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TRADIÇÃO

Marujada: Bragança celebra São Benedito com fé e festa

Depois de dois anos de adaptação em decorrência da pandemia, a procissão pode voltar ao formato original, com os fiéis conduzindo e acompanhando a imagem do santo a pé, com destaque para marujos e marujas

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Imagem ilustrativa da notícia Marujada: Bragança celebra São Benedito com fé e festa camera São Benedito recebeu muitas homenagens | : Mauro Ângelo / Diário do Pará

O desfile de marujos e marujas pelas ruas de Bragança desde as primeiras horas da manhã de segunda-feira (26) anunciava a realização de mais uma Marujada, tradição que já perdura 224 anos como parte da programação da Festividade de São Benedito.

Depois de dois anos de adaptação em decorrência da pandemia da Covid-19, a procissão pode voltar ao formato original, com os fiéis conduzindo e acompanhando a imagem do ‘Santo Negro’ a pé. De acordo com a estimativa da organização da festividade, cerca de 100 mil pessoas participaram da caminhada.

Bragança, Pará, Brasil. Bola, Retranca: Marujada - . Gancho: . Local:  Bragança. Data: 26/12/2022. Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.
📷 Bragança, Pará, Brasil. Bola, Retranca: Marujada - . Gancho: . Local: Bragança. Data: 26/12/2022. Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará. |: Mauro Ângelo / Diário do Pará

No momento em que o andor com a imagem de São Benedito cruzou a porta de saída da Igreja que recebe o seu nome, em frente a Orla do Rio Caeté, a multidão o recebeu com palmas e fogos de artifício. Parte de uma programação intensa que se estendeu desde as 6h, a procissão tomou as ruas já por volta de 16h, após a tradicional louvação a São Benedito realizada pelas Comissões de Esmolações dentro da igreja. Durante o percurso de cerca de 6 km, não faltou emoção por parte de marujos, marujas e demais devotos que aguardaram, ansiosos, pelo reencontro.

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Com a própria imagem de São Benedito nos braços, o autônomo João Paulo Belém, 53 anos, não escondia a emoção por poder viver, mais uma vez, a experiência da Marujada. Ele lembra que o motivo que lhe levou a seguir a tradição vestido de marujo foi uma graça alcançada pela interseção do Santo.

“Há muito tempo eu participo, mas foi depois que eu recebi uma graça muito grande, eu decidi que ia sair como marujo e nunca mais parei”, lembrou, acompanhado por toda a família. “Esse ano eu estou pagando uma promessa pela vida do meu netinho Alyson André. Quando ele tinha menos de um ano de idade precisou operar do coração e eu prometi a São Benedito que se ele ficasse bom, eu ia trazer uma imagem bem bonita dele na procissão. O meu neto ficou bom, hoje está com 2 anos, e viemos agradecer agora que voltou a procissão. São Benedito é muito poderoso”.

Ana Regina Mendonça, 55 anos.
📷 Ana Regina Mendonça, 55 anos. |: Mauro Ângelo / Diário do Pará

O poder do ‘Santo Negro’ também é conhecido pela artesã Ana Regina Mendonça, 55 anos. Filha de Bragança, ela conta que ao longo de toda a vida vem recebendo graças pela interseção de São Benedito, seu santo de devoção. “Eu já vivi muitas experiências lindas com São Benedito. Mas uma que eu vim agradecer hoje é porque estou concluindo a minha faculdade de letras pela Universidade Federal do Pará (UFPA)”, contou.

“Eu parei de estudar com 17 anos de idade e por incentivo de um dos meus filhos eu decidi fazer o Enem com 52 anos. Na época perguntaram como que eu iria passar depois de ter ficado tanto tempo sem estudar, mas eu disse que eu ia conseguir porque São Benedito é um santo glorioso. Esse ano eu estou defendendo o meu TCC e não podia deixar de vir agradecer ao meu Santo Preto”.

É também a devoção a São Benedito que a dona de casa Rosângela do Rosário, 61 anos, deve a decisão de se tornar uma maruja, missão que ela assumiu há 14 anos. Ela lembra que não tinha o costume de participar da Marujada, mas em um ano recebeu o convite para receber em sua casa a imagem do santo e a reza que se desenrolou por toda a noite. A emoção sentida naquele momento fez com que ela criasse um vínculo tão forte com o santo que se mantém até hoje. “Eu não frequentava nada, mas eu senti uma emoção tão grande quando teve essa reza dele na minha casa que depois que ele saiu eu comecei a sair de maruja”, conta. “A gente passou dois anos sem fazer a nossa festa na rua, como a gente está acostumado, então é maravilhoso poder ter tudo isso de volta”.

O sentimento de gratidão pelo retorno da programação completa ficava evidente nos sorrisos e nas conversas de muitos marujos e marujas. Capitão da Marujada, José Maria Santiago da Silva, 66 anos, era um dos que se emocionava com a possibilidade de dançar e sair em caminhada pelas ruas, junto a São Benedito, por mais um ano.

“Há nove anos eu sou capitão eleito e desde os 12 anos eu sou marujo. Já são 54 anos de devoção a São Benedito e de participação dessa festa”, lembra. “Esse retorno da procissão na rua, com as pessoas caminhando, era esperada há muito tempo. Há dois anos que a gente não dançava, então, esse ano foi de aproveitar e fazer uma festa muito bonita para agradecer pela vida. Nós perdemos muitos amigos nessa pandemia, mas nós seguimos aqui dispostos a dar continuidade a essa tradição”.

Saindo da Igreja de São Benedito, a procissão seguiu pelas ruas de Bragança ao longo da tarde, até retornar para a igreja por volta de 19h. Ao final da procissão, uma Santa Missa foi celebrada e, em seguida, marujos e marujos dançaram novamente no Teatro Museu da Marujada. Às 23h, a festividade foi encerrada com a dança da Marujada, em círculo, em torno da igreja.

Presidente da Marujada, João Batista Pinheiro apontou que, após a programação do dia 26, a festividade faz uma pausa, mas retorna nos dias 31 de dezembro e 1º de janeiro. “No dia 1º ocorre a posse dos novos juízes da Marujada, que vão ficar a frente em 2023. A cada ano ocorre nova eleição para o juiz e a juíza”, explicou. “Aí a gente já começa a se preparar para o próximo ano e a emoção do povo é muita porque estávamos esperando por esse momento de reencontro”.

Programação

A programação em homenagem a São Benedito se estendeu ao longo de toda a segunda-feira (26). Ainda às 06h foi realizado o tradicional café da manhã na casa da Capitoa, dona Maria de Jesus Rosário Silveira. Em seguida foi realizado o Leilão da Festividade e o almoço oferecido pelo juiz da Festividade, Antônio Carlos Pereira Formigosa. Após o almoço, Marujos e Marujas dançaram em homenagem ao Santo e aguardaram o início da procissão, às 16h.

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