Com o passar dos anos, ficou cada vez mais raro encontrar uma pessoa que não esteja conectada a internet ou que não tenha pelo menos um perfil em uma rede social. Por isso, muitos viram oportunidades em usar essa conexão como meio de trabalho, surgindo profissões mais modernas como as de influenciadores digitais e administradores de redes sociais, os social mídia, que estão diretamente ligadas ao mercado publicitário, empresas e vendas.
Uma das maiores plataformas online do mundo, a Meta, responsável pelo Instagram, Facebook, WhatsApp e Threads, atingiu o número impressionante de mais de 3 bilhões de usuários ativos diariamente em 2023. Porém, é bom pensar que, com esse crescimento, as informações se espalham rapidamente, podendo facilitar a divulgação de notícias falsas em todo o mundo.
Para evitar as “Fake News”, algumas redes sociais mantinham um setor especifico para a checagem de fontes e veracidades de fatos, conhecido como os “fact-cheking”. Neste ano, o CEO da Meta, Mark Zuckerberg, anunciou mudanças cruciais na plataforma como o fim dos “fact-cheking” e a volta de recomendações de assuntos políticos.
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Em um mundo cada vez mais globalizado e com pessoas que usam as redes sociais para negócios, os impactos sociais, publicitários, legais e financeiros podem ser enormes. Mas como se preparar para essas mudanças?
O Impacto em empresas digitais
Incialmente, as mudanças na Meta estão restritas apenas aos Estados Unidos, sendo uma forma de “teste” que podem ser expandidas para todo o mundo. Por isso, algumas empresas devem estar atentas a uma possível nova realidade e como lidar com impactos financeiros e qualidade de produtos vendidos pela internet.
Em entrevista ao DOL, o empresário Matheus Campos, CEO da MTEC, empresa especializada em vendas de celulares e consertos de aparelhos digitais, contou que se preocupa em como as medidas anunciadas pela plataforma irão afetar economicamente na sua empresa, especialmente na opinião de seus clientes e no aumento de possíveis golpes.
“Além da forma com o que tudo é avaliado ficar bem prejudicada devido à falta de checagem automatizada de fatos de um modo geral, acredito que o grande prejuízo vai ser a perda de confiança das pessoas em lojas e serviços genuínos, haja vista que o número de golpistas com anúncios ativos e produtos falsificados vai aumentar muito”, preocupou-se Matheus.
Outro tema que ganhou destaque é o de a Meta ser retirada do ar no Brasil — algo que já ocorreu com plataformas como o TikTok nos EUA e o X (antigo Twitter) em setembro de 2024 no Brasil. Matheus ressalta como a presença online é crucial para as empresas atualmente. “Hoje em dia existe uma ‘lei’ no mundo empresarial que é: se você está fora da internet, você não existe. O prejuízo para empreendedores ficarem sem seus anúncios e sem suas redes sociais pode ser tão grande a ponto de empresas que vendem ou prestam serviços 100% online terem que fechar as portas”, afirmou, demonstrando o quanto as plataformas digitais deixaram de ser apenas uma opção e se tornaram fundamental para os negócios.
Embora as mudanças da Meta ainda não estejam em andamento no Brasil, Matheus acredita que elas podem ser implementadas no país. No entanto, ele reforça que o cenário pode ser diferente devido à legislação. “Eu acredito e torço para que todas essas previsões de regras sejam reanalisadas e ‘podadas’ em certos sentidos. O que manda no nosso país são as leis, então, se vierem a chegar aqui do jeito que estão prometendo, com certeza a Meta será derrubada no Brasil”, projeta o empresário.
Por isso, para Matheus, é preciso estar preparado de todas as formas, principalmente com o engajamento de outras plataformas, caso ocorra a suspenção da Meta no Brasil: “Acredito que já é o momento das empresas variarem seu marketing e presença digital em outras redes, inclusive os anúncios em TikTok e Google são ótimas opções e tem grande alcance”, concluiu.
A Meta e o mercado publicitário
O mercado publicitário e as marcas viram uma grande oportunidade em usar as redes sociais para divulgar serviços e produtos usando influenciadores digitais, sejam eles anônimos, famosos, memes ou virais, para garantir engajamento do público de seguidores cada vez mais disposto a compartilhar esses conteúdos. Sendo assim, as mudanças também impactam no trabalho de agências de comunicação que utilizam ativações digitais.
Érika Horiguchi, diretora de Marketing da Gamma Comunicação, destacou os desafios e as oportunidades que surgem em um cenário de maior instabilidade nas redes sociais. Para ela, a internet nunca esteve livre de informações falsas, e o consumidor sempre precisou agir com cuidado ao consumir e compartilhar conteúdo. Porém, o fim da moderação oficial coloca mais responsabilidade nas mãos dos usuários e das próprias empresas.
“Com o fim da checagem de fake news, as empresas precisam se aproximar ainda mais do público para garantir que informações sobre seus produtos sejam precisas e confiáveis. A responsabilidade recai sobre os consumidores e empresas em assegurar a veracidade das informações, isso já nos alerta a destacar ainda mais a importância da comunicação institucional para elevar a credibilidade das marcas perante seu público. As mudanças tem duas linhas de raciocínio, uma de que os moderadores poderiam agir de forma tendenciosa e a outra é de que agora, o público deverá agir de acordo com suas ideologias, então, as empresas devem incentivar seus clientes a compartilharem experiências reais de forma transparente”, afirmou Érika.
