Como todo mundo sabe, um rebaixamento não ocorre em função do resultado da última partida. Ele se constrói ao longo das 38 rodadas. O Remo errou muito ao longo da competição, seguiu à risca os itens do manual de descenso. Começou errando antes do campeonato começar. Pecou no planejamento e nos critérios de contratação.
O desfecho de ontem foi quase uma tragédia anunciada. O melancólico empate sem gols diante de um Confiança que parecia disputar a final da Copa do Mundo coroou o rosário de falhas cometidas.
O torcedor fez uma festa impressionante, antes e no começo do jogo. Encheu as arquibancadas, cantou e incentivou. Aos poucos, porém, vendo o time sem alma ou vibração, foi arrefecendo no barulho. No final do primeiro tempo, as expressões já eram de preocupação e angústia.
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A atuação anêmica da equipe não estimulava o torcedor a se empolgar. Estava desenhada a frustração, mesmo quando em raros lances a bola ameaçou entrar no gol do Confiança. Chegou até a entrar, em chute de Neto Pessoa, mas o árbitro Rafael Claus anulou sem a revisão do VAR.
Nos primeiros 45 minutos, apenas um chute digno de registro. Mateus Oliveira arriscou da intermediária para grande defesa de Rafael. Os demais ataques foram de aproximação, mas em avanços lentos demais para levar ameaça concreta à defensiva do Confiança.
O time sergipano ameaçou várias vezes, com cruzamentos rasantes para Hernane Brocador e Williams, mas também não teve a chamada chance clara. Alguns jogadores pareciam excessivamente tensos no Remo. Antes dos 10 minutos, o capitão Lucas Siqueira quase complicou uma bola na pequena área.
Romércio novamente se apresentou lento, sem força no jogo aéreo e nas antecipações. No meio-campo, Felipe Gedoz foi tímido na maioria dos lances e quando arriscou (como aos 27 minutos) errou na decisão.
Para a etapa final, o técnico Eduardo Baptista decidiu trocar Anderson Uchoa por Neto Moura, típica mexida de 6 por meia dúzia, que não melhorou o funcionamento do time. Pelo contrário, aumentou o grau de desentrosamento da zaga, que ainda perderia Tiago Ennes por lesão (Wellington Silva o substituiu).
Tirou Felipe Gedoz e lançou Jefferson, mas Erick Flores seguiu no banco, desafiando o bom senso. A única maneira de o Remo furar o forte bloqueio seria com tentativas verticalizadas, que permitissem romper as linhas de marcação. Quando Erick entrou, a situação já era de desespero.
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Ainda assim, teve boa movimentação. Baptista ainda fez outra troca, colocando Ronald no lugar de Lucas Tocantins. Poderia ter segurado um pouco mais para ver como o ataque funcionaria com Jefferson e Tocantins abertos pelos lados.
A dificuldade do treinador em entender o funcionamento do time e a potencialidade dos jogadores deve ser compreendida. Ele está há duas semanas em Belém, teve pouco tempo para conhecer todos os jogadores. O fato remete inevitavelmente ao problema gerado por trocas de comando quando restam poucos jogos para reagir.
Tinha tudo para dar errado, e deu. O placar em branco é um reflexo do time pouco agressivo (31 gols na competição, terceiro pior ataque) e que só fez perder força nas 12 rodadas finais do campeonato, justamente quando o rendimento deveria ser minimamente positivo.
Foi por um ponto que o Remo caiu (o Londrina somou 44), mas foram muitos os pontos negativos que levaram a isso. (Fotos: Samara Miranda/Ascom Remo)
Queda impõe um passo atrás em sonhos e projetos
Ainda é cedo para falar em reformulação, mas é fato que o Remo não pode ficar sem mudanças profundas para 2022. Inevitável observar que, com o rebaixamento, mudam os planos de gestão. A receita que o clube iria auferir se reduz a quase nada diante dos projetos grandiosos que a diretoria tinha para os próximos anos.
Um passo atrás terá que ser dado, com consequências ainda imprevisíveis. Diminui o orçamento e encurta o sonho de evolução. Até mesmo o Centro de Treinamento, comprado no começo da temporada, terá que passar por um realinhamento de obras.
O futebol profissional é cada vez mais dispendioso. Jogar a Série B significou para o Remo ter acesso a receitas de TV que a Série C não dá. Perde também a imensa visibilidade que a competição oferece. Terá que rever suas contas e apostar num elenco mais modesto para a temporada.
Não volta à estaca zero porque o clube evoluiu administrativamente, criou um centro médico qualificado, investiu em melhorias no Baenão e passou a ter um CT. Ocorre que manter essas estruturas custa dinheiro, que será muito mais curto a partir de agora.
Campeões em campo, arautos da fé nas entrevistas
Roni e Weverton, dois ex-remistas, pontificaram nas comemorações pelo tricampeonato da Libertadores conquistado no sábado pelo Palmeiras. Roni sempre festeja com a bandeira do Pará e voltou a fazer isso, mas curiosamente não mencionou a passagem inicial e fundamental pelo Remo no começo da carreira.
Ambos, cada um à sua maneira, falaram aos repórteres como evangélicos fervorosos deixando de lado a importância da conquista para louvações religiosas e citações a passagens da Bíblia. É como se, na visão dos atletas, o jogo fosse uma missão divina.
Religião é algo muito particular, mas sempre soa estranho quando alguém enaltece sua fé como se os demais times não pudessem ser dignos das mesmas bênçãos divinas. Enfim, coisas que o futebol brasileiro passou a incorporar desde que lá atrás surgiram os chamados “atletas de Cristo”.
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