorados. Havia até a possibilidade de uma goleada. Com um a menos, o Botafogo tinha uma montanha a conquistar para fugir à derrota.

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E não é que o Glorioso se armou de coragem e escalou a montanha? Com valentia e entrega desmedidas, foi buscar forças onde aparentemente não havia. Descontou ainda no primeiro tempo. Na etapa final, correu bravamente em busca do milagre. Perdeu duas boas chances antes de El Toro, em assistência do capitão Carli, cravar 2 a 2.

No finalzinho, em contra-ataque letal articulado por quatro joias da base botafoguense (Jefinho, Kaique, Matheus Nascimento e Hugo), fez-se a apoteose. O sprint final de Kaique, flechando como um bólido entre beques e estourando com o goleiro, oportunizou o rebote para Hugo arrematar.

Gol épico, como costumam ser as grandes façanhas humanas. A torcida gaúcha calou diante da hercúlea reação. Os jogadores do Inter não souberam ganhar (mesmo com a ajuda do apito) e também não souberam perder, partindo para uma troca de socos tão cretina quanto imotivada.

Nas redes sociais, nos instantes que se seguiram ao assalto, criou-se uma imensa mobilização de solidariedade ao Botafogo. Por um dia, quem ama futebol se rendeu aos encantos da Estrela Solitária.

(A coluna voltou excepcionalmente hoje, por razões relevantes. Retorna em definitivo no início de julho)

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