A publicitária também enfatizou que pequenas empresas podem ser as que mais sofrerão consequências caso as mudanças testadas fora do país sejam implementadas no mundo todo. “As grandes empresas têm mais facilidade para redistribuir recursos para canais alternativos. Já as pequenas, especialmente as que operam majoritariamente online, correm riscos significativos de prejuízo. Por isso, é fundamental que as marcas estejam preparadas para diversificar seus canais de comunicação”, explicou.
Segundo Érika, algumas empresas já estão explorando novos formatos, como podcasts e parcerias com influenciadores no YouTube e outras plataformas de vídeo, como o TikTok, para manter a conexão com seu público. Essas iniciativas mostram que, em meio às incertezas, investir em múltiplas frentes é essencial para garantir a resiliência das estratégias de comunicação.
Com o risco de queda de plataformas como Instagram, Facebook e WhatsApp no Brasil, o mercado publicitário está intensificando esforços para diversificar os canais de comunicação. Érika explica que agências vêm promovendo a criação de plataformas próprias para interação com o público, garantindo a consistência da comunicação mesmo em cenários de instabilidade.
“A diversificação de plataformas já é uma prática aplicada há algum tempo. Além disso, fortalecer a presença digital orgânica das empresas se tornou essencial para oferecer um porto seguro em meio à volatilidade das redes sociais”, destacou Érika.
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Como agir de forma legal?
A legislação brasileira exige um representante legal no país para que empresas internacionais continuem ativas para a população. Em setembro de 2024, o X (antigo Twitter), ficou algumas semans fora do ar após uma determinação do Ministro do Tribunal Superior Federal (STF) Alexandre de Moraes para que Elon Musk indicasse alguém que representasse a empresa no Brasil. Essa “queda” gerou prejuízos para o X e para alguns usuários da rede social.
Sobre as mudanças na Meta, a Advocacia Geral da União (AGU) exigiu um posicionamento da plataforma sobre as mudanças nas políticas de uso, obtendo a resposta de que as alterações seriam uma forma de “garantir maior espaço para a liberdade de expressão (...) e permitir um debate mais amplo e conversa sobre temas que são parte de discussões em voga na sociedade”, de acordo com nota enviada ao governo brasileiro.
De acordo com o Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014), há a determinação que plataformas não são responsáveis por conteúdos de terceiros, salvo descumprimento de ordem judicial para remoção de material ilícito. Porém, isso não significa que usiários não podem tomar medidas legais caso se sintam lesados pelas plataformas online, como as redes sociais.
Rafael Tupinambá Amin, advogado civilista, gestor e empreendedor jurídico há 25 anos em atividade, explicou que com o fim da checagem de fatos, alguns anúncios podem ser classificados como falsos, aumentando o prejuízo de empresas.
“Se um conteúdo de uma campanha for classificado como falso ou enganoso de forma equivocada, isso pode prejudicar a imagem da empresa, além de causar perdas financeiras. Um anúncio marcado como falso pode ser suspenso, e a conta da empresa, bloqueada. Isso pode configurar concorrência desleal, passível de indenização com base na Lei de Propriedade Industrial", alertou Tupinambá.
Caso as mudanças nas políticas da Meta causem prejuízos financeiros diretos às empresas, o advogado orienta algumas ações:
- Notificação extrajudicial: O primeiro passo é formalizar uma notificação à Meta, relatando os prejuízos sofridos. "Essa etapa é crucial para buscar uma resolução amigável e pode servir como prova em eventual processo judicial", diz o advogado.
- Ação indenizatória: Empresas podem recorrer à justiça para buscar reparação por perdas financeiras, desde que comprovem a relação entre as mudanças da plataforma e os danos sofridos.
- Ação coletiva: Grupos de empresas ou associações podem optar por uma ação coletiva, o que reduz custos e aumenta a força do pedido judicial.
Embora a saída da Meta do Brasil pareça improvável, Tupinambá aponta que o cenário seria catastrófico para empresas que dependem das plataformas para vendas e marketing. "As empresas perderiam acesso a milhões de usuários e precisariam migrar para outros canais, o que demandaria investimento, adaptação e tempo", afirmou. Do ponto de vista jurídico, a ausência da Meta dificultaria o acesso a reparações no Brasil. "Muitas vezes, os termos de uso estabelecem jurisdição internacional, o que complica e encarece ainda mais o processo de busca por indenização", completou.
Rafael disse ainda que a Meta costuma implementar suas políticas globalmente, o que torna provável que mudanças testadas nos Estados Unidos sejam aplicadas no Brasil. Para se protegerem, as empresas devem diversificar suas estratégias digitais e não depender exclusivamente de plataformas específicas.
"O ideal é manter registros detalhados de todas as atividades e buscar acompanhamento jurídico especializado, especialmente em direito digital ou empresarial", recomendou.
Em um cenário de mudanças constantes no ambiente digital, a atenção às novas regulamentações e o planejamento estratégico podem ser o diferencial para que empresas não sejam surpreendidas e consigam manter a segurança jurídica de suas operações.
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