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DIÁRIO CONTEMPORÂNEO

Alexandre Sequeira propõe diálogo entre as diferenças

Nessa mostra, estão questões que não partem da ideia de que o outro mereça ser silenciado ou aniquilado”.

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Imagem ilustrativa da notícia Alexandre Sequeira propõe diálogo entre as diferenças camera Curador convidado deste ano reviu obras da Coleção Diário Contemporâneo sob a perspectiva do tempo atual de ameaças à democracia e liberdade. | Irene Almeida/Diário do Pará

Na mostra “Desejos pessoais, pulsões coletivas – quando as imagens tomam posição”, em exibição no Museu Casa das Onze Janelas, como parte do 12º Diário Contemporâneo de Fotografia (DCF), as obras celebram o direito às diferenças e demarcam: é preciso agir frente às ameaças que se colocam aos direitos civis. O curador convidado Alexandre Sequeira destaca que se debruçou nos mais de 10 anos da iniciativa, para analisar a coleção de obras instituída em 2016 e que compõe um precioso acervo da produção artística nacional, e buscar novos nomes para dialogar com as imagens.

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Nesta entrevista, ele conta como foi inspirado pelo filósofo francês Georges Didi-Huberman, em sua publicação chamada “Quando as imagens tomam posição”, em que o autor relata a experiência do dramaturgo alemão Bertold Brecht, no período de exílio entre 1933 e 1955, no contexto da Segunda Guerra Mundial – e como isso influenciou esta edição do DCF.

P O tema das mostras deste ano tem claramente uma posição. É sobre gênero, raça, classe... temas oriundos das discussões sobre luta por direitos. Por que este ano se evidenciam de forma tão contundente estas abordagens?

R É preciso considerar que toda curadoria é um exercício, né? É um exercício de reunir diferentes falas, diferentes enunciados de natureza poética em torno de um eixo conceitual, em torno de uma ideia central. E a ideia central deste ano é olhar para a coleção do Diário Contemporâneo de Fotografia, construída ao longo dos 12 anos [do projeto], e quando a gente olha para uma obra, a gente tenta compreender a potência dela de se ressignificar ao longo da história. E, claro, quando eu olhei para a coleção, identifiquei diversas possibilidades de discussão e considerei, por tudo que a gente está vivendo, inclusive de ameaças de garantias constitucionais, esse momento tão triste, que seria muito importante ter uma coleção a serviço de algumas pautas que considero urgentes.

P E como foi essa seleção?

R Foi nítido perceber questões ambientais, questões ligadas a etnias ou raças, questões sociais. Selecionamos alguns trabalhos da coleção que se colocassem como indutores dessas questões para, a partir deles, reunir artistas convidados que pudessem se aproximar dessas obras da coleção, criar zonas de interseção, mas nem sempre apaziguantes, ora como zonas de atrito, ora de convergência, mostrando também esse papel da arte que é de um espaço de construção de ideia, a partir de diferentes pontos de vista, do reconhecimento como o território do contraditório. Então diferentes opiniões se colocando, se reunindo em torno de um grupo de imagens.

P São mais de 10 anos do Prêmio, e em 2016 foi instituída a Coleção. Como foi se debruçar nesse acervo para ter esse fio condutor no diálogo com os convidados?

R O desafio de olhar para uma coleção desse porte, claro que é enorme, mas acho que tomei como base o nosso momento: como pensar essa coleção hoje? Nos dias de hoje, com as questões que se colocam, como compreender a arte como esse instrumento que constrói sentidos, que convoca as pessoas a refletirem sobre determinadas questões? Tomei como referência uma publicação de Didi- Huberman [filósofo e historiador da arte francês] cujo título é “Quando as imagens tomam posição”. Nessa publicação, ele se debruça no trabalho desenvolvido por Bertolt Brecht [dramaturgo e poeta alemão] entre os anos de 1932 e 1955, um pouco o período que antecede a ascensão do nazismo, e Brecht, enquanto dramaturgo, com o olhar bastante crítico em relação às questões sociais e aos judeus, recua para a sua produção no campo do teatro, pega uns cadernos e começa a trabalhar com colagens de imagens, que ele colhe de diferentes procedências - da imprensa, de um livro, de um recorte artístico... e ele as coloca nos álbuns lado a lado, justamente para criarem zonas de tensão, de reflexão. Lembrei logo do trabalho do Brecht e das reflexões do Didi-Huberman para conduzir a curadoria.

