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Dilemas da fé: a Igreja também é lugar de pecadores

Um olhar diferente e entender que a Igreja também é um lugar de pecadores. Este é o assunto da coluna Outiside, escrita por Demax Silva, do podcast de mesmo nome, também publicado pelo DOL.

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Imagem ilustrativa da notícia Dilemas da fé: a Igreja também é lugar de pecadores camera DEMAX SILVA SARMENTO

Ao longo da minha peregrinação cristã, passei por algumas decepções, que me fizeram romper por várias vezes com a igreja. Primeiro foi a Igreja Católica, onde bem pequeno, fui batizado (não aceitava os dogmas e toda a liturgia, imposta pela Igreja Romana). Anos mais tarde, acabei rompendo também com a igreja protestante. Não conseguia entender toda aquela histeria, gritos, rodopios, campanhas da prosperidade e as distorções do Evangelho.

Mas nenhum rompimento foi tão significativo e traumático quanto o que ocorreu com a Igreja Evangélica. Quando adolescente, depois de não frequentar mais a Igreja Católica, passei a frequentar a protestante. Minha mãe fazia questão que, aos domingos, eu fosse para a escola bíblica dominical (uma espécie de aula onde, além de aprender sobre a Bíblia, aprendi também sobre as doutrinas cristãs). E foi somente em 2003, aos 22 anos, que me converti ao Evangelho de Cristo.

Mas foi em 2014 que passei pelo processo mais doloroso, depois de uma discussão sobre as doutrinas da igreja, me desliguei totalmente dela, e tive que passar a "caminhar sozinho".

Outro dia li o relato de um pastor americano que havia passado por um processo que ele chamou de "desconversão''. Esse pastor passou a vida toda servindo a sua comunidade local. Ele não faltava aos cultos durante a semana e ia para todas as reuniões e congressos… Sua vida era em prol da igreja.

Certo dia, esse pastor precisou faltar a um desses compromissos: sua filha menor, de 6 anos, iria se apresentar junto com sua turma, numa peça teatral organizada pela escola. No dia seguinte, foi duramente criticado pela liderança. Ele tentou se justificar, mas não teve jeito, acabou sendo suspenso de todas as suas atividades. Dias após a suspensão, o pastor relata que, em meio às suas orações, acabou tendo um "encontro" com Cristo, fazendo com que ele passasse a enxergar os desvios doutrinários e teológicos de sua comunidade, e com isso, acabou deixando sua igreja.

De acordo com o IBGE, em 2003 apenas 0,7% dos cristãos protestantes se diziam não frequentadores de templos. Em 2009 esse número já havia chegado a 2,9%. Um levantamento da revista IstoÉ, de agosto de 2017, a partir de dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), estimou que atualmente o número de "desigrejados" no Brasil supera a faixa dos 4 milhões de pessoas.

Mas qual o motivo para que as pessoas deixem de frequentar os templos? A resposta talvez esteja no mesmo motivo que levou o pastor americano a deixar sua comunidade: a insatisfação com os desvios teológicos. Além desse motivo, existem outros como escândalos políticos e financeiros.

Ao analisar a vida de Cristo, percebemos que Ele não instituiu uma denominação religiosa, nem foi responsável por estabelecer uma religião, sendo que, no início da igreja primitiva, os primeiros cristãos se reuniam em suas casas, e como igreja (pessoas) ajudavam uns aos outros, repassando os ensinamentos de Jesus. A estrutura dos templos, que já existiam antes de Cristo, foi incorporada ao Cristianismo (religião criada por Roma, após a conversão do imperador Constantino), através da igreja católica apostólica romana.

Em 2014, quando deixei de frequentar a igreja que me congregava, passei a ter uma outra visão a respeito do que era o Reino de Deus. Comecei a entender de uma forma mais ampla, como o Evangelho impactava de forma direta o meu cotidiano e das pessoas à minha volta, e sem as amarras da religião passei a ajudar outras pessoas que estavam passando pelo mesmo processo. E foi quando percebi que sozinho, não conseguiria alcançar outras pessoas "adoecidas" pela religião… Era necessário voltar.

Em 2013 o Papa Francisco afirmou: "A Igreja é santa, mas é feita de pecadores". Essa frase não poderia ser mais verdadeira, pois reflete a vida cristã e a vida das pessoas que estão dentro dos templos.

No passado, não conseguia entender que mesmo dentro da igreja, existiam pessoas doentes, gente escravizada pelas falsas doutrinas, por pensamentos errôneos a respeito do evangelho. Pois na minha visão, igreja era um lugar somente para pessoas "santas"... Hoje eu sei que não é bem assim.

No livro de Marcos (no novo testamento), Jesus diz: "os sãos não necessitam de médico, mas sim os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores." - Marcos 2:17

Esse texto nos mostra que mesmo dentro dos templos, existem pessoas adoecidas, pois o evangelho, que antes era ensinado em sua essência, foi diluído por uma falsa doutrina. Líderes religiosos se corromperam, a apostasia tomou conta das nossas igrejas. Campanhas da prosperidade, lenço ungido, extorsão por meio da fé, púlpitos que viraram verdadeiros palanques políticos… Não é atoa que estamos gerando pessoas doentes, doentes de coração e espírito.

É preciso ajudar os que estão doentes, pois igreja, também é lugar de pecadores.

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