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"O SKATE ESTÁ EM FESTA"

Veterano Formiga vê potencial para novas "Fadinhas" no Pará

A ascensão nas Olimpíadas de Tókio da "fadinha" Rayssa Leal é sinal de novos ventos para o skate paraense, segundo o profissional Augusto Formiga. Com três décadas em cima das quatro rodinhas, ele vê boas mudanças em relação à modalidade, com mais interesse do poder público e skatistas promissores.

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Imagem ilustrativa da notícia Veterano Formiga vê potencial para novas "Fadinhas" no Pará camera O veterano Formiga, 30 anos de história: "o skate está em festa". | Reprodução do Intagram

Um dia antes da abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016, o Comitê Olímpico Internacional (COI) aprovou a entrada do Skate, junto de outros quatro esportes, nos jogos de Tóquio 2020. O sucesso do esporte sobre quatro rodinhas no Japão foi estrondoso e tornou a modalidade uma das mais comentadas nas redes sociais no Brasil.

Um dos fatores que levou a esse enorme sucesso foi a lista dos atletas brasileiros que marcaram presença nas olimpíadas realizada no Japão Ao todo, doze skatistas representaram o Brasil e três deles conseguiram medalhas: Kelvin Hoefler e Rayssa Leal, na modalidade Street, e Pedro Barros, na modalidade Park. Todos ganharam medalhas de prata na competição. Esse feito pioneiro e de alto rendimento fez com que o esporte ganhasse novos holofotes no cenário nacional.

Em Belém, o triunfo brasileiro no Skate não passou despercebido. Tanto que no mesmo dia que Rayssa Leal fez história ganhando a Prata no Japão, o prefeito de Belém Edmilson Rodrigues se reuniu com o presidente da Federação Paraense de Skate, Mauro “Abelha” Marinho, e outros esportistas engajados nesse esporte. O objetivo é vislumbrar novos projetos para o desenvolvimento da prática na capital . Mas nem sempre foi assim. O skate, no Pará, como em muitos Estados brasileiros, nunca teve tanta atenção como esporte.

Um dos exemplos dessa falta de cuidado com a categoria pode ser entendido a partir da história do skatista paraense Augusto Formiga. Com mais de 20 anos de carreira profissional, o atleta, que nasceu e cresceu na Cidade Nova, no município de Ananindeua, viu-se obrigado a deixar o Pará em busca do sonho de viver exclusivamente do skate.

“O skate entrou na minha vida eu tinha de 13 pra 14 anos, eu sou de uma comunidade muito pobre. Foi de uma forma tão grandiosa que eu quis ser um atleta profissional a qualquer custo. Eu comecei como atleta mirim, concorri aos campeonatos mirins, iniciantes, amador e em 1997 me profissionalizei", recorda Formiga.

Com o avanço e o bom desempenho, as opções para ficar onde nasceu praticando o que amava e sabia fazer foram se esgotando. A hora de partir, então, chegou: "fui embora pra São Paulo primeiro, lá me profissionalizei, fiquei lá uns três anos, disputando campeonatos profissionais e quando fui ver já tava morando na Califórnia (Estado Undidos). Foi aí que eu vi essa necessidade, que, em Belém, não tinha o recurso necessário para me tornar atleta profissional".

Nesse périplo longe de casa, Formiga passou a concorrer em campeonatos profissionais de Curitiba, São Paulo, Brasília. Mas foi na capital paulista que ele se fixou. São Paulo. "O Pará não tinha essa base, não tinha pistas adequadas pro treino, pra me profissionalizar na época. (tiver que buscar) a União Brasileira de Skate, hoje é CBSK (Confederação Brasileira de Skate). Fui pra lá, me profissionalizei, e lá consegui viver do skate e vivo até hoje.”, disse ele.

A busca pelo sonho

Para Formiga, a história da “Fadinha” Rayssa Leal se entrelaça um pouco com a dele, mas destaca que o suporte que a skatista mirim conseguiu já tão cedo foi um grande diferencial. “Quando percebi, já estava na Califórnia, andando na mega rampa, andando com o Mineirinho, com o Bob Burnquist. Essa trajetória toda, hoje vendo as Olímpiadas, me lembra a Rayssa. Ela começou esse mesmo processo, essa mesma explosão, só que já com estrutura, com pista, com apoios, patrocínios. Isso é muito legal e é o que a gente precisa hoje!”, apontou.

