Morreu nesta sexta-feira (26) o trombonista José Alberto Rodrigues Matos, o Zé da Velha, considerado um dos maiores nomes do choro do país, aos 84 anos. A informação foi confirmada à Folha pelo amigo e colaborador Silvério Pontes.
Segundo ele, o músico estava com a saúde deteriorada após sofrer uma queda na calçada de casa e passar por uma cirurgia na bacia. Ele não resistiu a uma infecção bacteriana.
O velório está marcado para as 10h15 de sábado (27), com o sepultamento às 12h15, no Cemitério de Inhaúma, zona norte do Rio de Janeiro.
Aos 18 anos, integrou o grupo regional de Pixinguinha. Os dois se tornaram muito amigos por morarem um próximo do outro, na zona norte do Rio. Pilar da música nacional, Pixinguinha influenciou diretamente Zé da Velha na forma de executar o trombone, tornando ele um discípulo do grande mestre.
O trombonista também tocou com outras referências do choro, incluindo Jacob do Bandolim, Benedito Lacerda, Waldir Azevedo, Altamiro Carrilho e Dino Sete Cordas.
Ele fazia parte da geração do choro que desenvolveu e revolucionou o gênero no século passado. Sua forma de tocar trombone, dando dimensão ao instrumento no choro, o fez tornar-se uma referência.
Zé da Velha fazia contracantos com o seu trombone -isto é, complementações à melodia original, valorizando a música com estilo e linguagem muito própria.
Nascido em Aracaju, em 1º de junho de 1941 -embora sua certidão apareça como nascido em 4 de abril de 1942--, aos oito anos se mudou com a família para o Rio de Janeiro.
Desenvolveu-se no trombone inicialmente com o pai, um alfaiate e músico amador de instrumentos de sopro, e depois numa pequena orquestra. Também fez aula a partir dos 16 anos com diversos professores de música.
Ele integrou no final dos anos 1950 o grupo Velha Guarda, liderado por Alcebíades Barcelos, o Bide, figura histórica do samba. Aliás, foi Bide quem apresentou Zé da Velha a Pixinguinha. O conjunto contava com figuras como João da Baiana.
Foi dessa relação com o grupo Velha Guarda que ganhou o apelido de Zé da Velha, aos 18 anos. Na época, ele tinha um emprego na companhia aérea Cruzeiro do Sul e também na Varig. Depois, trabalhou na Alitalia (atuou no setor de reservas), vindo a se aposentar pela empresa aérea italiana.
Em 1965, conheceu Jacob do Bandolim, outra lenda do choro, e passaram a tocar juntos. Na década de 1970, chegou a integrar alguns conjuntos musicais, como o Sambalândia, além de ser chamado para fazer gravações em discos, como o clássico "Chorando pelos Dedos" (1976), de Joel Nascimento. Formou em 1977 o grupo de choro Chapéu de Palha.
Em 1978 gravaria outra pérola do choro, o álbum "Chorando Baixinho: um Encontro Histórico", lançado no ano seguinte, com ele, Abel Ferreira (clarinete), Copinha (flauta), Joel Nascimento (bandolim), Dino Sete Cordas, César Faria e Carlinhos Leite (violões), Jonas (cavaquinho), Jorginho do Pandeiro e Arthur Moreira Lima (piano).
Zé da Velha também foi muito próximo do maestro, clarinetista e saxofonista Paulo Moura, inclusive tocando em diferentes álbuns do músico. O disco "Choro na Praça" (1977), com participação de ambos e mais Waldir Azevedo, Abel Ferreira, Copinha e Joel Nascimento, gravado ao vivo no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, é considerado outro registro antológico da música brasileira com a participação de Zé da Velha.
Em 1986 conheceu o trompetista Silvério Pontes. Anos depois, a dupla lançaria seis álbuns: "Só Gafieira" (1995), "Tudo Dança" (1998), Ele & Eu (2000), "Samba Instrumental" (2003), "Só Pixinguinha" (2006) e "Ouro e Prata" (2012).
Os álbuns com Zé da Velha no trombone e de Silvério Pontes no trompete são considerados registros importantes da música brasileira com instrumentos de sopro no aspecto estilístico, de interpretação e de improviso. O êxito do trabalho o fizeram ser chamados de "Menor Big Band do Mundo".
"Zé da Velha foi o elo da velha guarda com a música atual. Ele tem uma particularidade de tocar, servindo. Ele toca para a música. Um mestre", disse Silvério Pontes à Folha de S.Paulo.
Zé da Velha havia se afastado dos palcos há 7 anos. Durante a pandemia, teve uma queda que o levou a fazer uma cirurgia na bacia, comprometendo sua mobilidade. Passou também a sofrer de disfagia. Com internações frequentes, chegou a ter entre junho e julho de 2025 duas pneumonias.
Viveu a vida toda no bairro de Olaria, no Rio de Janeiro. O trombonista teve três filhos --Denise, Deise e Eduardo-- com Dona Lurdes, falecida há mais de uma década.
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