Reposicionar o imaginário da mulher negra, das mulheres não brancas, e das relações sociais que as perpassam, a partir de um trabalho para sua repolitização através da cultura. Essa é a proposta principal do projeto “Re(Orí)entar – Novas Imaginários”, que entre os dias 25 e 27 de novembro, propõe um curso on-line e gratuito, voltado para profissionais não brancas do setor cultural e da economia criativa, ou para quem deseja se profissionalizar, com encontros ao vivo pelo YouTube.
A perspectiva é provocar uma reflexão sobre como organizar, estruturar e planejar uma carreira artístico-cultural, e falar da importância do planejamento estratégico para isso, entendendo conceitos como posicionamento, valores e possíveis formas de compartilhar subjetividades raciais para o público e clientes.
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“O curso se destina a artistas ou produtores não-brancas, periféricas e LGBTQIA+. A ideia e o público alvo do curso surgiram pensando de forma a compartilhar conhecimentos sobre planejamento de carreiras artísticas com artistas e agentes da cultura que são historicamente invisibilizadas, seja por cor, gênero, classe ou território”, explica Raiany Fernandes, diretora de planejamento da Iyabá, uma agência de gestão, de comunicação e comunidade de conteúdo criativo de suporte para mulheres criativas não brancas, que promove a programação. Ela ministra o curso ao lado das produtoras MartaCarvalho e Michelle Serra.
“O conteúdo do curso busca auxiliar essa artista e/ou produtora a estruturar sua carreira de forma estratégica para que sua mensagem possa ser melhor disseminada e consiga alcançar mais pessoas, além de fazer uso de suas vivências e referências para comunicar para sua comunidade a sua história, sua cultura e sua jornada, em paralelo a sua arte”, completa Raiany, ela mesma produtora cultural e realizadora, pós-graduada em Cultura, Educação e Relações Étnico-Raciais pela Universidade de São Paulo.
E esse tem sido o papel da Iyabá, de fazer uma escuta ativa nas experiências das mulheres não brancas, “a partir de seus desejos de transformação focados no mercado em que elas querem se inserir”, lembra Marta Carvalho, diretora de produção da agência. Vinda da periferia do Distrito Federal, ela atua há mais de 30 anos no mercado da cultura como atriz e produtora cultural, e é considerada uma das mulheres negras mais influentes neste campo hoje no Brasil.
“O curso traz essa abordagem de seu real desejo, de suas narrativas e de suas construções. Esse legado é de extrema importância para pensarmos modelos de negócios, planejamento, comunicação e metas para esse caminho ser mais leve e fluído”, completa a produtora.
Para Marta, estar atenta às oportunidades, às tendências, aos insights dessa produção cultural é fundamental. “A situação atual nos fez rapidamente prestar atenção e aprender novos espaços e tecnologias para nos manter no mercado. Poder ter à mão e acessar conteúdos que estão on-line para todes é um dos grandes ganhos desse momento pandêmico que vivemos. Em nosso curso, entramos nas áreas de planejamento e comunicação que são os pilares mais importantes para estar atuante no mercado e que acreditamos ser uma ótima forma de estar em contato, repassando saberes e trocas fluidas com mulheres de todo o Brasil.”
Tempo de contar as próprias histórias sem porta-vozes
Para Raiany Fernandes, o foco do trabalho em busca desse empoderamento das mulheres não negras tem muitas razões de ser. São elas que a produtora enxerga como vetores para romper as estruturas do racismo estrutural que se reflete em desigualdades no país, e que começamos a encarar com menos disfarces. “A consciência do racismo estrutural e estruturante que mantém a sociedade brasileira é um passo entre vários que precisam ser dados para que possamos criar uma sociedade igualitária. Vemos o papel da mulher não branca, e seu lugar na construção social desses povos não brancos, como determinante para que possamos avançar nessa construção”, diz.
“Contudo, o racismo estrutural precisa ser discutido pela população branca, afinal o racismo não foi criado por nós, sofremos com ele. A população branca brasileira precisa tomar consciência do seu privilégio estrutural em todas as suas formas e trazer essa discussão para a mesa em todos os espaços possíveis. Os movimentos sociais partem do lugar de entender que passou da hora de estarmos no centro das decisões sobre a nossa vida, de contarmos nossas histórias da nossa perspectiva e não como no lugar do outro, como sempre fomos retratados. Vem do lugar de exigir oportunidades reais, de ser reconhecido como presença e não somente de representação. Neste momento, exigimos que nossas histórias sejam escutadas, e não somente representadas ounos apresentadas”, define.
Daí vem o jogo de palavras escolhido para batizar o curso, que refere a “Orí”, palavra da língua yoruba. “Para reposicionar o imaginário das mulheres negras e das relações sociais que as perpassam, é imprescindível fazer um grande trabalho de repolitização dessas mulheres através da cultura afro-brasileira e do conceito do orí, que diz respeito à essência divina de cada ser. Assim essa mulher desperta a (ori) potência dela, se torna dona da própria história e a conta. Ela desperta uma (ori) presença e se posiciona como a Iyabá [nome que refere às orixás femininas] que ela é”,explica Raiany Fernandes
PARTICIPE
Re(orí)entar - Novos Imaginários
Curso Novas Formas: Planejamento de Carreira para Artistas
Quando: 25, 26 e 27 de novembro, de 19h às 20h
Onde: YouTube Iyabá Agência
Inscrições: www.iyaba.com.br/reorientar
Quanto: Gratuito
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