Um dos pontos mais defendidos por Formiga é uma estrutura que possibilite aos skatistas a treinarem com o mínimo de dignidade. Hoje, Belém conta com apenas quatro pistas de skate destacáveis (a do Conjunto Marex; a “Dorothy Stang”, no bairro da Sacramenta, e os Skate Parks de Icoaraci e de Mosqueiro) . Nenhuma delas foi feita a partir da consulta dos praticantes da modalidade e, por isso, apresentam falhas técnicas que dificultam a prática do esporte. Além disso, essas estruturas carecem de reforma. Algumas estão há, pelo menos, 15 anos sem o devido cuidado, segundo o atleta.

“O Skate tá super em alta, mas a gente precisa ter um centro de treinamento pra Skate, precisa tirar a molecada da ociosidade. As nossas pistas são defasadas. É complicado. Mas as coisas estão engrenando, o poder público já tá olhando de uma outra forma. Então, a gente espera muito que esse novo governo traga esse apoio, que eu acho que é merecido. O skate hoje tem que ser visto dentro da comunidade mesmo. Tem que ter pista no centro de Belém, que seja referência nacional, porque o skate paraense é referência nacional, regional e mundial.”, afirmou.

O Skate como trabalho social

Depois de viajar parte do país e do mundo por causa do skate, Formiga encontrou uma forma de retribuir tudo o que conquistou e decidiu fazer isso na comunidade onde começou. Por meio de programas sociais, o skatista conta com a ajuda de amigos para levar o esporte para mais crianças em Ananindeua.

“Tem o trabalho social “Café com Skate”. A gente leva no último fim de semana de cada mês um café da manhã para a comunidade da região. E a gente consegue não só fazer com que aquelas crianças tenham contato com o skate, mas também tomar um café da manhã que muitas das vezes essas crianças nem tem em casa. Isso é muito importante. Pra gente, como atleta profissional e pelo que passamos, hoje temos condições de fazer pela sociedade”, disse Formiga.

Mas se engana quem pensa que é só Ananindeua que ganha com o trabalho social do skatista. Marabá, Parauapebas, Canaã dos Carajás são alguns dos outros destinos que também entram na rota social de Formiga.

“Tem quatro anos que fazemos um grande evento em Canaã dos Carajás. Um evento belíssimo, em que conseguimos trazer atletas profissionais de outros estados para fazer apresentação dentro da cidade. E não é só Canaã, tem Marabá, Tucuruí, Parauapebas. Castanhal, que agora tem uma pista olímpica que foi projetada por um skatista, que é arquiteto e engenheiro", conta;

Formiga acredita que novos eventos da modalidade devem ocorrer com o fim da pandemia. "Os grandes eventos acontecem, só demos essa parada por causa da pandemia. Mas acredito que vamos voltar muito bem, porque hoje somos medalhistas olímpicos. O Brasil sempre teve essa força dentro do esporte, e eu acredito que essas medalhas deram um boom muito grande. Acredito que hoje os pais tem uma outra noção do que é o skate, e isso é muito bacana! Passou aquela história de skate marginalizado, o skate é um esporte olímpico agora”, comemora.

Para as futuras “Rayssas”, desenvolvimento

Quando perguntado se Belém pode ser um berço para novas “Rayssas”, Formiga não titubeou em dizer que sim, mas que é um trabalho que precisa ser desenvolvido.

“Eu acho que existe um atleta dentro de cada uma dessas crianças, mas a gente precisa desenvolver o trabalho em cima disso. Tem uma menina de Icoaraci, uma menina que anda muito de skate. Não só ela, tem o Benício Lobato que é um dos grandes nomes do skateboarding infantil que vai explodir no nosso cenário. Anotem o nome, Benício Lobato. Esse moleque vai explodir no cenário nacional logo.", entusiasma-se.

Agora, depois de anos como profissional e já dando retorno desse sucesso profissão para comunidade onde cresceu, passa um filme na cabeça de Formiga sobre todos os obstáculos que atravessaram seu caminho e o levaram onde ele está.

“Passa um filme de tudo o que aconteceu há 30 anos. Hoje elas querem ser a Rayssa, o Hoefler. Antes a gente não tinha esse apoio. Fico mais feliz que hoje os órgãos públicos estão tendo essa atenção maior pro esporte. Eu tô vendo que vão ser criados grandes parks na região metropolitana de Belém, e o governo chamou a federação para trocar ideia, pra ver de forma ampla o que pode ser feito nesses grandes parks. Então isso pra mim é um primeiro passo grandioso. Fomos chamados, como federação, como associação, como atleta profissional. Como skatista mesmo", emociona-se.

Formiga diz que, quando se abre esse leque, de um governo que se propõe a chamar e ouvir, já se vê grande diferença. "É uma coisa mais dinâmica, uma coisa que provavelmente venha a acontecer mesmo. A gente fica feliz pelo o que tá acontecendo, é o que a gente batalhou durante 30 anos e hoje tá se tornando realidade. O skate tá em festa, graças a Deus”, finalizou.

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