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A CONTA CHEGOU

Surto de sarna pode ter ligação com uso do "kit covid"

Consumo de antiparasitário aumentou quase dez vezes no Brasil, pois pessoas acreditaram que curava covid-19

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Imagem ilustrativa da notícia Surto de sarna pode ter ligação com uso do "kit covid" camera Uso indiscriminado da ivermectina pode ser responsável por surto de sarna | Reprodução

Desde o início da pandemia, uma enxurrada de fake news e até o próprio governo brasileiro orientaram a população para utilizar os mais diversos remédios para covid-19. O movimento a favor de antiparasitários contra covid-19 tomou conta das redes sociais, principalmente dos aplicativos de mensagens. E milhões acreditaram, consumindo drogas como azitromicina, ivermectina e outros. Agora a conta parece estar chegando.

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Um trabalho publicado pelo Núcleo de Estudos em Farmacoterapia (NEF) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) pode servir de base para ajudar na investigação de um surto de sarna humana que está atingindo diversas cidades brasileiras. A hipótese levantada pelos pesquisadores é que os casos estejam associados ao uso indiscriminado de ivermectina, medicamento que se popularizou no Brasil com o chamado “kit covid”.

O artigo publicado em agosto deste ano foi elaborado pelos pesquisadores do Instituto de Ciências Farmacêuticas (ICF), Alfredo Oliveira-Filho e Sabrina Neves, e pelos estudantes Lucas Bezerra e Natália Alves, a partir da observação de casos de resistência à ivermectina já relatados, surtos isolados e os dados de aumento de consumo do medicamento devido à pandemia de Covid-19.

“O nosso artigo lança a hipótese de que poderíamos ter problemas com surtos de escabiose resistente, por conta do uso irracional da ivermectina. O surto está configurado, pois, está havendo um aumento rápido de casos de lesões de pele com coceira e outros sintomas”, contextualiza Sabrina em comunicado divulgado no site da universidade.

“Ainda não há diagnóstico da doença que está causando o surto. Algumas hipóteses da etiologia [origem] estão sendo testadas, entre elas está a levantada pelo artigo”, ressalta.

A pesquisadora explica que ainda são necessários alguns testes e o descarte de outras hipóteses para então confirmar a hipótese apresentada no artigo.

O trabalho, assinado por Alfredo Oliveira-Filho, Lucas Bezerra, Natália Alves e Sabrina Neves, aponta que, após o início da pandemia causada pelo SARS-CoV-2, “a ivermectina foi identificada como um fármaco com potencial antiviral para tratamento de pacientes – a princípio hospitalizados e depois ambulatoriais – com Covid-19”.

Por causa disso, o consumo desse antiparasitário aumentou quase dez vezes no Brasil. Mesmo com pareceres do Ministério da Saúde e da indústria farmacêutica, somados a evidências científicas, a prescrição e automedicação baseada neste medicamento continuaram a acontecer.

“O uso irracional de medicamentos é um problema de saúde pública, porém, no caso de antibióticos, antiparasitários e antifúngicos, esse problema ganha proporções maiores. Quando utilizamos de forma irracional, ou incorreta, medicamentos, como a ivermectina, corremos o risco de induzir a resistência do parasita ao medicamento que deveria tratar a doença causada por ele”, reforça a professora Sabrina.

E, assim como antecipou o risco de aumento da resistência do Sarcoptes scabiei à ivermectina, ela deixa mais uma reflexão: “Esse é um problema mundial, principalmente no que diz respeito à resistência bacteriana, que é um problema sério, uma vez que já temos várias cepas de bactérias resistentes a antibióticos no mundo todo. Ou seja, nesse caso, o uso irracional do medicamento leva a um problema geral, pois gera cepas resistentes a tratamento, que podem infectar qualquer pessoa”.

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