P De fato, isto está bem delimitado na mostra da Casa das Onze Janelas, “Desejos pessoais, pulsões coletivas: quando as imagens tomam posição”...

R Sim, há uma intenção de se pensar também como esse trabalho é recebido e como ele reverbera no coletivo. Por isso, a seleção dos convidados se deu a partir de eixos temáticos, para dialogar com determinados trabalhos. E saí procurando pelo Brasil todo, a partir de prospecções que eu já havia feito ao longo dos meus anos de trabalho, diferentes falas. Eu achava importante, por exemplo, ter uma fala trans, ter uma fala negra, ter uma fala indígena... que por muito tempo se colocaram como sendo referidas por outro alguém. Na exposição [na Casa das Onze Janelas] o público também pode se colocar em relação a isso, compreendendo que toda obra, todo enunciado é parcial, parte de um determinado ponto de vista, de um determinado recorte... Do mesmo modo, quem aprecia também traz seu repertório, suas questões para se encontrar com aquela imagem.

P Por falar em público, qual a tua expectativa para a leitura dos visitantes?

R A ideia é também convidar, de certa forma estimular a população, não só paraense, a todos os visitantes, a compreenderem realmente isso como um bem simbólico que merece ser apropriado criticamente. O simples fato de uma obra encontrar com outra já propõe uma nova interface e assim, a coisa vai se desdobrando em possibilidades de interpretação, estudo, de análise.

P A gente percebe claramente que se fala de política nesta mostra, no sentido de ter uma posição política. Como essa postura se dá na arte?

R Viver é um ato político por si só. Às vezes, a gente tem um entendimento muito redutivo da palavra e o ato de fazer política perpassa as questões mais cotidianas, né? A política se estabelece no ambiente familiar, no trabalho, na rua, no tecido social, em todas as relações. De certa forma, a arte enquanto mapa afetivo e simbólico de uma sociedade, traz em si, ela reflete, ela ilumina determinadas linhas de força que estão postas no nosso convívio social. A arte tem um caráter de desafio, de inovação, de lançar luzes sobre o que está um pouco mais à frente. Então, nessa mostra, estão questões que não partem da ideia de que o outro mereça ser silenciado ou aniquilado, mas simplesmente de que o direito às diferenças coexistam.

No alto, obra “O Diabo no Corpo”, de Jorane Castro, que integra Coleção DCF.
📷 No alto, obra “O Diabo no Corpo”, de Jorane Castro, que integra Coleção DCF. |Reprodução

VISITE

Mostra “Desejos pessoais, pulsões coletivas - quando as imagens tomam posição”

Quando: Até 14/11, de terça a domingo, das 9h às 17h

Onde: Museu Casa das 11 Janelas (R. Siqueira Mendes, s/n - Cidade Velha)

Quanto: Entrada gratuitaàs terças e, aos domingos, 1kg de alimento não perecível por 4 ingressos. Demais dias: R$ 4, com gratuidade aestudantes, professores, pessoas com deficiência e crianças até 12 anos.

Mostra “Pulsões -diálogos com acoleção DCF”

Quando: Até 28/11,

de terça a sexta-feira, das 9h às 17h , finais de semana e feriados, das 9h às 13h

Onde: Museu da Universidade Federal do Pará-MUFPA (Av. Gov. José Malcher, 1192 - Nazaré - entrada pela Av. Generalíssimo Deodoro)

Quanto: Entrada gratuita

O DCF é uma realização do jornal DIÁRIO DO PARÁ e RBA com patrocínio da Alubar, Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), Sebrae-PA, apoio institucional do Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Cultura (Secult) e Sistema Integrado de Museus e Memoriais (SIMM), Museu da Universidade Federal do Pará (MUFPA), e colaboração da Sol Informática.

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