Shane Lee Lindstrom está encantado com o Brasil. Conhecido no universo da música pop e do trap como Murda Beatz, o noivo canadense de Anitta veio com a cantora para o país, onde se apaixonou pela comida, as paisagens do Rio de Janeiro, a atmosfera nos estádios de futebol e o nosso funk.
"É um país lindo", ele diz. "Ter a visão do Cristo Redentor foi incrível. A comida é maravilhosa, especialmente se você conseguir um chef para cozinhar comida caseira. Arroz e feijão com carne, o estrogonofe, é tudo muito bom."
Acostumado a ir a jogos do futebol jogado com a mão, o americano, Murda Beatz esteve no Allianz Parque, em São Paulo, para ver ao vivo o esporte praticado com os pés. "Assisti ao primeiro jogo de futebol da vida [do Palmeiras], e a atmosfera em uma partida dessas é louca, uma energia completamente maluca."
Apesar de manter uma carreira solo como produtor, Murda é mais conhecido pelas batidas e melodias que cria para músicas de outros cantores –e entre eles estão alguns dos mais ouvidos do planeta. É o caso de "Butterfly Effect", single de Travis Scott, de "Nice For What", hit de Drake com sample de Lauryn Hill que chegou ao topo da parada americana, "Motorsport", do trio de trap Migos com Cardi B e Nicki Minaj, e "Motive", de Ariana Grande com Doja Cat.
Recentemente, ele reuniu a noiva, Anitta, com Quavo –do Migos–, J Balvin e Pharrell na música "No Más", um trap viajante e ensolarado para embalar o verão no hemisfério norte. "O Pharrell me deu a ideia musical, com a flautinha", ele conta. "Era o sample de alguma coisa. Começou com Quavo, mas estava trabalhando com J Balvin em Los Angeles. Ele amou e entrou também. Depois, incluí minha garota, a Anitta."
Apesar de, no Brasil, ele ser conhecido como o namorado de uma das maiores estrelas pop do país, Murda Beatz tem uma carreira sólida no hip-hop americano. Hoje com 28 anos, o produtor trabalhou com Chief Keef, na então pungente cena de drill de Chicago, cerca de dez anos atrás, antes de conhecer o Migos e produzir as músicas de um dos grupos mais importantes na popularização do trap ao longo da última década.
"Posso chegar aqui e falar de um jeito que parece fácil", diz. "Mas você tem que se dedicar e trabalhar mais que todo mundo para dar certo. Na minha época, todo mundo postava seus beats na internet, mas ninguém ia até Chicago ou Atlanta encontrar as pessoas."
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Murda Beatz conta que era roqueiro e foi justamente no começo do trap que começou a se interessar por produção musical. "Quando ouvi Waka Flocka, Gucci Mane, Chief Keef, esses caras, comecei a querer fazer trap. Antes eu tocava bateria, coisas de rock, remixes no estilo do [baterista do Blink 182] Travis Barker para músicas de rap. Mas foi ouvindo o trap que quis pegar o laptop e começar a produzir."
Ele, inclusive, vê semelhanças entre o começo do trap, antes que o subgênero se tornasse dominante na música pop, e o funk brasileiro. "Se eu fosse explicar o funk a alguém que não sabe do que se trata acho que o melhor jeito de descrever é comparando com o trap quando ele era underground nos Estados Unidos, uns sete anos atrás. É literalmente a música do gueto do Brasil. Ainda que exista muita música mainstream com funk, tem batida de funk em tudo."
Para Murda Beatz, que faz de 500 a 800 beats por ano, dos quais a minoria chega ao ouvido do público, as experiências no Brasil servem para ampliar seu leque de influências. Ele conta que quer fazer músicas com o rapper L7nnon, do Rio, além de já ter trabalhado com o grupo paulistano de trap Recayd Mob e estar preparando outras colaborações com artistas brasileiros.
É um interesse que se deve em grande parte a Anitta, cuja música ele conheceu no game "Fifa". "Depois, a conheci no ano passado, em Miami. Trocamos telefones, continuamos conversando. Ela me mandou playlists de funk, e foi a primeira vez que ouvi. Algumas dessas músicas eu gostei muito, mandei mensagens aos produtores e tudo mais. Depois, eu e Anitta continuamos conversando."
Para ele, os americanos veem Anitta como uma artista em ascensão. "Ela está tendo um ano monstruoso, tem um grande hit, está fazendo muitos trabalhos. É a pessoa mais trabalhadora de todas que eu conheço, já estive perto ou já trabalhei em todos esses anos na música. Isso me inspira, me fez querer trabalhar."
O namorado da cantora também conta que, nos Estados Unidos, ela ainda não é reconhecida como no resto do mundo. "Ela é muito talentosa. Não acho que os americanos sabem o quão importante ela é para o mundo. Se estou em Portugal ou no Brasil com ela, vendo como as pessoas a tratam e olham para ela, acho que os Estados Unidos ainda não entendem o poder e a importância dela."
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