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DIA DO ÍNDIO

Cerâmica Koriabo é resgatada em livro 

Obra reúne peças localizadas em municípios paraenses como Almeirim e Monte Alegre

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Há alguns anos, Daniel Munduruku, um dos mais consagrados escritores indígenas brasileiros, aponta que o 19 de Abril não deveria ser adotado como o Dia do Índio, mas da Diversidade Indígena. Colaborando com esta ideia, o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e a Universidade de Leiden, na Holanda, acabam de lançar o livro “Koriabo, do mar do Caribe ao Rio Amazonas”, que apresenta este estilo de cerâmica produzida por povos indígenas que habitavam essas regiões pouco antes da invasão europeia.

Apesar da Koriabo ser um estilo de cerâmica já conhecida entre arqueólogos que atuam nesse território, apenas durante a primeira edição do “Workshop Internacional sobre Cerâmicas Arqueológicas da Amazônia”, realizado pelo MPEG, em 2014, reunindo esses profissionais para contarem das suas pesquisas, foi notada essa ampla dispersão. O que se tornou o tema da segunda edição do workshop, em 2017, e acabou levando à publicação do livro, com colaboração não só de arqueólogos, como antropólogos e linguistas.

A pesquisadora titular do MPEG Helena Pinto Lima, uma das editoras convidadas a colaborar com o projeto, conta que esse conjunto de cerâmicas aparece por volta do período pré-colonial tardio (a partir do século 11 ou 12) e segue em circulação até parte do período colonial. Os pesquisadores notaram, então, essa rede de interação entre os povos indígenas do Baixo Amazonas, das Guianas e do Caribe. “Trata-se da primeira visão geral sobre um importante estilo de cerâmica que, apesar de conhecido, ficou ignorado por muito tempo em várias regiões”, frisa.

A arqueóloga Cristiana Barreto, pesquisadora do Programa de Capacitação Institucional do Museu Goeldi e primeira editora do livro, destaca que a obra contribui para uma ideia de sociedades indígenas do passado bem mais complexas do que se tem no imaginário das pessoas. “Elas sempre imaginam povos indígenas vivendo em aldeias isoladas na floresta e esse livro mostra que, na verdade, esses povos já estavam integrados em redes, por onde passavam informação, produtos, mulheres ceramistas”, uma conexão que passa pelo Caribe, as Guianas, o Amapá, o norte do Pará, atravessa o rio Amazonas até o Xingu.

Cristiana co-organizou o trabalho com mais três arqueólogos: a já citada pesquisadora Helena Pinto Lima; Stéphen Rostain, do Centro Nacional de Pesquisa Científica, na França; e Corinne Hofman, do Departamento de Arqueologia da Universidade de Leiden. Ela conta que o grupo segue com suas pesquisas e debates. “Logicamente que essas redes (indígenas) todas foram impactadas com a colonização, até porque muitos desses povos foram dizimados ou deslocados de seus territórios originais. A principal contribuição deste livro é mostrar que no passado esses povos já eram globalizados”.

ATUAL

O livro contribui ainda para que a cerâmica Koriabo “siga o mesmo caminho das conhecidas cerâmicas Marajoara, Tapajônica, Maracá ou Aristé que vêm constituindo referências importantes para os repertórios de artesanato e design do Pará e do Amapá, transformando-se em verdadeiros símbolos de identidades regionais amazônicas”, apontam os pesquisadores em sua obra.

No livro há, por exemplo, fragmentos de cerâmicas localizados no município paraense de Monte Alegre, e vasos cerimoniais encontrados em Almeirim, também no Pará. Helena aponta que essas referências já estão entrando no repertório das comunidades contemporâneas. “O que a cerâmica Koriabo traz é mais uma mostra da grande diversidade dos povos indígenas da Amazônia pré-colonial. E isso está entrando no repertório, tanto dos ceramistas de Icoaraci, como em Gurupá, na região da foz do Xingu, onde ela já passa a fazer parte das conversas que acontecem por lá. Então não entra só no repertório dos arqueólogos da Amazônia, mas também das comunidades que vivem nessa região hoje”, celebra Helena.

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Com 16 capítulos, assinados por 32 autores e co-autores, “Koriabo, do mar do Caribe ao Rio Amazonas” apresenta um panorama inicial sobre esta cerâmica e os problemas colocados pela amplitude da sua distribuição geográfica, sua variabilidade contextual e uma surpreendente consistência estilística. O livro de 376 páginas se divide em três partes: “Koriabo no Caribe e Guianas”; “Koriabo no Baixo Amazonas” e “Cerâmica, identidade cultural e território”. As versões impressas estão sendo distribuídas para bibliotecas e instituições públicas, mas o leitor pode baixar a versão digital gratuitamente no site do Museu Goeldi.

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